A Ubisoft se tornou alvo novamente de jogadores por causa da preservação de jogos. Desta vez, um contrato de usuário final (EULA) da empresa gerou polêmica por conter uma cláusula dizendo que jogadores devem destruir cópias físicas de seus jogos caso eles deixem de ser vendidos.
Segundo a atualização do acordo de usuário, disponível no site da companhia, o jogador deve desinstalar o game e destruir suas cópias físicas caso o contrato seja encerrado ou o título seja descontinuado. “Em caso de rescisão por qualquer motivo, Você deverá desinstalar imediatamente o Produto e destruir todas as cópias do Produto em Sua posse”, dizem os termos.
A situação repercutiu principalmente por causa de outros posicionamentos da companhia, que no ano passado retirou o jogo The Crew da conta de usuários após o título ter sido desativado. No entanto, o buraco é mais embaixo: como notado por usuários, a companhia não é a única a trazer esse tipo de cláusula em seus contratos. A cláusula polêmica é bastante comum no mercado, só não é notada com frequência por jogadores.
Entenda a polêmica envolvendo a Ubisoft e outras empresas de games
O trecho do contrato reacendeu o debate sobre preservação de jogos e direitos do consumidor. Muitos jogadores questionaram nas redes sociais o impacto de uma cláusula como essa, principalmente no caso de mídias físicas, que tradicionalmente não dependem de servidores ou licenças digitais para funcionar.
Apesar do foco inicial na Ubisoft, outras empresas também contam com cláusulas similares em seus contratos. Usuários apontaram que acordos semelhantes também aparecem em EULAs de outras grandes companhias, incluindo Activision, SEGA, EA, Microsoft e Square Enix.
As companhias possuem cláusulas relacionadas à destruição de cópias de jogos em caso de rescisão do contrato em títulos populares como Metaphor ReFantazio e Elden Ring, por exemplo. O usuário do Reddit Max Pantera listou alguns dos títulos e estúdios que contam com esse trecho de texto em seu acordo de uso. Confira a lista:
- Ubisoft
- Larian Studios (Divinity Original Sin, Baldur’s Gate 3) — a cláusula só tem efeito se o próprio jogador decidir encerrar o contrato.
- Square Enix (Final Fantasy XIV)
- Genshin Impact / COGNOSPHERE
- Death Stranding
- Bethesda (The Elder Scrolls IV: Oblivion)
- Activision (Call of Duty)
- Bandai Namco (Elden Ring)
- SEGA (abrange toda a série Yakuza, Persona e outros títulos, como Metaphor: ReFantazio) — Todos os jogos da SEGA possuem cláusulas similares, com o mesmo texto replicado nos contratos.
- No Man’s Sky
- Star Wars Jedi: Fallen Order (EA) — jogos mais antigos da EA trazem essas cláusulas, mas títulos mais recentes não apresentam esse trecho.
- Warhammer 40,000: Space Marine 2
Essas cláusulas, no entanto, são frequentemente vistas como “letras mortas” — ou seja, existem no papel, mas dificilmente são aplicadas de forma prática ou judicial. Isso porque, na maioria dos casos, não há como as empresas fiscalizarem o cumprimento desse tipo de regra em cópias físicas.
O que diz a Ubisoft sobre a polêmica
Após a repercussão negativa, a Ubisoft se manifestou oficialmente sobre o caso. Em nota publicada nas redes sociais, a empresa afirmou que a cláusula polêmica não é novidade e já fazia parte do contrato de usuário há mais de 10 anos.
Segundo o posicionamento, o trecho foi originalmente incluído como uma formalidade legal, para esclarecer que, ao fim da licença, o usuário não teria mais direito de acessar ou utilizar o produto. A empresa reforçou que a cláusula tem um caráter jurídico, sem relação direta com a prática comum dos jogadores.
Por fim, a Ubisoft reconheceu que a linguagem usada no contrato pode soar “forte” ou desatualizada em relação à forma como as pessoas consomem jogos atualmente. “Entendemos que a linguagem da cláusula pode soar incomum ou fora de sintonia com a forma como os jogadores experimentam e valorizam seus jogos, e estamos revisando essa cláusula como parte dos nossos esforços contínuos para garantir que nossas políticas reflitam as expectativas dos jogadores e a natureza em constante evolução da nossa indústria”, afirmou a empresa.
Preservação de jogos e o futuro do colecionismo
A discussão reacendeu o debate sobre o papel dos colecionadores e dos preservacionistas de jogos. Muitos especialistas apontam que, mesmo com cláusulas como essa, a prática comum entre jogadores é manter suas cópias físicas como parte de acervos históricos ou coleções pessoais, ignorando esse tipo de exigência.
Além disso, a cláusula não impede o funcionamento de mídias físicas que não dependem de servidores online para rodar. Ou seja, em muitos casos, o jogo continuará funcionando normalmente, mesmo que a empresa solicite sua destruição nos contratos.
No fim das contas, o caso evidencia um dilema cada vez mais presente na era digital: até onde vai o direito do consumidor em relação aos produtos que adquire — especialmente no mercado de jogos, onde licenças e contratos se sobrepõem ao conceito tradicional de “propriedade”.
A situação também serve de aviso tanto para jogadores quanto empresas: sempre leiam contratos antes assinar. E aí, qual a sua opinião sobre o assunto? Comente nas redes sociais do Voxel e TecMundo!
Fonte: TecMundo