Em um dos painéis mais concorridos do Web Summit Rio 2025, a empresária e influenciadora Bianca Andrade, fundadora da marca de maquiagens Boca Rosa Company, mostrou por que é uma das principais vozes do novo empreendedorismo brasileiro.
Ao lado de líderes como Adriana Barbosa (Feira Preta Ecosystem), Tarciana Medeiros (Banco do Brasil) e Maria Prata (Prata Porter), Bianca compartilhou sua trajetória, destacou o poder da comunidade na construção de marcas e falou sobre o desafio de manter relevância no ritmo acelerado das redes sociais.
“Ter uma marca independente, para mim, faz muito sentido porque ela atende à minha comunidade”, afirmou ela, depois de abrir o painel — intitulado ‘A próxima onda do empreendedorismo’ — com seu famoso bordão à plateia: “Boa tarde, gostosas, gostosos!”
Para ela, o senso de pertencimento é o que sustenta a conexão entre marca e consumidor em um cenário de mudanças culturais e tecnológicas constantes. “A comunidade está mudando o tempo todo. Como você consegue fidelizar esse público a médio e longo prazo, com tudo se multiplicando em uma velocidade que antes não existia?”, provocou.
A empresária enfatizou que, em um ambiente digital saturado, autenticidade é um diferencial essencial. “Você tem que saber o que quer, ter conexão com o seu público e ser autêntico. Humanizar a marca, para mim, é fundamental. Toda vez que acontece alguma coisa que o público não gosta, eu retrocedo, peço desculpa, humanizo a marca. Essa humildade tem feito a Boca Rosa passar por todas as opiniões e continuar crescendo.”
O reconhecimento do público veio com a construção de uma narrativa pessoal e coletiva. “A grande virada da Boca Rosa foi quando entendi que o que me diferenciava era justamente a minha história: uma menina sonhadora, da comunidade, com muita resiliência e cara de pau”, disse, entre risos. “Essa história é real, as pessoas acompanharam. Isso conecta. Isso cria senso de comunidade.”
A empresária de 30 anos, que nasceu no Complexo da Maré, no Rio de Janeiro, também destacou o impacto da comunidade na sua jornada e como devolve esse apoio por meio de projetos sociais. “Depois de alguns anos, comecei um projeto social que fomenta o empreendedorismo feminino nas favelas. A gente fez cinco edições em locais diferentes. Isso me trouxe mais propósito em tudo que faço”, contou.
Ela ressaltou que não se trata apenas de engajamento, mas de responsabilidade social. “Essas mulheres foram minha rede de apoio no começo. Compartilharam meus conteúdos, me fizeram acontecer. Então hoje, com as oportunidades que tive, me pergunto: o que faço com isso nos próximos 20 anos?”
Para além do carisma e da presença digital, Bianca demonstrou ter uma visão estratégica clara sobre branding, consumo e comportamento. “É um grande desafio. A velocidade do negócio mudou. A internet exige agilidade, mas é preciso saber até onde ir, entender até que ponto consigo atender a essa comunidade que também muda de opinião o tempo todo.”
Com mais de uma década desde que começou como influenciadora no YouTube, a fundadora da Boca Rosa Company tem hoje uma marca consolidada no setor de beleza e cosméticos. Ela administra uma empresa que conversa com quase 20 milhões de consumidoras somente no Instagram, mantém canais digitais ativos e cria produtos voltados para um público que se vê representado não só nos itens de maquiagem, mas nos valores da marca.
“A gente está falando de uma marca que nasceu na internet, e a internet me deu a possibilidade de ouvir diretamente o meu público. Então, quando a gente lançou base, eu ouvi muito: ‘As marcas nunca acertam o meu tom’. Isso mexeu comigo. E a gente fez questão de ter vários tons de pele escura, com subtons diferentes. Trouxemos diversidade: dos 50 tons, 28 são para pessoas de pele preta e não só mulheres.”
A empresária destacou ainda a importância de escutar as pessoas, mesmo diante das críticas. “As redes sociais hoje permitem um retorno muito rápido sobre a opinião dos consumidores. Isso impulsiona uma mudança interna da marca com muito mais velocidade. Se você escuta e está disposto a mudar, a comunidade percebe.”

Maria Prata (Prata Porter), Tarciana Medeiros (Banco do Brasil), Adriana Barbosa (Feira Preta Ecosystem) e Bianca Andrade (Boca Rosa Company) (Web Summit/Divulgação)
Empreendedorismo com identidade e propósito
Além de Bianca Andrade, o painel reuniu outras três mulheres à frente de negócios de impacto para discutir o novo momento do empreendedorismo na América Latina. Adriana Barbosa (CEO do Feira Preta Ecosystem), Tarciana Medeiros (CEO do Banco do Brasil) e Maria Prata (criadora do Prata Porter) mostraram como a combinação entre inovação, propósito social e raízes culturais tem definido uma nova geração de fundadores na região.
Abrindo a conversa, Maria Prata destacou o fato simbólico de o palco ser ocupado exclusivamente por mulheres. “Em nenhum momento disseram que seria um painel só com mulheres negras e periféricas. E isso é avanço. Avanço é quando não precisamos mais explicar que a diversidade está presente”, disse.
Tarciana Medeiros, primeira mulher a assumir a presidência do Banco do Brasil, apresentou um panorama do empreendedorismo nacional. “A cara do novo empreendedor brasileiro é diversa, jovem e ainda muito informal. Seis em cada dez empreendimentos ainda operam fora da formalidade, e entre eles predominam mulheres e negros”, afirmou. Apesar disso, observou que as mulheres têm buscado mais rapidamente a formalização e o crédito.
Segundo a executiva, o perfil dos empreendedores no Norte e Nordeste do Brasil também tem ganhado destaque, especialmente em negócios conectados à agrotecnologia e à sustentabilidade. “Hoje temos um país mais empreendedor e menos centralizado no eixo Sul-Sudeste. Isso desafia instituições como o Banco do Brasil a repensarem suas estratégias de crédito”, disse.
Adriana Barbosa, fundadora do Festival Feira Preta — evento que em 2023 movimentou R$ 14 milhões, mas foi cancelado em 2024 por falta de patrocínio — falou sobre os entraves estruturais enfrentados por empreendedores negros. “É preciso orquestrar uma solução sistêmica de crédito, trazendo estado, setor privado, sociedade civil e academia para a mesma mesa”, defendeu.
Ela propôs um novo olhar sobre análise de risco: “Estamos desenvolvendo uma metodologia de crédito decolonial, que parte da realidade de quem empreende nas margens. Não dá para usar os mesmos padrões de sempre para julgar trajetórias tão diferentes”, disse ela. “Estamos falando de empreender com base na escuta, na vivência e no senso de pertencimento. Isso é o que nos diferencia e nos faz relevantes.”
Para Maria Prata, que mediou a conversa, a nova onda do empreendedorismo na América Latina vem carregada de empatia e colaboração. “Essas lideranças mostram que é possível crescer sem abandonar a origem. A transformação vem da escuta, da humildade e da coragem de romper padrões”, concluiu.
- *A jornalista viajou a convite da Manychat
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