Home / Saúde / Cobertura vacinal infantil estagna nas últimas décadas no mundo, diz estudo

Cobertura vacinal infantil estagna nas últimas décadas no mundo, diz estudo

As taxas de vacinação infantil estagnaram nas últimas duas décadas, principalmente devido à pandemia da Covid-19, deixando milhões de crianças vulneráveis a doenças que poderiam ser evitadas e ao risco de morte. É o que aponta um novo estudo publicado nesta terça-feira (24) no The Lancet.

Apesar do progresso na vacinação infantil nos últimos 50 anos, desde 2010 a cobertura vacinal estagnou ou diminuiu em muitos países. A taxa de imunização contra o sarampo, por exemplo, diminuiu em 100 dos 204 países entre 2010 e 2019, enquanto 21 dos 36 países de alta renda experimentaram declínios na cobertura de, pelo menos, uma dose de vacina contra difteria, tétano, coqueluche, sarampo, poliomielite ou tuberculose.

A pandemia de Covid-19 exacerbou ainda mais os desafios à cobertura vacinal infantil. Em 2023, estima-se que 15,7 milhões de crianças não receberam doses da vacina contra difteria, tétano e coqueluche no primeiro ano de vida, com mais da metade vivendo em apenas oito países, principalmente na África Subsaariana (53%) e no Sul da Ásia (13%).

“Apesar dos esforços monumentais dos últimos 50 anos, o progresso está longe de ser universal. Um grande número de crianças permanece sub e não vacinado”, afirma autor sênior do estudo, Jonathan Mosser, do Instituto de Métricas e Avaliação de Saúde (IHME), da Universidade de Washington, EUA, em comunicado.

“As vacinações infantis de rotina estão entre as intervenções de saúde pública mais poderosas e econômicas disponíveis, mas as desigualdades globais persistentes, os desafios da pandemia de Covid e o crescimento da desinformação e hesitação das vacinas contribuíram para o progresso vacilante da imunização”, analisa.

Segundo o autor, essas tendências aumentam o risco de surtos de doenças evitáveis por vacinação, incluindo sarampo, poliomielite e difteria, ressaltando a necessidade crítica de melhorias direcionadas para garantir que todas as crianças possam se beneficiar das vacinas.

Efeitos da pandemia da Covid-19 ainda perduram

A pandemia de Covid-19 tornou o aumento da cobertura vacinal infantil ainda mais desafiador, com as taxas de vacinação globais diminuindo drasticamente a partir de 2020. Segundo o estudo, cerca de 15,6 milhões de crianças perderam as três doses completas da vacina contra difteria-tétano-coqueluche ou uma vacina contra o sarampo entre 2020 e 2023. Além disso, 15,9 milhões de crianças que não receberam nenhuma vacina contra a poliomielite e 9,18 milhões perderam a vacina contra tuberculose.

A África Subsaariana foi a região que experimentou a maior interrupção da cobertura vacinal relacionada à pandemia de Covid-19, com cerca de 6,96 milhões de crianças a menos vacinadas contra o rotavírus entre 2020 e 2023, 5,31 milhões perdendo a imunização contra a doença pneumocócica e 4,94 milhões perdendo a imunização contra a poliomielite, de acordo com o levantamento.

O trabalho mostrou, ainda, que grandes desigualdades permanecem, com coberturas marcadamente mais baixas e taxas mais altas de crianças sub e não vacinadas em países de baixa e média renda.

Em 2023, mais da metade das 15,7 milhões de crianças não vacinadas do mundo viviam em apenas oito países: Nigéria (2,48 milhões), Índia (1,44 milhão), República Democrática do Congo (RDC, 882 mil), Etiópia (782 mil), Somália (710 mil), Sudão (627 mil), Indonésia (538 mil) e Brasil (452 mil).

Para Emily Haeuser, autora principal do estudo, o desafio é melhorar a distribuição e a adesão à vacina em áreas de baixa cobertura.

“A diversidade de desafios e barreiras à imunização varia amplamente entre os países e dentro das comunidades, com o aumento do número de pessoas deslocadas e as crescentes disparidades devido a conflitos armados, volatilidade política, incerteza econômica, crises climáticas e desinformação e hesitação em relação às vacinas, ressaltando a necessidade de novas soluções personalizadas”, afirma.

Atingir metas de vacinação será um desafio, avalia estudo

Em 2019, a Organização Mundial da Saúde (OMS) estabeleceu metas para melhorar a cobertura vacinal infantil, em todo o mundo, por meio da Agenda de Imunização 2030 (IA 2030). Entre essas metas, está a redução pela metade do número de crianças com “dose zero”, ou seja, crianças menores de um ano que não receberam nenhuma dose da vacina contra difteria, tétano e coqueluche.

O programa também visa alcançar uma cobertura global de 90% para cada uma das vacinas ao longo da vida — incluindo as três doses completas da vacina combinada contra difteria, tétano e coqueluche, a segunda dose da vacina contendo sarampo, a vacina contra doença pneumocócica e a vacina contra o papilomavírus humano (HPV).

A análise prevê que apenas a vacina contra difteria, tétano e coqueluche atingirá, provavelmente, a meta de 90% de cobertura vacinal até 2030 — e isso em um cenário otimista. A ampla variação observada na cobertura desse imunizante e contra o sarampo deverá persistir nos próximos anos, com as taxas de cobertura na África Subsaariana permanecendo substancialmente mais baixas do que em outras regiões, mesmo em um cenário otimista: 82% e 69%, respectivamente.

Segundo os autores do estudo, pode-se afirmar que as metas globais de imunização não serão alcançadas em 2030 sem estratégias de imunização direcionadas e equitativas, juntamente com o fortalecimento da atenção primária à saúde e os esforços para combater a desinformação e a hesitação sobre vacinas.

Entenda como funciona a vacina que protege bebês contra bronquiolite

Fonte: CNN Brasil

Marcado:

Deixe um Comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *