Por Guta Tolmasquim*
Eu estava ansiosa para voltar ao Vale do Silício um ano depois da última ida ao Brazil at Silicon Valley, um evento idealizado por estudantes de Berkeley e Stanford que reúne empreendedores brasileiros para dois dias de painéis e networking. Queria entender as conversas sobre inteligência artificial que estão rolando por lá, e confesso que tinha medo de ter perdido alguma atualização importante.
Inteligência artificial foi o tema da edição de 2024. Não tinha como ser outro, visto que todo mundo tentava entender o impacto da IA nos negócios. Estávamos refletindo sobre como a mudança iria transformar as empresas na prática, o que iria mudar na forma de investir e empreender. A sensação que ficou é de que estávamos todos construindo e reconstruindo nossas teses.
Um ano depois, essa tecnologia continua mudando mais rápido do que qualquer coisa antes vista. Fica a dúvida: como construir uma empresa sólida quando tudo à nossa volta parece estar girando rápido demais?
A IA será capaz de sentir emoções? Este professor de Stanford parece ter a resposta
Trocas em Stanford
Na véspera da conferência principal fui para a universidade de Stanford, na Califórnia, para o AI Founder Trek, um evento paralelo organizado pela Alexia Ventures, um fundo de investimento de capital de risco que investe em B2B Software e IA na América Latina.
Na sala, por volta de 40 fundadores de startups de software e IA e alguns investidores. A maioria brasileiros. No centro da roda: Jason Green, fundador e general partner da Emergence Capital; Avanish Sahai, especialista em plataformas e ecossistemas, ex-ServiceNow e ex-Board Member da Hubspot, atualmente no Board da BSV, e Rahul Roy-Chowdhury, ex-CEO do Grammarly. Nós fazíamos perguntas para eles.
Ironicamente, minha conclusão me centrou em meio ao frenesi. Em uma época em que a tecnologia evolui bizarramente rápido, os fundamentos se mantêm os mesmos. A sensação que fiquei é que finalmente estamos vendo além do hype da IA. E quando a neblina passa, o importante segue sendo o que é importante.
IA é o novo pano de fundo. O paradigma mudou, mas o jogo é o mesmo. Problema certo, métrica certa, execução disciplinada.
Deixo com vocês 7 percepções que anotei sobre como manter clareza enquanto o mercado está empolgado e correndo atrás de novidades:
- Como o produto está mudando rápido, o melhor é que o foco esteja no problema que a empresa resolve. Flexível na solução, firme no problema. É sobre não se apaixonar por tecnologia (AI, LLMs, prompts), mas entender profundamente o que precisa ser resolvido para seu cliente.
- Foco em execução, não em narrativa. Enquanto muita gente está contando história de “ser uma empresa de IA”, o que importa mesmo é executar, entender o cliente, melhorar o produto, distribuir com eficiência. As pessoas não conseguem distinguir ruído, mas conseguem entender valor real gerado.
- É muito importante ter a métrica certa, que reflete sucesso, e não a métrica usual do passado. Como o comportamento está mudando, métricas que sempre foram usadas podem enganar. O Rahul deu o exemplo de quando ele geria o Google Chrome e eles mediam quantos usuários usavam o navegador. As pessoas estavam trocando a página principal do telefone para as redes sociais e ser o maior navegador era menos relevante no novo contexto.
- Atualmente, moat (defensabilidade) é entender o problema do cliente profundamente e ter os dados certos. Não é o modelo mais sofisticado, nem o time com mais doutores em IA. É quem consegue entregar resultado com consistência, e isso vem de entender o cliente e ter base de dados para refinar os modelos.
- Cultura como única vantagem durável. Num ambiente onde tudo muda, o que permanece é como a empresa decide, aprende, e prioriza.
- Ciclo do hype: todo novo ciclo tecnológico começa com muito capital, muita confusão, muita aposta. Mas no fim, o que sobrevive é o que tem unidade econômica boa, resolve problema real e distribui bem.
Ciclo de rebalanceamento: A onda começa com tudo é diferente agora e vai voltando, mas o que importa mesmo continua igual. - Aprendizagem coletiva. Estamos todos aprendendo ao mesmo tempo, sem livro de regras. Isso exige humildade, velocidade de aprendizado e capacidade de reavaliar tudo.
*Guta Tolmasquim é fundadora e CEO da Purple Metrics, software de atribuição de marketing que coloca branding na conta.
Fonte: Exame