Nunca imaginei que um luto pontifício acabaria virando case de inteligência artificial no meu computador. Ontem abri o ChatGPT e digitei — mais por curiosidade técnica do que por devoção —: “Liste os dez cardeais mais prováveis e a chance de cada um ser eleito papa.”
O modelo respondeu em segundos, ranqueando Pietro Parolin – atual Secretário de Estado – com 37 % de probabilidade, seguido de Luis Antonio Tagle. Descobri depois que a mesma cifra já circulava na imprensa: a reportagem do Economic Times dizia que “até a IA da OpenAI aposta em Parolin”.
IA tropeçando nos muros da Capela Sistina
Comparei as respostas em diferentes modelos, respostas parecidas. Comparei meu prompt com outros. A South China Morning Post submeteu a mesma pergunta a ChatGPT, Grok e Gemini; todos patinaram na hora de cravar um nome, admitindo que o conclave continua um “enigma quase impenetrável” para a inteligência artificial.
A cotação do Espírito Santo
Foi quando decidi seguir o dinheiro. No Polymarket, bolsa cripto de previsões, mais de US$ 3 milhões foram negociados no contrato “Who will be the next Pope?”, recorde para um conclave. Parolin cedo apareceu em primeiro, Tagle em segundo, Erdő e Turkson em seguida.
Especuladores estão usando o ChatGPT ou o ChatGPT que está se embasando nos investidores? Vale lembrar que especular sobre papas não é moda nova: em 2005 a bolsa de apostas irlandesa já tinha faturado US$ 382 mil em apostas sobre Bento XVI.
Entre prompts e apostas
O exercício ilumina duas tendências que me fascinam. A primeira é a financialização total do imponderável: se existe incerteza — seja clima, eleição ou conclave — alguém tokeniza, transforma em “ativo negociado em bolsa”. A segunda é a democratização do oráculo: qualquer pessoa com um celular e cinco dólares consegue “investir” na fumaça branca. Isso não torna a escolha menos sagrada, mas a coloca sob o microscópio de dados que antes ficavam restritos a vaticanistas veteranos.
Quando a chaminé finalmente soprar, talvez eu perca algumas fichas virtuais — ou ganhe, quem sabe. Mas o verdadeiro prêmio já veio: descobrir que, mesmo no ritual mais antigo da cristandade, a curiosidade de um engenheiro de IA pode render uma pequena tese sobre como algoritmos e mercados, juntos, tentam precificar o insondável.
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