Às vésperas de um aguardado conjunto de medidas fiscais para substituir a alta do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), pesquisas de opinião voltaram a refletir a queda da popularidade do governo Lula.
57% desaprovam a terceira administração do petista, enquanto 40% aprovam, segundo levantamento da Genial/Quaest divulgado na quarta-feira (4). Não sabem ou não responderam são 3%. Em março, 56% desaprovavam e 41% aprovavam. Os que não sabem ou não responderam também eram 3%.
No domingo (8), a equipe econômica deve se reunir com parlamentares para discutir alternativas à elevação do IOF. A expectativa de economistas ouvidos pela CNN, porém, não é tão positiva tendo em vista a perda de popularidade e a eleição que se aproxima.
“Acho que as medidas vem bem brandas. Eles vão tentar apresentar alguma coisa, mas honestamente acho que há pouca disposição do governo de implementar medidas duras justamente por causa da eleição. O governo vai tentar mostrar que está comprometido, mas a efetividade vai ser baixa”, afirma Juliana Inhasz, professora de economia do Insper.
Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research, vê uma “breve janela de oportunidade” antes do ciclo eleitoral começar de fato, porém reconhece que à medida que o tempo passa, mais difícil fica para pautar medidas mais duras, que podem ser impopulares.
Ele olha para exemplos recentes de governos que não conseguiram se reeleger – como na Argentina e Estados Unidos – e teme que isso possa sinalizar um uso ainda maior da máquina pública.
“Crédito consignado para CLT não tem tido os efeitos esperados sobre a popularidade do presidente Lula. Houve um aumento da demanda por crédito, mas não vê na prática os resultados. Se o governo não conseguir usar essa janela de oportunidade para diminuir o risco-país, a volatilidade, e passar medidas estruturais, vai aumentar o gasto ano que vem e ter dificuldades, de modo que não deve cumprir o arcabouço em 2026”, pontua Sung.
Em 2023, no primeiro ano do atual governo, foi aprovado o novo marco fiscal. A regra substituiu o teto de gastos de Michel Temer, e a partir de então, as despesas do governo podem crescer até 70% da variação da receita do ano anterior.
Dentro dessa banda, as despesas podem oscilar entre 0,6% – em períodos de retração – e 2,5% – em momentos de expansão – ao ano com valores corrigidos pela inflação.
Porém, o que os economistas ponderam é que o arcabouço não foi suficiente para conter o crescimento das despesas.
“O governo fez uma opção de ampliar os gastos públicos desde a transição, uma ampliação muito maior do que era necessário para a política social”, observa Marcos Lisboa, ex-presidente do Insper e ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda no governo Lula 1.
“Eu estou preocupado, com a sensação que eu tive em 2013. Tinha uma economia ainda aquecida, emprego sendo gerado, mas as coisas pesadas no horizonte. Um problema fiscal grave, tanto dos entes subnacionais, como do governo federal, muita despesa contratada”, pontua.
Em dezembro, a dívida bruta do governo geral era de 73,83% do Produto Interno Bruto (PIB). Em abril passado chegou a 76,17%.
A Instituição Fiscal Independente do Senado (IFI) alertou em seu último Relatório de Acompanhamento Fiscal (RAF) que o arcabouço de fato não está sendo capaz de estancar a dívida pública. Em meio a essas incertezas, a IFI estima que a dívida pública deverá fechar 2025 em 79,8% do PIB e, em 2026, em 84%.
Em participação no Fórum Esfera, Jorge Lima, secretário de Desenvolvimento Econômico do Estado de São Paulo, corroborou com o argumento de que o arcabouço fiscal está deteriorado.
“Você tem um poder central que pode atrapalhar, ou não, como um todo. Você tem um país com uma taxa de juros que é questionável, não sei para onde vai, tem um populismo exacerbado. Toda vez que faz economia de governo, você morre”, indagou.
Peso dos gastos obrigatórios
Mirando a baixa popularidade, o governo prepara mais uma série de medidas de impacto rápido e direto, sobretudo envolvendo oferta de crédito a baixo custo, e pretende anunciá-las ao longo do segundo semestre.
Na lista, figuram o financiamento de motocicletas a entregadores de comida, um programa de crédito para jovens abrirem seu primeiro negócio e para donas de casa reformarem seus imóveis e o acesso à cesta básica a idosos carentes.
Isso, num momento em que o espaço disponível no orçamento já é curto. Das despesas primárias de R$ 2,389 trilhões previstas para este ano, R$ 2,168 trilhões (90,75%) são gastos obrigatórios, enquanto R$ 221,1 bilhões (9,25%) são reservados para investimentos.
“Então, você tem várias avenidas aí que o governo vai buscar de alternativa para tentar ter um maior apoio popular na véspera da eleição, muitas das quais acabam obviamente pressionando o gasto público”, reafirma Murilo Viana, consultor em finanças públicas da GOAssociados.
“Então, a cobertura é curta. E dentro desse cenário é muito difícil imaginar que o governo vai fazer um ajuste estrutural do ponto de vista fiscal e também vai tender a adotar medidas para obtenção de receitas extraordinárias para tentar desafogar ali as despesas discricionárias dentro do orçamento”, conclui.
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Fonte: CNN Brasil