*Por Higor Lambach
Para além dos mega-shows, em Copacabana, o Rio de Janeiro se consolidou como o principal polo de tecnologia e inovação da América Latina ao sediar a terceira edição do Web Summit Rio, no fim de abril. Com 34 mil participantes, um crescimento de 40% em relação ao ano anterior, 1.400 startups de 90 países, 657 investidores e 600 palestrantes, o evento não apenas quebrou recordes, mas também garantiu sua permanência na capital fluminense até 2030.
Para o cofundador do Web Summit, Paddy Cosgrave, o evento evidencia o protagonismo brasileiro no cenário de inovação. “O Brasil está definitivamente no radar global. O que vimos aqui foi a confirmação de que o país tem tudo para ser um player relevante na próxima década”, projeta.
De acordo com estimativas da ABStartups, a presença contínua do Web Summit no Brasil pode atrair mais de US$ 2 bilhões em investimentos para startups até 2026 e gerar 50 mil empregos em tecnologia apenas na região Sudeste.
Rio AI City: o novo hub de IA da América Latina
Durante a abertura do evento, o prefeito Eduardo Paes anunciou o ambicioso projeto Rio AI City, que transformará a cidade no maior hub de data centers da América Latina e um dos dez maiores do mundo.
Previsto para ser instalado na área do Parque Olímpico, o campus terá capacidade inicial de 1,8 gigawatts até 2027, com expansão para 3 gigawatts até 2032, abastecido exclusivamente por energia limpa e com fornecimento abundante de água.
“Será uma infraestrutura inédita, desenhada para redefinir os padrões globais de tecnologia sustentável”, afirmou Paes. “Queremos impulsionar a revolução da inteligência artificial e garantir que ela sirva bem ao público.”
IA não é mágica: Nvidia alerta para desafios na adoção
Em painel no segundo dia do evento, Márcio Aguiar, diretor da divisão Enterprise da Nvidia para América Latina, destacou que a implementação eficaz da inteligência artificial (IA) não pode ser imediatista. “Não basta contratar uma plataforma e esperar milagres”, disse. “É necessário pré-treinar dados, validar modelos e escalar a capacidade computacional.”
Aguiar ressaltou que a infraestrutura tecnológica e a transformação cultural são pilares essenciais para o sucesso de soluções baseadas em IA. “A demanda por computação está apenas começando. A adoção da IA exige mudança de mentalidade e uma cultura corporativa voltada para experimentação e aprendizado contínuo.”
Do hype à prática: o uso real da IA no ambiente corporativo
Na mesma linha, Alessio Alionço, CEO do Pipefy, destacou a rápida evolução da inteligência artificial e sua subestimação pelo mercado. Em suas participações, Alionço enfatizou que muitas empresas ainda veem a IA apenas como uma ferramenta de apoio, quando, na realidade, ela está se tornando protagonista em diversas áreas.
“O maior risco é a estagnação das empresas que não souberem utilizá-la de forma estratégica”, alertou ele, que também abordou a transformação do mercado de SaaS diante das inovações em IA.
Alionço observou que a experiência do usuário está se tornando mais fluida e personalizada, com assistentes inteligentes capazes de aprender com os próprios usuários e sugerir melhorias automaticamente. Para ele, a IA generativa não eliminará o software tradicional, mas o transformará em algo mais intuitivo e adaptável, ampliando a produtividade e a inteligência estratégica dentro das organizações.
Cultura, regulação e tendências
Ao longo dos quatro dias de evento, lideranças de empresas como IBM, Shein, Nvidia e OpenAI dividiram o palco com nomes brasileiros de peso. O influenciador Felipe Neto participou de três painéis sobre sua trajetória e o combate à desinformação. O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso, também esteve presente e trouxe à tona os desafios da regulação das redes sociais.
Em painel do TikTok, Ivete Sangalo discutiu os elementos virais da rede ao lado de Gabriela Comazzetto, executiva da plataforma. A atriz Giovanna Antonelli surpreendeu ao revelar sua jornada como investidora e empreendedora.
Além da atuação, Antonelli diversificou sua carreira com empreendimentos como uma rede de estética a laser, uma linha de esmaltes e uma plataforma digital voltada para o empoderamento feminino. Ela ressaltou que sua influência vai além das redes sociais, sendo construída ao longo de anos de trabalho e dedicação. “Sou uma mulher que aprendeu a usar as redes sociais para entregar, criar e ampliar sua mensagem e seu propósito”, afirmou.
Ganharam vez tendências como a IA Generativa para criação de medicamentos, softwares autônomos e protótipos 3D; tecnologias verdes: crescimento de soluções com hidrogênio limpo e créditos de carbono; Web3 regulamentada: avanço da legislação sobre criptoativos e blockchain com uso real em governos e empresas; e trabalho remoto 3.0: uso de metaverso e IA para colaboração entre equipes globais.
Destaque para saúde digital personalizada com a integração de biotecnologia, IA e dispositivos vestíveis. Entre os cases brasileiros, o destaque foi o aplicativo Modera SP, desenvolvido pela Prefeitura de São Paulo em parceria com a USP. A plataforma utiliza o questionário AUDIT, validado pela OMS, para identificar padrões nocivos de consumo de álcool e sugerir intervenções personalizadas. A solução já impactou mais de 63 mil pessoas e capacitou 2.500 profissionais de saúde em 479 unidades básicas de saúde (UBSs).
- *Higor Lambach é cofundador da Futuro Co., consultoria de growth innovation & wellbeing
Fonte: Exame