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Animal gigante das profundezas é encontrado em quase todos os oceanos — e ninguém sabia até agora

Pesquisadores australianos revelaram que o crustáceo supergigante Alicella gigantea, conhecido por atingir até 34 cm de comprimento, pode habitar até 59% dos oceanos do planeta.

O dado se baseia na análise de 195 registros da espécie em 75 locais distintos nos oceanos Pacífico, Atlântico e Índico — incluindo algumas das regiões mais profundas da Terra.

Embora seja historicamente considerado raro, o estudo publicado na Royal Society Open Science, nesta semana, mostra que a percepção se deve à baixa densidade populacional e às limitações nos métodos de amostragem do passado.

Uma espécie presente a quase 9 mil metros de profundidade

O Alicella gigantea foi descrito pela primeira vez em 1899 e aparece em registros entre 3.890 e 8.931 metros de profundidade. É encontrado inclusive na Zona Hadal, que começa a partir de 6 mil metros — um ambiente hostil para a maioria das formas de vida.

Segundo o estudo, as filmagens e coletas mais recentes demonstram que o animal é amplamente distribuído, especialmente no Oceano Pacífico, onde estão 67 dos 75 pontos mapeados. Registros também foram confirmados no Oceano Atlântico e no Oceano Índico.

O Pacífico concentra a maior área de habitat potencial, com 104,6 milhões de km², seguido do Atlântico (47,7 milhões de km²) e do Índico (39,6 milhões de km²). Regiões como o Oceano Ártico e o Mar Mediterrâneo oferecem pouca ou nenhuma área dentro da faixa de profundidade ideal para a espécie.

DNA confirma: é uma única espécie global

Para entender se os exemplares observados seriam de diferentes espécies, os cientistas sequenciaram três regiões genéticas (16S, COI e 28S) de 31 espécimes e compararam com os dados já disponíveis em bancos genômicos.

O resultado foi surpreendente: apesar da distância geográfica entre os espécimes, todos pertencem à mesma espécie, com variações genéticas mínimas. “A análise de DNA mostrou que os indivíduos formam uma população com estrutura genética altamente conservada, com pouca ou nenhuma diferenciação regional”, concluem os autores.

As análises filogenéticas também indicaram que o crustáceo pode ter se espalhado por diversas regiões a partir de eventos geológicos e climáticos durante o Cenozóico (há menos de 66 milhões de anos), como a abertura de passagens oceânicas profundas e mudanças nos padrões de circulação das águas.

O que torna esse animal tão resistente?

O Alicella gigantea pertence à ordem dos anfípodes, um grupo de crustáceos que reciclam matéria orgânica nas profundezas — incluindo cadáveres de peixes, microrganismos e plantas marinhas. Com um corpo alongado e sem carapaça, sua fisiologia é adaptada para resistir às altíssimas pressões das profundezas oceânicas.

No novo levantamento, os pesquisadores utilizaram sistemas autônomos com câmeras HD e sensores ambientais para registrar a presença dos animais. Em um dos casos, foram observadas aglomerações de indivíduos entre 6.500 e 6.700 metros de profundidade no Pacífico Norte, algo inédito para a espécie até então.

“Essas imagens reforçam que não estamos diante de uma raridade, mas de uma espécie cosmopolita, com distribuição contínua e capacidade de ocupar um ambiente extremo e pouco explorado”, escrevem os cientistas.

Lacunas genômicas ainda limitam o conhecimento

Apesar dos avanços, o estudo alerta para a escassez de dados genômicos profundos sobre a espécie. Até hoje, apenas três genomas mitocondriais e três transcriptomas de anfípodes hadais foram publicados.

Isso limita a compreensão sobre como esses animais se adaptam à falta de luz, oxigênio e às pressões extremas. O sequenciamento genético em larga escala continua sendo um desafio, sobretudo devido ao tamanho gigante do genoma desses crustáceos (entre 4 e 34 bilhões de pares de base) e à degradação rápida de seu DNA quando trazidos à superfície.

Com o avanço das tecnologias de sequenciamento e das expedições submarinas, espera-se que esse conhecimento avance nas próximas décadas, preenchendo lacunas sobre a biodiversidade e evolução da vida nas zonas mais profundas do oceano.

Fonte: Exame

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