Em um país onde as doenças cardiovasculares continuam a ser a principal causa de morte, o tabagismo surge como um dos grandes vilões da saúde do coração. Só em 2023, o Brasil registrou mais de 105 mil óbitos por acidente vascular cerebral (AVC), segundo dados oficiais do Datasus, considerando-se diagnósticos de I60 a I69 e G45 e G46, conforme o CID-10 (códigos que se referem às Doenças Cerebrovasculares, Acidentes Vasculares Cerebrais Isquêmicos Transitórios e Síndromes Vasculares Cerebrais).
Quando somamos ao infarto agudo do miocárdio, o resultado é uma verdadeira epidemia silenciosa, que acomete pessoas de todas as idades, mas tem um protagonista indiscutível: o cigarro.
Tabagismo e o impacto direto no coração e no cérebro
O tabagismo não é um hábito inofensivo. Embora a imagem do fumante tenha mudado ao longo dos anos, os riscos associados ao ato de fumar permanecem alarmantes. Estudos demonstram que quem fuma chega a triplicar o risco de sofrer um infarto ou um AVC em comparação com não fumantes. E não são apenas os idosos que estão expostos: jovens adultos, cada vez mais, aparecem nas estatísticas de hospitalizações e até mesmo óbitos precoces por essas doenças.
No Brasil, o tabagismo está associado a aproximadamente 25% dos casos de infarto agudo do miocárdio e quase metade dos derrames cerebrais. E os números são ainda mais preocupantes quando olhamos para o efeito do fumo passivo, que também aumenta o risco cardiovascular para aqueles que, mesmo não fumando, acabam expostos à fumaça.
O dado de que o tabagismo é responsável por cerca de 8 milhões de mortes por ano no mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), reforça a urgência de políticas públicas efetivas e do engajamento individual na busca por hábitos mais saudáveis. Só no Brasil, estima-se que o tabaco seja responsável por cerca de 440 mortes por dia relacionadas a doenças associadas ao fumo, incluindo o infarto e o AVC.
Estatísticas recentes:
- Brasil, 2023: 105.173 óbitos por AVC;
- Brasil, 2022 e 2023: Infarto e AVC seguem como principais causas de morte;
- Mundialmente: Tabagismo mata 8 milhões de pessoas por ano, sendo 1 milhão de vítimas não fumantes expostas ao fumo passivo.
Efeitos da nicotina e do vape sobre o sistema cardiovascular
A nicotina age rapidamente no organismo. Em poucos segundos após a primeira tragada, ela atinge o cérebro e desencadeia efeitos que, embora proporcionem sensação de bem-estar passageira, causam estragos duradouros ao coração e sistema circulatório.
Ela provoca aumento da pressão arterial por meio da liberação de adrenalina, que acelera o coração e contrai os vasos sanguíneos. Além disso, contribui para o aumento do colesterol LDL e a redução do HDL, facilitando a formação de placas de gordura nas artérias.
O cigarro também interfere na coagulação sanguínea, tornando o sangue mais espesso e propenso a formar coágulos. Isso aumenta o risco de obstrução dos vasos, levando ao infarto ou AVC isquêmico. Fumantes frequentemente apresentam outras comorbidades, como diabetes e dislipidemia, o que agrava ainda mais os efeitos nocivos sobre o coração.
A chegada dos cigarros eletrônicos (vapes) elevou a preocupação entre médicos e famílias. O líquido dos dispositivos contém nicotina em doses muitas vezes superiores ao cigarro tradicional, além de substâncias como formaldeído e acroleína. Estudos indicam que jovens usuários de vape têm maior risco de dependência, aumento da pressão arterial e frequência cardíaca elevada, além de casos já documentados de infarto e doenças pulmonares inflamatórias.
Prevenção, conscientização e escolhas para um coração saudável
Apesar de todos os riscos, há espaço para otimismo: os efeitos do tabagismo podem ser revertidos com mudança de hábitos e apoio profissional.
Dicas dos cardiologistas:
- parar de fumar é sempre possível — o risco cardiovascular começa a cair nas primeiras horas sem cigarro
- busque apoio profissional — programas estruturados aumentam as chances de sucesso
- alimente-se bem e pratique exercícios — isso potencializa os efeitos da cessação
- controle a pressão, o colesterol e os níveis de glicose — medidas essenciais para quem quer proteger o coração
O tabagismo, tradicional ou eletrônico, não é um problema apenas individual. Ele gera custos altos ao sistema de saúde e compromete a qualidade de vida das famílias. O SUS gasta bilhões de reais por ano com internações e tratamentos relacionados ao cigarro.
O futuro da saúde do coração dos brasileiros depende das decisões de hoje. Parar de fumar é possível, e os benefícios são acumulativos. O desafio está em educar, conscientizar e incentivar a busca por ajuda. O coração agradece.
*Texto escrito pelo cardiologista clínico e intervencionista Rodrigo Almeida Souza (CRM-PA 7926 | RQE 4130 / 4137), membro da Brazil Health
Fonte: CNN Brasil