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Apagão na Europa: confundir ataque hacker e tempestade solar pode custar bilhões

Conforme noticiado pelo Olhar Digital, no dia 28 de abril, parte da Europa mergulhou na escuridão. Um apagão inesperado interrompeu o fornecimento de energia elétrica em Espanha, Portugal e até no sul da França. Milhões de pessoas foram afetadas. Trens pararam de funcionar, passageiros ficaram presos e os sinais de celular e internet caíram.

Três semanas depois, a origem do apagão ainda é um mistério. Suspeita-se de um ataque cibernético, mas há também a possibilidade de envolvimento do chamado “clima espacial“. Embora nenhuma tempestade solar tenha sido registrada no dia, especialistas alertam que essas situações exigem investigações rápidas para evitar impactos ainda maiores.

Apagão na Europa: confundir ataque hacker e tempestade solar pode custar bilhões
Aanimação mostra emissões de luz noturna durante o apagão ocorrido na Espanha e em Portugal em 28 de abril de 2025. Crédito: ESA

O problema é que os efeitos de um ataque digital e de uma tempestade solar são muito parecidos. Ambos conseguem derrubar redes elétricas, travar sistemas e causar falhas em comunicações. Isso atrasa diagnósticos e pode levar governos a tomar decisões erradas em momentos críticos.

Nos EUA, um teste foi feito em 2024 para simular esse tipo de emergência. O exercício contou com 35 órgãos governamentais. Durante uma das simulações, a Força Aérea e a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA) relataram uma tempestade solar. No entanto, outro setor afirmou que se tratava de um ataque hacker, mostrando como é difícil saber a causa real na hora.

Cada caso exige respostas específicas

Entender o que está acontecendo é essencial. Sistemas de energia, comunicação e transporte dependem de redes digitais vulneráveis tanto a falhas técnicas quanto a ataques. E uma resposta rápida pode significar economia de bilhões de dólares, além de salvar vidas em situações críticas.

Durante tempestades solares, o Sol libera partículas energéticas que viajam pelo espaço e atingem a Terra. Essas partículas interagem com o campo magnético do planeta, gerando correntes elétricas que podem danificar transformadores e derrubar linhas de energia.

Além disso, também afetam satélites, causando falhas em sistemas eletrônicos, bloqueando sinais de GPS e interferindo na comunicação com a Terra. Em casos graves, podem até destruir componentes de espaçonaves, exigindo consertos caros ou substituição.

Já ataques cibernéticos são feitos por pessoas. Hackers usam vírus sofisticados para invadir sistemas e desativar serviços essenciais. A diferença é que enquanto o clima espacial é natural e previsível até certo ponto, os ataques digitais são imprevisíveis e dependem da ação humana.

Cada um dos casos exige respostas específicas. Lidar com uma tempestade solar requer monitoramento do Sol e comunicação com operadores de satélites e redes elétricas. Já enfrentar um ataque cibernético envolve equipes de segurança digital e investigação de ameaças virtuais.

19 de maio de 2025 - 15:39
Largo do Marquês de Pombal, em Lisboa (Portugal), escuro, devido a apagão generalizado em 28 de abril de 2025. Crédito: Osvaldo Silva Angola – Shutterstock

Segundo James Spann, cientista sênior do Escritório de Observações do Clima Espacial do Departamento Nacional de Satélites, Dados e Informações Ambientais (NESDIS) da NOAA, no exercício realizado pela agência, ficou claro que a comunicação entre órgãos do governo precisa melhorar. Quando diferentes agências chegam a conclusões diferentes, a resposta demora. Isso pode aumentar os danos e colocar mais pessoas em risco.

Em entrevista ao site Space.com, Spann destacou que é preciso conhecer bem os sistemas afetados. Muitos satélites, principalmente os comerciais, não são bem compreendidos por cientistas do clima espacial. Isso dificulta prever como eles vão reagir a tempestades solares.

União de forças pode evitar mais apagão

Para evitar problemas maiores, é necessário que cientistas e operadores de satélites trabalhem juntos. A cooperação entre esses profissionais pode melhorar os alertas, permitir respostas mais rápidas e proteger melhor os serviços essenciais da sociedade.

Outro ponto crítico é a falta de dados precisos sobre o clima espacial. As ejeções de massa coronal (ou CMEs), por exemplo, são grandes nuvens de plasma que saem do Sol e podem atingir a Terra em até três dias. Esse tempo deveria ser suficiente para emitir alertas.

Porém, hoje os cientistas só conseguem saber com exatidão o impacto de uma CME cerca de 30 minutos antes de ela atingir o planeta. Isso acontece porque há poucas sondas dedicadas a monitorar o clima espacial em tempo real, e elas nem sempre estão posicionadas corretamente.

A principal sonda de alerta está no chamado Ponto de Lagrange 1, a 1,5 milhão de quilômetros da Terra. Ela é útil, mas limitada. Outras missões, como os observatórios Solar Orbiter, da Agência Espacial Europeia (ESA) e STEREO, da NASA, também ajudam, mas não foram feitas para monitoramento constante.

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Spann explica que há várias observações que poderiam melhorar as previsões, mas atualmente elas não existem. Em muitos casos, os cientistas sabem como prever melhor, mas não têm os instrumentos ou recursos financeiros para isso.

A NOAA, por exemplo, enfrenta dificuldades para investir em novas missões de monitoramento solar. O orçamento da agência sofreu cortes durante o governo Trump, o que compromete projetos importantes de observação e prevenção.

Tempestades solares prejudicam operação de satélites

A dependência crescente da sociedade em tecnologias espaciais também aumenta a gravidade do problema. Satélites em órbita baixa da Terra – até 1.000 quilômetros de altitude – são os mais afetados por tempestades solares, pois enfrentam maior arrasto atmosférico.

Esse arrasto faz os satélites perderem altitude e exige manobras de correção, o que consome combustível e aumenta o risco de colisões. Em tempos de tempestade solar, milhares de satélites podem manobrar ao mesmo tempo, criando um caos difícil de gerenciar.

19 de maio de 2025 - 15:39
Terra foi atingida por forte tempestade solar em 10 de maio de 2024 – imagem meramente ilustrativa. Crédito: Memory Stockphoto – Spaceweather

Spann alerta que, com o aumento do número de satélites na órbita da Terra, são necessárias mais observações e melhores modelos de previsão. Isso ajudaria a evitar surpresas e daria mais tempo para agir com segurança.

O atual ciclo solar, que começou a se intensificar em 2021, já trouxe consequências. Em 2022, a SpaceX perdeu dezenas de satélites Starlink logo após o lançamento. Eles não conseguiram subir à altitude ideal devido à densidade atmosférica aumentada pelas partículas solares.

Mais recentemente, em maio de 2024, a Tempestade Solar Gannon, a mais forte em 20 anos, provocou confusão na órbita da Terra. Milhares de satélites realizaram manobras emergenciais ao mesmo tempo, criando um verdadeiro congestionamento no espaço.

Esses episódios mostram que tanto eventos naturais quanto ações humanas podem afetar profundamente a infraestrutura moderna. Saber diferenciar um ataque digital de uma tempestade solar e estar preparado para ambos é mais do que uma questão técnica – é uma necessidade urgente.

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Fonte: Olhar Digital

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