O candidato pró-Europa à Presidência da Romênia, Nicusor Dan, venceu o segundo turno da disputa eleitoral, realizada neste domingo, 18, apontam pesquisas de boca de urna. Ele superou o representante da extrema direita, George Simion, que terminou na frente no primeiro turno, realizado no começo do mês, após uma campanha marcada por reviravoltas, polêmicas e denúncias de interferência externa na votação.
Nas primeiras palavras após a divulgação das sondagens, Dan, que é prefeito de Bucareste e concorreu como independente, disse que o resultado mostra uma comunidade que deseja “mudanças profundas” na Romênia venceu.
— Uma comunidade que quer o funcionamento das instituições estatais, a redução da corrupção, um ambiente econômico próspero para os romenos, uma sociedade de diálogo e não uma sociedade de ódio — disse Dan. —Obrigado aos dezenas de milhares de romenos que fizeram campanha por uma ideia durante todas essas semanas.
Contudo, Simion não reconheceu os resultados da boca de urna e também se declarou vitorioso. A polícia aumentou a presença nas ruas diante da possibilidade de protestos.
— Sou o novo presidente e estou devolvendo o poder aos romenos — declarou Simion diante do Parlamento.
Segundo suas próprias estimativas, ele terá cerca de 400 mil votos a mais do que Dan quando as urnas terminarem de ser contadas. Analistas afirmam que, diante da diferença entre os dois apontadas pelas pesquisas — 54,9% contra 45,1% —, são pequenas as chances de uma reviravolta nos números oficiais. O impacto do voto da diáspora, que nem sempre é contabilizado na boca de urna, pode fazer alguma diferença, mas o maior comparecimento às urnas, 64%, acima do visto no primeiro turno, favorece o candidato pró-Europa.
Dan era considerado a terceira força na corrida presidencial romena, atrás de Simion e de Crin Antonescu, ex-presidente e que tinha atrás de si o apoio do governo. Mas os resultados do primeiro turno mostraram uma divisão dentro do campo pró-Europa, do qual Dan e Antonescu fazem parte, além de um profundo descontentamento com as autoridades que hoje comandam o país. Simion terminou em primeiro, com quase 41% dos votos, e Dan ficou em segundo com cerca de 100 mil votos de vantagem sobre Antonescu.
No sistema parlamentarista romeno, o presidente tem um papel majoritariamente cerimonial, mas ele é o comandante das Forças Armadas e tem papel decisivo na concessão de ajuda militar, além de influenciar nos rumos da diplomacia do país. Por isso, a votação era acompanhada com tanto apreço não apenas em Bucareste, mas também em Bruxelas, Kiev e Moscou.
Dentro da estratégia de apoio à Ucrânia diante da invasão russa, a Romênia ocupa um papel central no transporte de armas e equipamentos destinados, apoiando as ações humanitárias à população civil e também através da doação de sistemas como o Patriot, usado na defesa aérea ucraniana. Os romenos também assinaram um acordo de segurança com Kiev, e apoiam as exportações de grãos ucranianos pelo Mar Negro. Além disso, a Romênia desempenha função crucial na defesa do flanco oriental da Otan, a principal aliança militar do Ocidente, comandada pelos EUA.
Durante a campanha, Simion, que se apresentava como uma espécie de “Donald Trump romeno”, afirmou ser contra o envio de ajuda militar à Ucrânia, um país do qual foi banido em 2024 por acusações de “liderar atividades anti-ucranianas de forma sistemática”. Contudo, ele tentou amenizar algumas de suas visões na reta final da campanha, dizendo que não se distanciaria da Otan ou da União Europeia, e afirmando que a Rússia era a maior ameaça ao seu país.
Dan, um professor de 55 anos que entrou para a política através do ativismo, foi eleito prefeito de Bucareste e agora presidente, trazia posições mais claras: em seus discursos, defendia uma maior coordenação com Bruxelas, o fortalecimento dos laços com o Ocidente e considerava o apoio à Ucrânia uma prioridade. Em uma entrevista ao site Euronews, no começo do mês, ele defendeu a entrada de Kiev na União Europeia.
Fonte: Exame