Sete anos após contratar o ex-chefe de IA do Google, a Apple (AAPL) ainda não cumpriu sua promessa de ser líder em inteligência artificial.
Enquanto OpenAI e Google ficam na vanguarda da IA, a criadora do iPhone enfrenta atrasos, conflitos internos e pressões políticas.
Fatores como esse ameaçam a posição da empresa liderada por Tim Cook no mercado.
A Apple Intelligence, lançada com alarde em 2024, ainda está incompleta. A Siri, parte central dessa estratégia, virou um símbolo de uma transição que não avançou.
A Apple lançou seu pacote mais ambicioso, chamado Apple Intelligence, em junho de 2024. O anúncio aconteceu durante o WWDC.
As novidades incluem ferramentas de escrita, resumos de e-mails, notificações, e emojis personalizados (“Genmojis”). Também prometia uma nova versão da assistente de voz Siri, que agora pode acessar dados pessoais. Isso ajuda a Siri a responder a comandos mais complexos.
No entanto, os prazos não foram cumpridos. O iPhone 16, o primeiro “construído para IA”, foi lançado sem as promessas de inteligência artificial.
Os recursos começaram a aparecer meses depois, mas muitos tinham falhas. A reformulação da Siri, que deveria estrear em abril de 2025, foi novamente adiada, segundo a Bloomberg.
Além dos atrasos, houve problemas técnicos graves. Executivos da Apple afirmaram que, nas versões beta internas do iOS 18.4, os recursos dos vídeos promocionais não estavam funcionando, de acordo com a Bloomberg.
Enquanto isso, concorrentes lançaram assistentes com modos de voz interativos. Eles também usam modelos de linguagem generativos de forma eficiente.
Nova liderança e reestruturação
Com os atrasos acumulados e a frustração de usuários e investidores, a Apple passou por uma reestruturação interna, segundo a Bloomberg.
O comando da Siri foi passado de Giannandrea para Mike Rockwell. Rockwell havia liderado o desenvolvimento do Vision Pro, o headset de realidade mista da empresa. Rockwell agora responde diretamente a Craig Federighi, chefe de software da Apple.
Giannandrea ainda está na empresa, mas agora se concentra em pesquisa e desenvolvimento de modelos de linguagem.
Ele não tem mais controle direto sobre os produtos. Fontes internas disseram ao site americano que a nova versão da Siri, chamada LLM Siri, está em desenvolvimento em Zurique. Ela usará uma arquitetura totalmente baseada em IA generativa.
Pressões políticas nos EUA dificultam expansão da IA na China
A estratégia global da Apple para IA enfrenta outro obstáculo: a tensão entre Estados Unidos e China.
Segundo o New York Times, autoridades americanas estão preocupadas com o acordo entre Apple e Alibaba, anunciado em fevereiro, para fornecer capacidades de IA no mercado chinês. A Casa Branca teme que a parceria ajude a China a avançar em tecnologia. Isso é preocupante, especialmente em áreas como defesa e controle de dados.
Sem a parceria com a Alibaba, a Apple pode perder espaço na China. Esse é seu segundo maior mercado. Empresas como Huawei e Xiaomi já oferecem recursos avançados de IA em seus aparelhos.
A situação piora levando em conta o histórico.
Em 2022, o governo dos EUA pressionou a Apple a cancelar um acordo com a fornecedora chinesa de chips, a YMTC. Em 2024, a Apple enfrentou tarifas sobre produtos montados na China.
Agora, congressistas como o democrata Raja Krishnamoorthi criticam a Apple. Eles apontam a falta de transparência sobre o contrato com a Alibaba e os dados que podem ser compartilhados.
Futuro incerto para a Siri
Apesar das promessas, o futuro da Siri ainda é incerto. Internamente, os times enfrentam centenas de bugs. Há conflitos entre códigos antigos e novos. Além disso, decisões técnicas priorizaram a pressa em vez da estabilidade.
Em março de 2025, a Apple removeu do ar os comerciais com a atriz Bella Ramsey que promoviam funções ainda não disponíveis da Siri. O episódio virou alvo de ações judiciais por suposta propaganda enganosa.
A expectativa agora recai sobre o WWDC de junho de 2025.
A empresa deve trazer novas funções de IA, como gestão inteligente de bateria e assistente virtual de saúde. Mas não vai lançar uma versão reformulada da Siri.
A marca “Apple Intelligence” pode se separar da Siri ao se comunicar com o público. Essa mudança busca proteger a reputação da nova aposta em inteligência artificial da empresa.
As maiores empresas de IA
O mercado global de IA está em plena expansão e, segundo dados da UNCTAD, a expectativa é que seu valor cresça de forma exponencial na próxima década.
Se em 2023 o setor movimentou cerca de US$ 189 bilhões, a projeção para 2033 aponta para uma cifra de US$ 4,8 trilhões.
Dentro desse cenário de crescimento, a ferramenta que mais se destacou foi o ChatGPT, da OpenAI.
Em 2023, segundo dados da SEMRush, o chatbot acumulou 60,2% de participação de mercado, consolidando-se como a principal aplicação de IA voltada para o grande público.
A segunda colocada, a plataforma Character.AI, ficou com 16% do mercado, seguida por gigantes já consolidadas no mercado, como Google, IBM e Microsoft.
O que esperam os analistas
Um relatório recente do Bank of America (BofA) mostra que as demoras na nova Siri e os problemas na cadeia de suprimentos levaram a previsões de receita mais baixas para a empresa nos próximos anos.
A instituição cortou a projeção de faturamento da Apple para o ano fiscal de 2026. Agora, espera-se que seja de US$ 440 bilhões, em vez de US$ 450 bilhões.
Também reduziu a estimativa de lucro por ação de US$ 8,20 para US$ 7,82. Com isso, o preço-alvo das ações foi ajustado de US$ 250 para US$ 240.
O BofA ainda mantém a classificação de “compra” para as ações. Isso mostra que o banco espera uma recuperação no longo prazo.
A preocupação imediata está no impacto direto da IA no ciclo de trocas de iPhones.
O atraso da Siri com IA avançada pode desanimar consumidores. Isso pode fazer com que eles não queiram mudar para os modelos mais novos.
A demanda pode cair, especialmente agora. Novos lançamentos, como o iPhone “Air” em setembro de 2025 e um modelo dobrável em 2026, ainda não estão disponíveis.
Um outro fator que o banco mencionou são as tarifas comerciais. Elas causam volatilidade nas vendas a curto prazo.
Os consumidores devem antecipar compras para evitar tarifas. Isso pode levar a uma queda na demanda depois.
No mercado cambial, há uma boa notícia: a expectativa de um dólar mais fraco pode aumentar margens e receitas no próximo trimestre.
Já o Morgan Stanley adotou uma visão mais otimista.
Em um relatório recente, o banco nomeou a Apple como sua “Top Pick” para 2025. Eles acreditam que os recursos de IA, mesmo que venham tarde, podem dar início a um novo ciclo de atualizações do iPhone.
A análise contrasta com a cautela de outros agentes de mercado, mas revela que parte do setor financeiro ainda aposta em uma virada da empresa.
As ações da Apple caíram cerca de 18% em 2025. Isso é pior do que o índice S&P 500. No dia 16 de maio, os papéis eram negociados a US$ 211,25 na Nasdaq.
Se a Apple não conseguir resolver o atraso na entrega de seus produtos de IA, analistas avisam que os problemas podem durar até depois de 2025. Isso pode impactar o lançamento de novas linhas de produtos importantes — e azedar o futuro da maçã.
Fonte: Exame