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Por que as ações da Petrobras viraram ‘termômetro’ para o conflito Irã X Israel-EUA?

Sede da Petrobras 9/03/2020 REUTERS/Sergio MoraesSede da Petrobras 9/03/2020 (Foto: REUTERS/Sergio Moraes)

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As ações da Petrobras (PETR3;PETR4) têm sido destaque do Ibovespa em junho em meio aos conflitos geopolíticos que impactam o preço das commodities. Na prática, elas têm funcionado como um “termômetro” do que tem ocorrido em termos de expectativas sobre escalonamento dos conflitos entre Irã X Israel e EUA: quando o temor do mercado do conflito se espalhando ganha força, o petróleo sobe e as ações acabam por subir; quando os temores diminuem, os papéis viram para queda junto com o petróleo.

Até a sessão da última sexta-feira, os papéis ON da Petrobras saltavam 11,90% no acumulado de junho, com a commodity chegando a atingir US$ 80 o barril na última semana, nas máximas em cinco meses, em meio ao conflito entre Irã e Israel que eclodiu no último dia 12 de junho.

Após os EUA atacarem instalações nucleares do Irã no último sábado (21), a expectativa era de que o petróleo saltasse ainda mais, principalmente por conta das ameaças do Irã de fechar o estreito de Ormuz. Trata-se de um corredor marítimo por onde passa cerca de um quinto do petróleo consumido no planeta; analistas projetavam durante o fim de semana que, se o fluxo da commodity fosse interrompido por lá, o petróleo poderia superar os US$ 100 o barril no curto prazo.

Com isso, a commodity teve um início de sessão volátil: na noite do domingo, o brent chegou a saltar 5%, virou para a queda no início da manhã e durante a tarde voltou a cair.

Contudo, a baixa mais extrema, de mais de 5%, se deu durante a tarde desta segunda, de forma até mesmo contraintuitiva: logo após o ataque do Irã a bases militares dos Estados Unidos no Catar.

Explosões foram ouvidas sobre a capital do Catar, Doha, nesta segunda, pouco depois de um diplomata ocidental ter dito que havia uma ameaça iraniana crível contra a base aérea de al Udeid, administrada pelos EUA, no Estado árabe do Golfo.

“Os fluxos de petróleo, por enquanto, não são o alvo principal e provavelmente não serão afetados; acho que será uma retaliação militar contra as bases dos EUA e/ou uma tentativa de atingir mais alvos civis israelenses”, disse à Reuters John Kilduff, sócio da Again Capital. Assim, como não houve medidas para interromper o tráfego de navios-tanque de petróleo e gás através do Estreito de Ormuz, o petróleo passou a cair forte.

Por conta disso, as ações da Petrobras, que chegaram a subir na sessão desta segunda, passaram a ter forte queda de cerca de 3% durante a tarde, levando o Ibovespa para baixo.

A visão de mais cedo já era de que um bloqueio total de Ormuz teria baixa probabilidade, mas o risco de fechamento parcial havia aumentado após aprovação no parlamento iraniano — ainda necessitando de aprovação do Supremo Conselho de Segurança. A China, que é importadora da região, seria diretamente afetada por qualquer interrupção, o que, por outro lado, teria um peso relevante sobre o Irã.

O que realmente fará preço para petróleo e Petrobras?

Por enquanto, apontou Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research, os eventos recentes são choques de curtíssimo prazo. “Os fundamentos do mercado no médio prazo continuam: a ampla oferta liderada por países fora da OPEP+ e o retorno gradual da produção do cartel continuam definindo a dinâmica do mercado, reforçada pela perspectiva de menor demanda global e pela recomposição dos estoques internacionais”, apontou.

Na mesma linha, Jeff Patzlaff, planejador financeiro e especialista em investimentos, apontou que, olhando para os fundamentos, produção da OPEP+, estoques globais, demanda industrial e crescimento econômico, há elementos que pressionam os preços do petróleo para baixo.

