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BAT aponta Brasil como modelo no agro e defende regulação do cigarro eletrônico no país

O mercado de tabaco vive uma revolução e é um dos mais escrutinados do mundo. Neste contexto, a unidade brasileira da British American Tobacco (BAT), multinacional do setor de tabaco, é hoje uma das mais estratégicas para a companhia, tanto em volume quanto em inovação tecnológica. A avaliação é de Frederico Monteiro, diretor regional da empresa para as Américas e Europa.

Sem abrir números, Monteiro afirma que o Brasil está entre as três operações mais importantes da BAT, ao lado de Alemanha e Reino Unido.

Segundo ele, o país é considerado “líder” no desenvolvimento de tecnologias aplicadas a toda a cadeia produtiva — do cultivo ao consumidor final.

“Temos no Brasil uma operação que vai da semente ao consumo final. E estou falando de tecnologia desenvolvida aqui. A maior fábrica da BAT no mundo está em Uberlândia, Minas Gerais. É uma fábrica de ponta, moderníssima”, afirma o executivo.

A presença da BAT no Brasil foi consolidada em 2015, quando a companhia assumiu o controle total da Souza Cruz, tradicional empresa brasileira de tabaco que, até então, operava com capital aberto. Ao adquirir 97,7% das ações da companhia, a multinacional optou por fechar o capital da subsidiária.

Maior fabricante de cigarros do país, a Souza Cruz também teve uma longa trajetória no mercado de capitais brasileiro. A empresa estreou na Bolsa do Rio de Janeiro em 1946 e passou a ser listada na Bolsa de Valores de São Paulo em 1957.

O Brasil, segundo Monteiro, também se destaca pelas inovações agrícolas, que, segundo ele, têm servido de referência para outras subsidiárias do grupo no mundo.

Entre as inovações desenvolvidas localmente, estão técnicas de rotação de lavouras, melhoramento genético e o uso de sensores para manejo de solo e clima, com foco em produtividade e mitigação de riscos climáticos.

“O que a gente tem hoje em dia aplicado à agricultura é de primeiro mundo. As pessoas vêm do mundo inteiro para aprender com a BAT no Brasil”, afirma.

Dados da Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra) mostram que a produção de tabaco do Brasil foi de 508 mil toneladas na safra 2023/24, cultivadas em 509 municípios da Região Sul do Brasil — atualmente, cerca de 135 mil famílias participam da cadeia produtiva do fumo, segundo a entidade.

Além do campo, Monteiro destaca os avanços em tecnologias desenvolvidas no Brasil para gestão logística e relacionamento com o varejo, que atende cerca de 250 mil pontos de venda no país.

“Temos orgulho de sermos reconhecidos como um dos melhores parceiros comerciais do varejo brasileiro”, diz.

Regulação do cigarro eletrônico

Mesmo com a marca consolidada no Brasil, a BAT enfrenta desafios relevantes no país, especialmente no que diz respeito à regulação do cigarro eletrônico, chamado popularmente de vape.

Uma pesquisa do Inteligência em Pesquisa e Consultoria Estratégica (Ipec), divulgada em janeiro de 2024, mas com dados de 2023, mostra que 2,9 milhões de brasileiros consomem os vapes no país.

A empresa britânica, uma das principais defensoras da liberação do produto, contesta a decisão da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que mantém proibida a comercialização desses dispositivos.

Desde 2009, todos os tipos de dispositivos eletrônicos para fumar são proibidos pela Anvisa. A proibição inclui a comercialização, a importação e a propaganda de quaisquer dispositivos eletrônicos para fumar.

Em abril do ano passado, os diretores do órgão regulador decidiram, por unanimidade, manter a proibição da venda, propaganda, fabricação, importação, distribuição, armazenamento e transporte de dispositivos eletrônicos para fumar.

Segundo a agência, os cigarros eletrônicos seriam uma “porta de entrada” para o tabagismo tradicional e poderiam levar à recaída de ex-fumantes.

Na época, a BAT rebateu o posicionamento, afirmando que a decisão vai contra a opinião pública e o direito à liberdade individual.

“Essa proibição não funcionou. Todo mundo sabe que há milhões de cigarros eletrônicos circulando pelas ruas do Brasil. São produtos contrabandeados da China e do Paraguai, de péssima qualidade, e que financiam o crime organizado”, diz Monteiro.

A última estimativa, segundo ele, é de que cerca de R$ 5 bilhões em potenciais impostos federais são perdidos com o mercado ilegal de cigarros eletrônicos.

A BAT defende que o Brasil siga o exemplo de mais de 100 países que regulamentam alternativas menos nocivas, como o tabaco aquecido e os sachês de nicotina.

Segundo Monteiro, “o problema do cigarro não é a nicotina, é a combustão”. Nesse sentido, afirma ele, o cigarro eletrônico de qualidade, sem combustão, é 95% menos nocivo.

O executivo defende que, nesse caso, o Brasil adote políticas públicas “bem-sucedidas” de redução de danos, como as desenvolvidas pela Suécia.

“A Suécia é hoje o único país do mundo considerado livre do tabagismo pela Organização Mundial da Saúde. Por quê? Porque há 50 anos adotaram políticas que oferecem alternativas seguras ao cigarro”, diz.

Questionado sobre a relação com a geração Z — menos inclinada a consumir nicotina e álcool —, Monteiro revelou que a BAT já investe em novos mercados, como a participação na startup MaisMu, que produz barras e bebidas proteicas. A ideia, segundo ele, é preparar a BAT para a “terceira geração” do negócio.

“O consumidor evolui, e precisamos acompanhar. Estamos abertos ao diálogo com reguladores e queremos colaborar para uma política pública moderna e baseada em evidência científica.”

Fonte: Exame

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