O psicólogo Jan Leonardi vê o o mercado de apostas online no Brasil com cifras impressionantes. “A gente tem já atualmente um dado de que costuma movimentar R$ 25 bilhões por mês em apostas. Isso é dado do Banco Central”, afirma.
Mas o dado mais alarmante, segundo ele, está na origem de parte desse dinheiro. “Desses R$ 25 bilhões, em torno de R$ 3 bilhões a R$ 4 bilhões são do Bolsa Família”, destaca, revelando o tamanho do estrago entre os mais pobres.
No 13º episódio da 3ª temporada do Mapa Mental, do canal GainCast, o psicólogo Jan Leonardi, doutor em psicologia clínica pela USP, jogou luz sobre um aspecto preocupante das apostas online no Brasil: o impacto devastador sobre as pessoas de baixa renda.
Segundo ele, as promessas de enriquecimento rápido se tornam especialmente perigosas para quem vive com pouco e acaba entregando o que tem — e o que não tem — na esperança de mudar de vida.
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O psicólogo critica o argumento de que “joga quem quer”. Segundo ele, o livre-arbítrio nessas situações é ilusório. “O poder de escolha de um indivíduo é totalmente contaminado por todos esses processos que a gente tá descreve aqui. É um falso livre-arbítrio”, afirma.
Para ele, influenciadores e publicidade maciça das bets criam um ambiente em que resistir é quase impossível, principalmente para quem vê no jogo a única saída para melhorar de vida.
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Mais vulneráveis
Para Jan Leonardi, o impacto das apostas online nas classes mais baixas não é apenas uma questão de comportamento individual, mas um reflexo direto das desigualdades sociais e da ausência de alternativas reais para mobilidade financeira. O psicólogo explica que, para quem tem pouco, a distância entre o que possui e o nada é mínima — e isso torna qualquer promessa de ganho rápido uma tentação poderosa.
“Quando essas pessoas têm muito pouco, o pouco e o nada tá muito perto ali. Imagina: eu acerto isso aqui, eu posso finalmente ter a minha casinha, posso ter minha geladeira, meu micro-ondas, melhorar minha vida”, pontua.
Além do desespero por uma melhora, Leonardi destaca que as consequências de uma perda são desproporcionais para os mais pobres. “É diferente de quem tem um patrimônio grande e arrisca um valor pequeno que não vai fazer falta. No caso das classes mais baixas, perder significa abrir mão do básico”, explica.
Uma aposta mal sucedida pode significar menos comida na mesa, a conta de luz atrasada ou o aluguel em risco. O sonho de mudar de vida vira um pesadelo de dívidas, conflitos familiares e, em muitos casos, depressão.
Outro fator agravante é a percepção distorcida gerada pela legalização das apostas. Segundo Leonardi, isso reforça a ideia de que o jogo seria uma opção segura. “A legalização traz uma falsa impressão de que tá tudo bem. Ah, se o governo legalizou, tá tudo bem”, diz.
Esse sentimento de falsa segurança, somado ao bombardeio de publicidade e ao acesso fácil via celular, cria um ambiente perfeito para que as armadilhas das bets capturem justamente os mais vulneráveis.
Por fim, ele alerta: não é uma questão de força de vontade ou escolha racional. É um sistema feito para explorar a esperança de quem mais precisa e transformar em lucro o sofrimento dessas pessoas.
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Fonte: InfoMoney