Em dezembro, o então presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), foi homenageado por parlamentares de amplo espectro político pela gestão de quatro anos à frente da Casa. Na ocasião, disse que voltaria feliz para o “chão da fábrica”. O argumento era que se sentia bem sendo apenas “mais um” deputado.
Quase sete meses depois, a metáfora envelheceu mal. Lira continua a dar cartas junto a integrantes do governo, aconselha seu sucessor, Hugo Motta (Republicanos-PB), e dita a posição de parte considerável dos colegas em temas importantes.

Bolsonaro será interrogado por Moraes nesta semana; confira os detalhes
São 8 o número de investigados que ficarão frente a frente com o relator; ex-presidente disse que ‘não vai lacrar’

Motta diz que reunião no domingo é chance para governo apresentar alternativas ao IOF
Presidente da Câmara critica alta do imposto, pede soluções de curto e longo prazo e diz que Congresso deve ter coragem para enfrentar agenda de responsabilidade fiscal
Em Alagoas, seu reduto eleitoral, contudo, a realidade é diferente. O deputado passa por dificuldades para articular com aliados e garantir a tão sonhada vaga ao Senado. Nos últimos meses, o prefeito de Maceió, João Henrique Caldas (PL), de quem Lira é amigo, ensaiou uma aproximação com o principal adversário do deputado no estado, o senador Renan Calheiros (MDB-AL). O fato político pode ameaçar a composição de um palanque competitivo em 2026.
Enquanto tenta resolver problemas “em casa”, Lira segue participando dos rumos da Câmara. Além de relatar o projeto que cria novas bases para desconto no Imposto de Renda, o parlamentar foi decisivo em vários momentos, segundo líderes, por estar próximo de Motta. Na Casa, ele está longe de ser um personagem do chamado “baixo clero”, pois mantém o status, segundo aliados, de uma pessoa que “dá ordens”.
Procurados, Lira e Motta não quiseram se manifestar. Apesar de citar sempre a autonomia de Motta, Lira ainda faz sombra. Um exemplo disso ocorreu no mês passado, quando o atual presidente da Câmara pautou um requerimento que suspendeu parte do processo que corre no Supremo Tribunal Federal (STF) contra o deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ) por participação na trama golpista.
Insegurança em Alagoas
Em meio às pressões de deputados para que Motta defendesse o Parlamento, Lira teria dito ao seu sucessor que um presidente da Câmara deveria conviver entre interesses governistas e também da oposição, mas sem esquecer da defesa da Casa, como informou o colunista Lauro Jardim.
Quando a Primeira Turma da Corte invalidou parte da decisão dos deputados, mais uma vez Lira interveio junto a Motta e pediu um posicionamento firme. Lira tem alertado Motta, segundo aliados, que o projeto de anistia aos condenados pelos ataques do 8 de janeiro não pode ser uma “bola quicando” e precisa ter um texto intermediário o quanto antes, para frear as pressões da oposição.
Em Alagoas, Lira tenta superar as dificuldades. JHC, reeleito para a prefeitura de Maceió no primeiro turno nas eleições do ano passado, abriu mão de ter um vice indicado por Lira. Com boa aprovação na capital, o prefeito temia ficar “preso” à cadeira caso compusesse com um indicado pelo então presidente da Câmara.
Mesmo sem fazer a indicação, Lira o apoiou na campanha vitoriosa de Maceió, na esperança de receber em troca o apoio para o Senado no ano que vem. Nos planos de Lira, JHC seria candidato ao governo ou se manteria no posto.
Com a proximidade de JHC com Renan, o que se desenha hoje é outro panorama, no qual o prefeito de Maceió pode apoiar a candidatura do ministro dos Transportes, Renan Filho (MDB), ao governo, e se lançar ao Senado numa dobradinha com o patriarca dos Calheiros.
Lira, neste caso, teria dificuldade de mobilizar apoios, já que os emedebistas mantêm o controle de 69 dos 102 municípios alagoanos.
Sinais de alinhamento de JHC com os Calheiros elevaram a tensão com Lira. Durante a cerimônia de entrega das obras de pavimentação da BR-416, em março, Renan Filho enumerou os feitos por Alagoas ao lado da senadora Eudócia Caldas, mãe do prefeito. O ministro agradeceu publicamente pela colaboração do Executivo municipal.
A indicação da tia de JHC para o Superior Tribunal de Justiça (STJ), a procuradora Marluce Caldas, também agravou a situação. O prefeito de Maceió esperava que Lira assumisse a frente das negociações junto ao governo federal, em outubro do ano passado, quando ainda ocupava a presidência da Câmara, o que não aconteceu.
Aliados exonerados
Diante disso, aliados de Lira em secretarias de Maceió foram exonerados nas últimas semanas. Procurado, JHC não se manifestou.
De olho na aliança com JHC, Renan Calheiros faz coro pela indicação de Marluce Caldas para o STJ e descarta uma composição com Lira.
— Nós descartamos uma aproximação, uma composição com Lira. Quanto ao JHC, ele venceu uma eleição no primeiro turno, eu o ajudarei no que precisar. Entre ele e Arthur Lira, eu escolherei uma proximidade com o prefeito mil vezes, sempre. Mas, no momento, não há nada fechado. Eu apoio a Marluce para o STJ por uma questão paralela, ela é uma mulher de Alagoas. Eu a apoio — afirma.
Em meio às articulações de Lira e Calheiros, JHC ainda pode trocar o PL, partido de Jair Bolsonaro, pelo qual se reelegeu, pelo PSB nos próximos meses, o que o aproximaria ainda mais da base governista e da família Calheiros.
The post Com prestígio na Câmara, Lira articula ida ao Senado e tenta driblar adversário appeared first on InfoMoney.
Fonte: InfoMoney