As ações da Azul (AZUL4) foram o grande destaque de queda do mês de abril entre os ativos que compõem o Ibovespa, com baixa de 55,32%.
Além do noticiário recorrentemente difícil sobre o setor nos últimos meses, más notícias no mês principalmente após uma oferta de ações decepcionante da aérea acabaram gerando uma maior aversão a risco e queda dos ativos.
A desvalorização superior a 50% em abril refletiu preocupações do mercado sobre sua situação financeira e operacional.
A empresa fez uma oferta de ações em abril com o objetivo de fortalecer sua estrutura financeira e avançar em seu plano de reestruturação. Porém, o montante arrecadado no valor de R$ 1,6 bilhão, bem abaixo do esperado, pareceu insuficiente para colocar a dívida de R$ 11 bilhões em trajetória sustentável, conforme destacou Danielle Lopes, analista da Nord Research que assinou análise sobre o tema.
A casa de análise destaca que, entre os fatores que pesaram na desvalorização, estão o aumento dos custos operacionais, a elevada alavancagem da empresa e a percepção de risco em relação à capacidade de honrar seus compromissos financeiros. “No nosso entendimento, a companhia não irá quebrar, mas certamente precisará de apoio externo ou governamental para atravessar o momento”, aponta a analista.
A analista aponta que a falta de apetite, junto ao cenário desafiador de seus resultados, endossa o seu posicionamento de não investir em empresas aéreas. “Apesar do crescimento operacional e da expansão das margens no 4T24, a Azul ainda enfrenta riscos elevados no curto e médio prazo”, reforça.
A Rico Investimentos destaca que a Azul é uma ação que costuma ter uma volatilidade mais acentuada do que a média das ações negociadas na bolsa brasileira. Isso porque é uma companhia inserida em um setor muito competitivo, em que as empresas têm pouco poder de precificação, as receitas da companhia estão diretamente ligadas aos ciclos econômicos e é um negócio que possui altos custos para manter as operações.
Com tantos desafios, a companhia se viu com uma dívida líquida de R$ 29,6 bilhões no quarto trimestre de 2024. Desde outubro de 2023, a Azul vem tentando estabelecer acordos e negociações para resolver parte dessa dívida.
No dia 14 de abril de 2025, a Azul anunciou um aumento de capital, avançando para a fase final de seu plano de reestruturação da dívida. Esse aumento de capital é visto como uma maneira de a empresa levantar dinheiro para ajudar a pagar suas dívidas e melhorar sua situação financeira.
A oferta consistiu em levantar entre R$ 1,6 bilhão e R$ 4,1 bilhões, com o preço de R$ 3,58 por ação. Essa oferta incluiu:
- Conversão de títulos em ações: aproximadamente R$ 1,6 bilhão virá da conversão de títulos em ações.
2. Oferta privada para acionistas existentes: isso significa que os acionistas que já possuem ações da Azul terão a oportunidade de comprar mais ações antes que elas sejam oferecidas ao público em geral. Essa é uma maneira de dar preferência aos investidores que já acreditam na empresa.
3. Oferta Pública Adicional (follow-on): após a oferta privada, a Azul também fará uma oferta pública, onde as novas ações estarão disponíveis para qualquer investidor interessado. Isso é conhecido como “follow-on” e permite que mais pessoas possam investir na empresa.Além disso, a Azul ofereceu um incentivo financeiro na forma de warrants, que são direitos de subscrição que dão aos investidores a opção de comprar mais ações no futuro. Para cada nova ação emitida, os investidores receberão um warrant na proporção de 1:1, ou seja, um warrant para cada nova ação adquirida.
Embora esse aumento de capital melhore as posições de alavancagem (relação entre a dívida e o lucro) e liquidez (capacidade de pagar dívidas de curto prazo) da Azul, com uma expectativa de redução da relação dívida líquida/Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) para até -1,2 vez, a Rico observa que poderia gerar um potencial significativo de diluição geral. Isso significa que a porcentagem de propriedade dos acionistas existentes pode ser reduzida. Inicialmente a casa estimava uma diluição acionária total de cerca de 85%.
Devido à demanda reduzida dos acionistas existentes, a entrada de novo capital foi inferior ao que os investidores esperavam. Segundo as estimativas da casa, a alavancagem da companhia deveria diminuir apenas 0,4 vez na relação dívida líquida/Ebitda após a oferta.
Por outro lado, a diluição total das ações atingiu aproximadamente 61%, considerando: a emissão dos arrendadores; a conversão em ações de 35% dos títulos de 2029/30 e o aumento de capital privado.
Além disso, como a nova oferta de capital não alcançou US$ 200 milhões, os 12,5% restantes dos títulos de 2029/30 não serão convertidos em ações. “Em resumo, na data do anúncio desse novo passo, em 14 de abril de 2025, com alta de 12,33%, as ações haviam reagido positivamente ao novo passo da reestruturação da dívida da Azul. Contudo a concretização dessa etapa do plano frustrou os investidores e levou a nova rodada de fortes quedas nos preços das ações”, aponta.
Cabe destacar que, no último dia de abril, a Azul obteve financiamento adicional de R$ 600 milhões junto a atuais credores da companhia aérea após a decepção com a oferta de ações.
Qual a visão dos analistas de mercado para as ações?
De acordo com compilação feita pela LSEG com analistas de mercado, de 8 casas que cobrem AZUL4, 7 possuem recomendação de manutenção e 1 possui recomendação de venda.
Após a oferta primária, o JPMorgan atualizou as estimativas para a Azul e manteve a recomendação neutra para as ações da Azul, mas retirou o preço-alvo dos ativos, que era de R$ 9,50.
Para os analistas, a diluição dos acionistas minoritários da Azul poderia chegar a 85%, considerando todas as iniciativas de gestão de passivos que a companhia aérea vem realizando.
O JPMorgan manteve recomendação neutra para a Azul em comparação com a GOLL4, que é classificada como underweight (UW), mas reforça as recomendações overweight (exposição acima da média do mercado, equivalente à compra, OW) para a CPA e LTM como as suas principais escolhas entre as companhias de transporte da América Latina.
O Bradesco BBI, por sua vez, tem recomendação equivalente à compra para a Azul, com preço-alvo de R$ 5, enquanto tem recomendação de venda para os ativos da Gol, com preço-alvo de R$ 0,50.
A Rico Investimentos manteve uma recomendação neutra para as ações, principalmente com base em um cenário ainda desafiador para a companhia e um perfil de alavancagem atualmente alto. Essa é a mesma recomendação da XP.
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Fonte: InfoMoney