Os órgãos se constroem aos poucos, célula por célula, em um processo coordenado que começa nos primeiros momentos da vida. Pela primeira vez, cientistas conseguiram registrar essa construção em ação: usando tecnologia de imagem de última geração, uma equipe da University College London (UCL) filmou, em tempo real, como as células cardíacas se organizam e moldam a estrutura inicial do órgão em embriões vivos de camundongos.
O estudo, publicado na revista científica The EMBO Journal na última terça-feira (13), pode ajudar a transformar a forma como pesquisadores compreendem e tratam malformações cardíacas congênitas, condição que afeta aproximadamente um em cada 100 recém-nascidos.
As imagens mostram como as células do músculo cardíaco começam a se alinhar espontaneamente em uma estrutura que lembra o formato do coração, logo no estágio inicial da gestação.
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Como foi o processo
Para capturar a movimentação, os pesquisadores usaram uma técnica chamada microscopia avançada de lâmina de luz, que ilumina os tecidos com uma fina camada de luz, permitindo a observação detalhada de células vivas em 3D, sem causar danos ao tecido.
O experimento acompanhou o desenvolvimento embrionário durante a gastrulação, uma fase crítica em que as células começam a se especializar e formar as estruturas primárias do corpo, como o cérebro, os músculos e o coração. Essa etapa dura cerca de 40 horas e ocorre na segunda semana de gestação em humanos.
Para rastrear o comportamento das células cardíacas, a equipe marcou os cardiomiócitos (células do músculo do coração) com marcadores fluorescentes, fazendo com que brilhassem em cores distintas. Isso, combinado à microscopia de lâmina de luz, permitiu a criação de um vídeo em lapso de tempo com altíssima resolução.
As imagens foram capturadas a cada dois minutos ao longo de 40 horas, resultando em um registro sem precedentes da coreografia celular que dá origem ao coração. As células aparecem se movendo, se dividindo e se agrupando até formar os primeiros traços do órgão.
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“Esta é a primeira vez que conseguimos observar as células do coração com esse nível de detalhe e por tanto tempo durante o desenvolvimento de um mamífero”, disse Kenzo Ivanovitch, autor sênior do estudo e pesquisador da UCL, em nota à imprensa.
Segundo Ivanovitch, um dos achados mais surpreendentes foi a organização precoce das células. “Em vez de se moverem aleatoriamente, elas seguem caminhos distintos — quase como se já soubessem para onde ir e qual papel desempenhar, seja contribuindo para os ventrículos ou os átrios”, explicou.
O cientista destaca que as descobertas mostram que essa movimentação das células acontece muito antes do que os modelos atuais sugerem, o que muda fundamentalmente a compreensão sobre o desenvolvimento do coração.
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Fonte: InfoMoney