Um trabalhador de entregas da Pedidos Ya exibe os pesos argentinos ganhos durante a entrega de comida em Buenos Aires, Argentina, na segunda-feira, 16 de dezembro de 2024 (Tomas Cuesta/Bloomberg)
O Bradesco BBI atualizou sua avaliação sobre os mercados de Argentina e Chile com base nos desdobramentos econômicos e políticos previstos para o segundo semestre deste ano. A recomendação para o Chile foi elevada para overweight (acima da média de mercado), enquanto a Argentina teve a exposição cortada, passando de acima da média do mercado, ou overweight, para neutra.
No caso argentino, os analistas chamam atenção para o risco de escassez de dólares nos próximos meses, em meio à valorização do peso argentino (ARS), aumento do déficit em transações correntes e incertezas ligadas às eleições legislativas. A avaliação é de que o peso vem se apreciando de forma real em relação a outras moedas da região, mesmo diante de um aumento de 44% nas importações e de um déficit crescente na conta turismo, que já passou de US$ 3,4 bilhões no acumulado do ano, o equivalente a 2% do Produto Interno Bruto (PIB) em termos anualizados.
Na ponta do lápis, o BBI calcula que as exportações de petróleo cresceram 10% no ano, com o barril sendo negociado a uma média de US$ 71 neste ano, abaixo do ano anterior. Ainda assim, no saldo final, esse fluxo de receita não tem sido suficiente para compensar a saída de divisas. No primeiro trimestre, o país deixou de acumular mais de US$ 5,6 bilhões em reservas, o que evidencia o enfraquecimento do colchão cambial. O fim da safra agrícola no segundo semestre, dizem os analistas, tende a reduzir ainda mais o ingresso de moeda estrangeira.
O relatório também destaca que o investimento estrangeiro direto (IED) segue em níveis insuficientes para cobrir o déficit externo. Para os estrategistas, atrair esses recursos depende de políticas claras e previsibilidade institucional, fatores que ainda não se confirmaram. A ausência de capital externo amplia a vulnerabilidade da moeda em um momento marcado por pressões de demanda por dólares, comuns em anos eleitorais.
Na política, o partido La Libertad Avanza (LLA), ligado ao presidente Javier Milei, aparece com 38,3% das intenções de voto para as eleições de outubro, seguido por grupos vinculados ao kirchnerismo, com 28,3%, e ao peronismo tradicional, com 5,3%. A eleição na província de Buenos Aires, marcada para setembro, será central para medir a força da coalizão LLA–PRO, que disputa com o grupo Kicillof–PJ–Kirchnerismo. Uma derrota apertada, pontuam os analistas, pode levar o mercado a projetar com otimismo exagerado o desempenho nacional da legenda de Milei.
Apesar de avanços recentes na política econômica, como ajustes fiscais e correções de preços relativos, o risco-país, medido pelo EMBI (Emerging Markets Bond Index), permanece em torno de 700 pontos-base. Para o banco, a recuperação econômica ainda se dá de forma lenta, e o sistema financeiro opera com liquidez limitada. O cronograma de vencimentos de dívida externa também preocupa: entre este ano e 2029, os pagamentos superam 3% do PIB ao ano, e deve atingir quase 4% em 2028.
Eleições e retomada de investimentos
Para o Chile, os analistas elevaram a recomendação diante de expectativas eleitorais e da retomada de investimentos. Candidatos de direita aparecem à frente nas projeções para a eleição presidencial deste ano. Jeannette Jara, ligada ao Partido Comunista, ganhou visibilidade, mas, segundo os analistas, não apresenta base eleitoral suficiente para vencer em um segundo turno contra nomes como José Antonio Kast ou Evelyn Matthei.
Na observação do BBI, a economia chilena dá sinais de recuperação, com inflação próxima da meta de 3% e um ciclo de cortes de juros em fase final. O consumo interno e os investimentos privados voltam a crescer, apoiados por novos projetos no setor de mineração e energia. O país projeta US$ 67,6 bilhões em IED entre este ano e 2029, o equivalente a cerca de 20% do PIB. A entrada de capital ajuda a sustentar um ambiente mais previsível, com reforço no volume de projetos estruturais.
O Bradesco BBI também atualizou sua matriz de cenários para o mercado chileno. O chamado cenário 3, com condições financeiras estáveis e múltiplo P/L de 12 vezes, passou a ser considerado o principal, com 40% de chance. Já o cenário 1, com juros mais altos e menores preços de ativos, subiu de 10% para 25%. A probabilidade de vitória da direita foi estimada em mais de 60%, o que, segundo os analistas, pode abrir espaço para valorização entre 15% e 48% das ações chilenas.
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Fonte: InfoMoney