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Tensão com os EUA: por que deixar seu dinheiro só no Brasil pode ser um erro

11 de julho de 2025 - 18:08(Foto: Unsplash)

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O CDI está nas alturas, pagando quase 15% ao ano. De cara, pode parecer tentador concentrar tudo em ativos atrelados ao índice – afinal, mais de 1% ao mês não é algo comum. Mas num horizonte mais longo, de uma década, o indicador local, que acumulou 38,8%, fica muito atrás de outras classes globais: o S&P 500 subiu 258%, o ouro valorizou 181% e até o portfólio 60/40, “famosinho” lá fora, entregou 138%.

Esse desempenho reforça um ponto repetido por especialistas: diversificar internacionalmente protege e fortalece o portfólio. Não só porque entrega retorno superior no longo prazo, mas porque reduz a exposição ao risco político e econômico do Brasil – que, aliás, está alto após Donald Trump anunciar tarifa de 50% para o país por questões mais políticas do que econômicas.

“O dólar é um mecanismo de proteção de patrimônio contra a perda de poder de compra ao longo do tempo. Se eu não fizer valer desse artifício para proteger o meu patrimônio ao longo do tempo, fico muito mais suscetível aos choques de Brasil, que cada hora vem de um lado”, disse Rodrigo Sgavioli, head de alocação do research da XP.

Mesmo carteiras que parecem diversificadas dentro do país – com ativos prefixados, pós-fixados, atrelados à inflação, ações e multimercados – apresentam alta correlação entre si (algo como 60% e 70%), segundo Sgavioli, o que limita os benefícios da diversificação local. Já os ativos internacionais seguem outras dinâmicas e ajudam a quebrar essa sincronia.

Outro ponto citado pelo especialista é que o mercado de capitais brasileiro representa apenas 1% a 2% do volume global. “Se eu quiser hoje capturar prêmio em empresas que estão construindo o capitalismo digital dos próximos 10, 20, 30 anos, não vou conseguir fazer isso investindo só no Brasil.”

Renda variável gringa

As empresas de tecnologia dos EUA seguem como protagonistas na renda variável do exterior – mesmo com preços elevados e críticas ao comportamento de Trump. “Ainda que os valuations estejam esticados, as techs e as blue chips americanas continuam sendo opções relevantes”, disse Lucas Sharau, economista e sócio da iHUB Investimentos. “São companhias sólidas, com histórico de crescimento e forte presença global.”

João Piccioni, CIO da Empiricus Asset, também mantém a aposta em techs americanas. “A gente vem defendendo essa alocação faz algum tempo.” Para ele, porém, há espaço para ampliar o leque. “Nesse ano, Europa também entra em uma dinâmica de crescimento mais favorável, com política fiscal ativa e alívio monetário. ETFs ligados à Alemanha, por exemplo, estão no nosso radar”.

Renda fixa gringa

Quando o assunto é renda fixa, os títulos públicos dos EUA – os famosos Treasuries – costumam ser o centro das atenções. No início do ano, muitos analistas consideravam a possibilidade de uma recessão nos Estados Unidos. Por isso, cogitou-se alongar a duration nesse tipo de investimento, já que, em cenários recessivos, a curva de juros tende a fechar rapidamente diante de cortes agressivos promovidos pelo Federal Reserve (Fed, o banco central do país).

Com o passar dos meses, porém, e diante de um ambiente mais claro de desaceleração econômica com inflação ainda elevada, essa visão mudou. Agora, por exemplo, a equipe da XP acredita que o Fed não terá pressa em cortar os juros, devido à persistência da pressão inflacionária e aos desafios fiscais dos EUA, como o aumento do endividamento público. Por isso, a gestora prefere manter uma duration mais curta, em torno de quatro anos.

Além disso, Sgavioli afirmou que o risco soberano americano já não é tão seguro quanto antes, o que tem gerado discussões sobre a sustentabilidade das taxas dos títulos públicos de longo prazo.

Nesse cenário, a XP tem buscado aumentar seletivamente sua exposição ao risco privado, principalmente em títulos high yield de alta qualidade. Embora os spreads estejam comprimidos, o racional é que, se a economia americana não se deteriorar de forma significativa, o risco privado ainda pode oferecer uma boa relação risco-retorno. A estratégia, portanto, combina uma duration menor com maior seletividade na renda fixa privada.

Quanto investir lá fora?

O percentual de investimento no exterior varia conforme o perfil de cada investidor. No entanto, segundo analistas, a recomendação mínima costuma ser de 15% (60% em renda fixa e 40% em renda variável). Um dos motivos seria neutralizar os impactos cambiais nos produtos brasileiros.

O estudo Impacto Cambial no Consumo dos Brasileiros e a Necessidade de Diversificação Internacional, divulgado pela Fundação Getulio Vargas (FGV) no início deste ano, mostrou que todas as faixas de renda estão expostas aos efeitos da valorização do dólar sobre o padrão de consumo, com impacto estimado entre 16% e 18%.

De olho nos alternativos

Na hora de montar o portfólio, a recomendação também é que o investidor não deixe de considerar ativos como o ouro e o Bitcoin (BTC), ambos vistos como reservas de valor relevantes. “Temos aí os ETFs agora na B3, que podem ser um instrumento bastante interessante para a diversificação de portfólio e para, vamos dizer, trazer esse poder de fogo para a carteira nessa reta final do ano”, disse Piccioni, da Empiricus Asset.

Sobre o ouro, Sharau, da iHUB Investimentos, falou que diferente das moedas, que podem ser emitidas à vontade pelos governos, a commodity tem oferta física limitada, e isso lhe confere valor em contextos de expansão fiscal, aumento da dívida pública ou perda de confiança nas moedas fiduciárias. “Por isso, segue sendo uma proteção estratégica contra instabilidade e inflação”.

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Fonte: InfoMoney

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