“O crescimento global ainda está moderado, especialmente na China e na Europa. Além disso, a OPEP+ tem se mostrado disposta a ajustar a produção para equilibrar o mercado, o que tende a contrabalancear movimentos especulativos excessivos”, avalia.

O especialista ressaltou que, assim, a alta recente teve sustentação no curto prazo simplesmente por conta do risco geopolítico. Contudo, se o conflito não se expandir mais e o equilíbrio fundamental do mercado se confirmar, sua influência tende a se dissipar em semanas ou poucos meses. “O comportamento típico seria picos de volatilidade seguidos de eventuais retrações, caso as condições globais permaneçam estáveis”, avaliou.

Neste sentido, aponta, a turbulência geopolítica recente beneficiou as ações da Petrobras no curto prazo, apoiado por margens maiores e lucros projetados mais sólidos.

“Entretanto, existencialmente, as ações da Petrobras também respondem fortemente a fatores micro: política de dividendos e lucros, alavancagem, governança, gestão de dívidas, capex e, especialmente, a regulação de preços domésticos de combustíveis, sua performance em bolsa precisará equilibrar o otimismo derivado da commodity com esses vetores internos”, avalia Patzlaff. Até a última sexta, a combinação de preços elevados do petróleo, controle fiscal mais rígido do governo brasileiro e ajustes na empresa para reduzir endividamento sustentaram uma narrativa positiva para a Petrobras no mês.

Para o especialista, enquanto os dados microeconômicos da empresa continuarem robustos (dívida controlada, fluxo de caixa forte), a cotação das ações provavelmente seguirá forte no médio prazo, combinando o motor da commodity com suas bonanças internas.

Ele também aponta um ponto crucial na análise: a Petrobras tem adaptado sua política de preços para acompanhar movimentos internacionais, embora de forma gradual — o chamado “preço de paridade de importação com borda doméstica”.

Com o barril em patamar elevado, os preços de gasolina e diesel no Brasil tendem a subir, pois a estatal precisa cobrir custos de aquisição, margem e impostos. Contudo, o governo federal, preocupado com impacto inflacionário, pode exercer pressão sobre a Petrobras para segurar reajustes ou implementar medidas temporárias de subsídio ou compensação.

“Historicamente, em momentos de grande inflação global de commodities, há interações entre a empresa e o governo para evitar repasses abruptos. Na prática, o cenário atual sugere um movimento de realinhamento gradual dos preços domésticos, com reajustes periódicos para acompanhar o mercado, mas sem repasses completos imediatamente após cada alta”, avalia. Para o especialista, a Petrobras tem conseguido equilibrar a necessidade de manter margens e reduzir riscos regulatórios, assentando seu posicionamento como empresa com governança independente, mas sensível ao ambiente político.

O Itaú BBA ressalta em relatório que os investidores têm mantido um viés fundamentalmente pessimista em relação aos preços do petróleo, em função da expectativa de que haverá oferta adicional significativa da OPEP, do temor de que preços elevados repassem inflação às economias globais e das tensões comerciais em curso. Esses fatores têm desincentivado apostas estruturais de alta e aumento expressivo de exposição ao segmento neste momento, apesar dos riscos geopolíticos.

Por outro lado, cresceu o “FOMO” (fear of missing out), ou medo de ficar de fora, diante da reação de curto prazo nos preços do petróleo com alta, especialmente pela incerteza sobre a postura dos EUA.

Isso levou a sucessivas reduções de posições underweight (abaixo da média) em Petrobras nos últimos dias, o que ajudou as ações da estatal a superar seus pares.

Soma-se a esse impulso a retomada do debate sobre a possibilidade de dividendos extraordinários em Petrobras quando o Brent ultrapassa US$ 70/barril. Até a CEO da companhia, Magda Chambriard, chegou a dizer que está “com os dedos cruzados” para um dividendo especial ainda neste ano.

Olhando adiante, contudo, o banco espera que a correção de underweight em Petrobras se estabilize (e os preços do petróleo voltem a refletir os fundamentos).

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Fonte: InfoMoney

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