Há um ano no comando da Mercer, consultoria global de recursos humanos e benefícios que pertence ao grupo Marsh McLennan, o CEO global Pat Tomlinson tem uma missão clara de ajudar empresas a equilibrarem: resultados com bem-estar, planejamento de longo prazo com entregas imediatas e inovação tecnológica com desenvolvimento humano.
No centro das discussões atuais, Tomlinson destaca 2 habilidades que um líder tem que ter para se destacar no atual mercado de trabalho: resiliência e equilíbrio.
“Hoje, os líderes precisam ser resilientes para lidar com a ambiguidade e mudanças rápidas, afinal, nem tudo sai como planejado”, conta.
O CEO também afirma que o líder precisa ter capacidade de equilibrar as demandas do agora com as necessidades do futuro. “Equilibrar urgência e planejamento é uma habilidade essencial hoje”, afirma.
Em entrevista exclusiva à EXAME, Tomlinson fala sobre os desafios da liderança, a importância da IA nas empresas e o futuro do trabalho.
Como cuidar de pessoas sem abrir mão de resultados
Planos de benefícios mais robustos e programas de educação financeira e emocional ajudam a criar times mais engajados, com menos estresse e mais capacidade de entrega, afirma o CEO.
“Quando a empresa cuida da saúde física, mental e financeira de seus profissionais, ela está, na verdade, investindo na produtividade”, afirma o CEO. “É fato que quando as pessoas se sentem seguras, saudáveis e confiantes, elas entregam mais.”
Neste cenário, o papel de um líder é fundamental para um funcionário ser mais produtivo e saudável.
“É importante que os líderes saibam equilibrar resultados com o desenvolvimento dos times. É preciso saber quando exigir mais e quando apoiar”, afirma. “É papel do líder se importar genuinamente com o bem-estar e o progresso do time.”
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O desafio das 5 gerações
Atualmente, o mercado de trabalho já conta com cinco gerações (baby boomers, geração X, Y, Z e Alpha) e, segundo Tomlinson, os empregadores precisam pensar de forma criativa e com uma mentalidade diferente sobre como engajar todos esses perfis.
“Os profissionais mais velhos estão representando uma parte maior da força de trabalho. Eles estão se aposentando mais tarde e trabalhando por mais tempo. Por isso, é importante que as empresas ofereçam flexibilidade, caso queiram manter esses profissionais engajados”, afirma o CEO global da Mercer.
Ao mesmo tempo, também é preciso pensar que os mais jovens buscam outro tipo de flexibilidade no trabalho, diz o executivo.
“Não será igual para todos — um profissional no início da carreira tem necessidades diferentes de alguém nos últimos cinco ou dez anos de jornada profissional. É preciso haver equilíbrio”, afirma.
IA não é o futuro — é o agora
Na Mercer, a inteligência artificial já é usada internamente para apoiar análises complexas e acelerar entregas com segurança. Para lidar com dados sensíveis, a empresa desenvolveu uma ferramenta interna pela Marsh McLennan que permite usar um modelo de linguagem grande (LLM) de forma segura.
“Não podemos usar algo como o ChatGPT, pois as informações poderiam ir para domínio público — e lidamos com dados altamente confidenciais, como salários, benefícios e dados de saúde dos funcionários dos nossos clientes”, diz. “Por isso, usamos IA de maneira protegida, sem expor dados, para incorporar nos nossos processos analíticos.”
A ferramenta da Mercer já identificou mais de 50 áreas em que a IA pode ser aplicada. “Sempre com o objetivo de que pessoas e tecnologia trabalhem juntas”, diz.
Tomlinson mora nos Estados Unidos, país onde muitas tendências do mercado de trabalho costumam surgir, e para ele, o papel da IA é clara: não irá substituir o trabalho humano, mas sim mudar a forma como ele é feito.
“Temos ajudado empresas a usar IA para transformar o trabalho e redefinir cargos, afinal, quando a automação entra, ela transforma as atividades”, afirma.
“Flexibilidade não é sinônimo de home office”
Ainda há confusão entre os termos “trabalho flexível” e “remoto”, afirma Tomlinson.
“Flexibilidade não é só home office. É sobre permitir algum controle sobre como o trabalho é feito”, afirma. “As empresas que oferecem isso saem na frente na retenção.”
Ele reconhece que o modelo híbrido exige mais planejamento das empresas, especialmente no que diz respeito ao desenvolvimento profissional.
“Boa parte da aprendizagem no trabalho acontece por observação e convivência com os colegas de trabalho. Se o time não estiver junto com frequência, as lideranças terão de encontrar maneiras novas de garantir esse aprendizado”, diz. “O maior desafio é equilibrar flexibilidade com desenvolvimento.”
Um conselho para os líderes do futuro
Para os próximos anos, Tomlinson aposta em um cenário com mais automação, maior valorização da capacidade de adaptação e integração entre humanos e tecnologia.
“Os profissionais precisam ser resilientes e estar abertos a mudanças. O trabalho vai mudar — isso não significa que seus empregos serão substituídos, mas quem estiver preparado para evoluir junto com a tecnologia sairá na frente.”
Para executivos em posição de liderança, Tomlinson deixa um conselho: planeje com visão de longo prazo, sem ignorar as transformações em curso.
“Mesmo líderes consolidados precisam se reinventar e prestar atenção no mercado. Tenham uma visão de longo prazo sobre o que seus clientes vão precisar, entenda o ambiente macroeconômico e os novos concorrentes, inclusive startups tecnológicas, e envolvam os funcionários nesse plano.”
Fonte: Exame