A volta de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos reacende incertezas econômicas e políticas que, para a Absolute Investimentos, representam mais do que uma simples reedição de políticas do passado: tratam-se de “mudanças de paradigma” que estão redesenhando a ordem econômica global. A avaliação foi feita por Felipe Tâmega, economista-chefe da gestora, e João Bragança, responsável pelas estratégias internacionais, no episódio 159 do programa Outliers, do InfoMoney.
“O que está acontecendo no mundo não é só uma repetição do governo Trump. É uma ruptura. As políticas econômicas adotadas apontam para outro caminho, com foco em tarifas, segurança nacional e uma nova lógica de alianças geopolíticas”, disse Tâmega.
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Pano de fundo
O pano de fundo é o novo pacote de tarifas agressivas sobre importações implementado por Trump, que, segundo o economista, tem quatro frentes claras: combate ao fentanil, repatriação de cadeias produtivas estratégicas, correção do que o governo americano vê como uma “injustiça comercial” e aumento da arrecadação. “As tarifas também ajudam a reduzir o déficit fiscal americano, que é elevado”, afirmou.
O gestor aponta que estamos vivendo uma reorganização das cadeias globais de produção, com menor integração entre os países e mais foco em segurança estratégica. “Não se trata apenas de uma guerra tarifária. É um redesenho da ordem global, baseado em influência política, ideologia e segurança nacional.”
No plano macroeconômico, Tâmega afirma que o impacto dessas medidas é ambíguo: “Nos EUA, estamos vendo uma desaceleração do crescimento, mas não uma recessão. O resto do mundo compensa parcialmente esse movimento”. Ele destaca que países emergentes e regiões neutras, como Brasil, México e Canadá, podem atrair fluxos de capital e investimentos, beneficiando-se dessa nova configuração geopolítica.
“O estoque de capital nos emergentes ainda é baixo, então qualquer fluxo, por menor que seja, faz muita diferença. Há espaço para realocação de recursos em economias menores, desde que consigam oferecer estabilidade institucional e boas oportunidades”, afirmou.
Ciclo das commodities
Com relação às commodities, Bragança aponta que o atual ciclo é marcado por queda de preços, com destaque para o petróleo, pressionado pela fraqueza da demanda e aumento da oferta. Esse movimento, segundo ele, ajuda a mitigar os efeitos inflacionários que as tarifas americanas poderiam gerar. “Estamos diante de um típico choque de oferta, mas com vetores deflacionários que amortecem a pressão sobre os preços.”
Na China, a perspectiva é de aumento gradual do consumo, impulsionado por um plano que mistura estímulos de curto, médio e longo prazo. “O chinês sempre poupou muito. Agora, com mais clareza sobre o rumo da economia, o país tende a consumir mais. Isso pode sustentar o crescimento global em um ambiente onde os Estados Unidos estão desacelerando”, comentou Bragança.
Apesar da narrativa alarmista de ruptura global, os gestores da Absolute são enfáticos: não há colapso à vista, mas uma realocação profunda — e quem souber navegar essa nova ordem, poderá encontrar oportunidades significativas. “Estamos vendo uma mudança nas placas tectônicas da economia mundial. E isso exige atenção redobrada dos investidores”, concluiu Tâmega.
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Fonte: InfoMoney