O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), ameaçou prender o ex-ministro da Defesa Aldo Rebelo durante depoimento prestado na última semana como testemunha no processo que investiga a tentativa de golpe de Estado atribuída ao ex-presidente Jair Bolsonaro e seus aliados. O vídeo da audiência, até então sob sigilo, foi divulgado nesta terça-feira (3).
A tensão ocorreu após Rebelo responder a uma pergunta sobre o almirante Almir Garnier, ex-comandante da Marinha e um dos réus na ação penal. O advogado de Garnier questionou Rebelo se, em sua avaliação, o militar teria capacidade de mobilizar as tropas da Marinha por conta própria, buscando afastar a tese de adesão unilateral ao plano golpista.
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“Estou à disposição” não é literal, diz Rebelo
Aldo Rebelo argumentou que expressões como “estou à disposição”, atribuídas a Garnier, não deveriam ser interpretadas literalmente. “Na língua portuguesa, conhecemos o que se usa muitas vezes como força de expressão. Quando alguém diz ‘estou frito’, não significa que está dentro de uma frigideira. Quando diz ‘está apertado’, não quer dizer que está sob pressão literal”, afirmou.
A resposta irritou Moraes, que o interrompeu:
— O senhor estava presente na reunião quando o almirante Garnier usou essa expressão?
— Não — respondeu Rebelo.
— Então o senhor não tem condição de avaliar a língua portuguesa naquele momento. Atenha-se aos fatos — retrucou o ministro.
“Não admito censura”
Rebelo reagiu imediatamente:
— Em primeiro lugar, a minha apreciação da língua portuguesa é pessoal, e eu não admito censura.
A troca elevou o tom da audiência. Moraes ameaçou:
— Se o senhor não se comportar, será preso por desacato.
— Estou me comportando — respondeu Rebelo.
— Então se comporte e responda à pergunta. Testemunha não pode atribuir valor à questão, mas tem toda a liberdade para fazer uma resposta tática — finalizou Moraes.
Aldo Rebelo foi ministro da Defesa entre 2015 e 2016, durante o governo Dilma Rousseff, e trabalhou diretamente com Almir Garnier, que atuava como assessor especial militar da pasta.
O depoimento faz parte da instrução do processo do “núcleo 1” da trama golpista, que investiga militares e membros do alto escalão do governo Bolsonaro por articulações para impedir a posse do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva.
A liberação dos vídeos dos depoimentos das testemunhas ocorre em meio à crescente expectativa pelos interrogatórios dos réus, marcados para 9 de junho. O ex-presidente Jair Bolsonaro será ouvido na etapa final dessa fase do processo.
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Fonte: InfoMoney
