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Redemoinhos de poeira em Marte podem ter raios no interior

Um estudo recente publicado na revista Physics of Plasmas descobriu que os redemoinhos de poeira em Marte podem ser bem mais intensos do que se pensava. A equipe revelou que o movimento das partículas pode formar correntes elétricas e criar raios.

A preocupação é que a poeira eletrificada possa aderir aos equipamentos da NASA no Planeta Vermelho, como o rover Perseverance, e dificultar sua atuação.

Redemoinhos de poeira em Marte podem ter raios no interior
Tempestade de poeira sobre a superfície de Marte em 2018 (Crédito: ESA / DLR / FU Berlin)

Redemoinhos de poeira são comuns em Marte

Antes de tudo, é preciso entender como esses redemoinhos se formam:

  • Conforme o Sol aquece a superfície do Planeta Vermelho, o ar também se aquece. E ar quente é mais leve que ar frio, por isso, sobe;
  • No entanto, bolsões de ar quente sobem através do ar frio, o que forma uma corrente ascendente e provoca uma mudança na dinâmica dos ventos. Isso cria um vórtice;
  • Em algumas condições, o vórtice começa a girar e se estender verticalmente (como um macarrão), ganhando velocidade;
  • À medida que a velocidade aumenta, o vento levanta poeira, criando um redemoinho.

Esse fenômeno é relativamente comum na superfície de Marte, já que ela é seca e empoeirada. E como o Planeta Vermelho tem menor gravidade e atmosfera rarefeita, os redemoinhos sobem muito mais alto do que estamos acostumados a ver, podendo chegar a três vezes o tamanho de um equivalente na Terra.

O novo estudo sugere que essas nuvens de poeira em movimento têm raios em seu interior.

3 de julho de 2025 - 22:59
Um redemoinho de poeira na superfície de Marte, capturado pela sonda Mars Reconnaissance Orbiter (Crédito: NASA/JPL-Caltech)

Uma nuvem de raios e poeira

Na Terra, os raios acontecem durante tempestades. Isso porque a água e o gelo no interior das nuvens se agitam violentamente e o atrito gera cargas elétricas. No entanto, a própria atmosfera terrestre não permite que essas cargas fluam, o que faz elas se acumularem. Quando elas estão tão tensas que não conseguem mais se manter inteiras, se rompem e atravessam as atmosferas, dando origem aos raios e relâmpagos.

O estudo sugere que algo semelhante acontece em Marte. Porém, em vez de se formarem nas nuvens com o atrito entre gelo e água, eles se formam dentro dos redemoinhos com o atrito da própria poeira.

Para chegar nessa conclusão, a equipe usou modelos computacionais que demonstraram como as cargas elétricas (que precedem os raios) se distribuem dentro de um redemoinho.

Por enquanto, não há nenhuma observação direta do fenômeno. Varun Sheel, chefe da Divisão de Ciência Planetária do Laboratório de Pesquisa Física da Índia e líder do trabalho, afirmou ao site Space.com que a possibilidade de que um dia possamos descobrir esses raios é a parte mais emocionante dos resultados.

O artigo traz ainda outra consideração até então inexplorada: a distribuição das partículas de poeira dentro do redemoinho por tamanho.

3 de julho de 2025 - 22:59
Painéis solares da sonda InSight, da NASA, cobertos por poeira marciana (Crédito: NASA/JPL-Caltech)

Nem todo mundo concorda

Yoav Yair, professor da Universidade Reichman, em Israel, que estuda raios planetários, não está tão convencido disso. Também ao site, ele contrariou a sugestão do estudo:

Estou surpreso que os autores discutam a probabilidade de raios dentro do redemoinho de poeira enquanto negligenciam o fato de que poeira altamente carregada pode descarregar em campos elétricos muito mais baixos… anulando a possibilidade de raios.

Yoav Yair, professor da Universidade Reichman

Já para Steven Desch, professor de astrofísica na Universidade Estadual do Arizona, a previsão de raios é muito difícil – até na Terra. Ele acredita que apenas observações diretas podem confirmar o fenômeno (o que, como falamos, ainda não aconteceu).

Yair e Desch não participaram do estudo.

3 de julho de 2025 - 22:59
Perseverance, rover da NASA em Marte (Imagem: NASA/Instagram)

Redemoinhos de poeira de Marte podem danificar rovers

Os redemoinhos de poeira podem colocar em risco os rovers presentes na superfície de Marte – e os raios poderiam piorar a situação.

O rover Viking, da NASA, foi a primeira nave a relatar as nuvens empoeiradas no Planeta Vermelho. Mais tarde, Curiosity e Perseverance também registraram imagens desse fenômeno.

No geral, a poeira pode ser um empecilho. Já em alguns casos, pode ser benéfica, como aconteceu com o rover Spirit. Na ocasião, em 2005, o redemoinho soprou a poeira acumulada no equipamento e permitiu que ele voltasse a funcionar com altos níveis de energia.

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No entanto, uma possível poeira eletrificada pode ser um novo problema. Segundo Yair, ela seria capaz de aderir às superfícies condutoras do rover, como rodas, painéis solares e antenas, e diminuir a disponibilidade de energia solar, atrapalhar as comunicações e até complicar o movimento das máquinas.

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Fonte: Olhar Digital

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