O Pentágono divulgou na quinta-feira (26) novos detalhes sobre como os Estados Unidos se prepararam para os bombardeios contra três instalações nucleares do Irã, sobre as equipes que realizaram a ofensiva e como os iranianos tentaram fortificar uma das instalações cruciais para seu programa nuclear.
Em uma coletiva de imprensa, que o presidente Donald Trump havia prometido que seria “interessante e irrefutável”, o secretário de Defesa Pete Hegseth disse que os EUA realizaram “a operação militar mais secreta e complexa da história”.
Foi o chefe do Estado-Maior Conjunto, general Dan Caine, quem apresentou detalhes convincentes sobre como a missão altamente sofisticada foi conduzida.
A coletiva, no entanto, não forneceu novas informações que apoiassem a afirmação de Trump de que os ataques “obliteraram” o programa nuclear iraniano.
O que o Pentágono revelou sobre os ataques dos EUA?
O general Dan Caine revelou detalhes sobre a equipe de bombardeio que participou da missão, bem como os extensos preparativos realizados para ela em todas as Forças Armadas.
Tantos especialistas trabalharam no projeto das bombas que atingiram seus alvos que se tornaram os usuários com mais horas de ‘supercomputador nos Estados Unidos da América” em determinado momento, comentou.
As tripulações que voaram na missão de 37 horas incluíam homens e mulheres, com patentes que iam de capitão a coronel.
Entre elas, estavam integrantes da ativa da Força Aérea e da Guarda Aérea Nacional do Missouri. A maioria era formada pela Escola de Armas da Força Aérea – uma academia de elite no deserto de Nevada.
“Quando as tripulações foram trabalhar na sexta-feira (20), deram um beijo de despedida em seus entes queridos, sem saber quando ou se voltariam para casa”, destacou Caine.
“No final da noite de sábado (21), suas famílias souberam do que estava acontecendo”, ressaltou.
Quando os bombardeiros retornaram ao Missouri, as famílias das tripulações “estavam lá, com bandeiras hasteadas e lágrimas escorrendo”, acrescentou.
Ainda segundo as autoridades, o Irã tentou fortificar a instalação nuclear de Fordow, que está localizada no fundo de uma montanha, dias antes dos ataques, cobrindo com concreto os dutos de ventilação por onde as bombas americanas penetrariam.
“Não vou compartilhar as dimensões específicas da capa de concreto. Mas vocês devem saber que sabemos quais eram as dimensões dessas capas de concreto. Os planejadores tiveram que levar isso em conta. Eles levaram tudo em conta”, ponderou.
Apesar dos ajustes de última hora necessários, Caine insistiu que a missão correu conforme o planejado e que as enormes bombas destruidoras de bunkers de 13.660 kg funcionaram “conforme projetado” durante seus primeiros usos em combate.
“Sabemos que os jatos de cauda viram as primeiras armas funcionarem”, sustentou o general.

Durante a coletiva, Caine exibiu um vídeo que demonstrava como as bombas enormes devem funcionar. As imagens em câmera lenta mostraram uma bomba penetrando o que parecia ser um tipo de bunker.
Um brilho alaranjado foi emitido de uma passagem aberta visível na lateral da instalação, seguido por uma grande bola de fogo.
“É claro que ninguém estava dentro do alvo, então não temos vídeo dele”, comentou o general.
Perguntas sem resposta após ataques dos EUA
Embora as autoridades militares tenham fornecido algumas novas informações sobre o planejamento dos ataques dos Estados Unidos, não ofereceram nenhuma nova evidência de sua eficácia contra o programa nuclear iraniano.
Tanto Caine quanto o secretário de Defesa Pete Hegseth encaminharam perguntas sobre isso às agências de Inteligência dos EUA.
Os comentários de ambos se concentraram na instalação nuclear de Fordow. Duas outras instalações que foram alvos, Natanz e Isfahan, não foram mencionadas.
Assim, a extensão total dos danos nas instalações permanece incerta.
Em Fordow, Hegseth observou que alguém precisaria de “uma pá grande” para avaliar completamente o interior da instalação, acrescentando que “ninguém lá embaixo é capaz de avaliar” os danos.
Caine afirmou que o Estado-Maior Conjunto dos EUA não realiza avaliações de danos no campo de batalha “de propósito” e encaminhou perguntas específicas sobre a extensão da eficácia dos ataques à comunidade de inteligência dos EUA.
“Nós não avaliamos nossa própria lição de casa. A comunidade de inteligência avalia”, adicionou.
Uma avaliação inicial da Agência de Inteligência de Defesa do Pentágono, noticiada pela CNN e por vários outros veículos, indicou que os ataques não destruíram os principais componentes do programa nuclear iraniano e provavelmente apenas o atrasaram em meses.
O diretor da CIA, a agência de Inteligência dos EUA, John Ratcliffe, afirmou posteriormente que o órgão soube que as instalações foram destruídas e “teriam que ser reconstruídas ao longo dos anos”.
A avaliação inicial da Agência de Inteligência de Defesa, observou Hegseth, indicava que poderia levar semanas para que surgisse uma imagem mais clara sobre a eficácia dos ataques e seu impacto no programa nuclear iraniano.
Ele afirmou que se tratava de um “ataque historicamente bem-sucedido”, mas comentou que as avaliações desse sucesso ainda estão em andamento.
Hegseth continuou defendendo a alegação de Trump de que o programa nuclear iraniano havia sido “obliterado”, evitando questionamentos sobre como o presidente chegou a essa conclusão poucas horas após o lançamento das bombas.
“Posso garantir que vocês, o presidente e sua equipe, a comunidade de inteligência, nossa equipe e outros, estão fazendo todas as avaliações necessárias para garantir que a missão tenha sido realmente bem-sucedida”, destacou Hegseth.
Embora o relato de Caine sobre a missão tenha fornecido alguns dos detalhes mais concretos que os EUA já deram sobre os preparativos para a realização da missão e incluído elementos humanos, Hegseth adotou um tom mais pugilístico e político, criticando a cobertura da mídia sobre as consequências da missão.
Esse é um papel familiar para Hegseth, que é conhecido como um defensor ferrenho de Trump diante das câmeras.
Na quinta-feira, parecia que o chefe estava de olho: logo depois de repórteres questionarem se veículos vistos do lado de fora de uma das instalações antes dos ataques poderiam indicar que o Irã havia transferido urânio enriquecido preventivamente do local, Trump recorreu às redes sociais para minimizar a ideia.
“Os carros e caminhões pequenos no local eram de operários de concreto tentando cobrir a parte superior dos poços. Nada foi retirado das instalações”, comentou o presidente no Truth Social.
*Zachary Cohen, Haley Britzky e Natasha Bertrand, da CNN, contribuíram com a reportagem
Fonte: CNN Brasil