O Banco Central anunciou, nesta quarta-feira (18), a elevação da Selic para 15% ao ano. Como toda decisão de juros, a mudança tem impacto direto nos investimentos. Na renda fixa privada, a saúde financeira das empresas ainda é robusta, mas os prêmios não agradam. Na renda variável, o potencial das ações não deve ser destravado no curto prazo e fundos imobiliários seguem como boas opções para horizontes mais longos.
Para Victor Furtado, head de alocação da W1 Capital “faz bastante sentido olhar com mais carinho para os títulos públicos nesse momento”. Ele avalia que “a renda variável tende a continuar pressionada no curto prazo com juros tão altos”.
Confira o que especialistas recomendam para cada classe de ativos após a manutenção da Selic:
Títulos públicos
Com a inflação “ainda desancorada”, os títulos do Tesouro IPCA+, que combinam a remuneração de uma taxa fixa à variação da inflação, seguem entre os preferidos da XP, diz Camilla Dolle, head de renda fixa da casa. O Tesouro Selic, que tem remuneração pós-fixada, ganha ainda mais atratividade no curto prazo e também está na lista de favoritos. Victor Furtado, head de alocação da W1 Capital, diz que o título “continua imbatível para quem quer liquidez, segurança e não quer oscilar”.
Os prefixados, contraindicados em tempos de alta da Selic, agora entram nas listas de recomendações. Leonardo Araújo, especialista em investimentos e sócio da GT Capital diz que “talvez este seja o melhor momento” para investir em prefixados, já que, apesar da alta da Selic hoje, o mercado projeta cortes em 2026, o que pode trazer valorização dos títulos no secundário ou garantir taxas altas por alguns anos.
“A renda fixa soberana vive um dos momentos de maior atratividade da última década, superando o apelo de alternativas mais arriscadas”, diz José Victor Cassiolato, estrategista da VICTRIX.
Crédito privado
A saúde financeira das empresas que acessam o mercado de capitais segue robusta, avaliam especialistas. As taxas, porém, não estão tão atrativas. Na Principal Asset, a solução para buscar mais rentabilidade está na dispersão de rentabilidade: alguns papéis de boas empresas ainda oferecem bons retornos por estarem com alavancagem “um pouco acima do normal”, segundo Luiz Christ, gestor de crédito da casa.
Para quem, como Marcelo Peixoto, gestor de crédito privado da Trígono, prioriza os fundamentos, os setores defensivos de bancos de primeira linha, saneamento e energia elétrica são opções para evitar qualquer tipo de susto. Ele conta que a casa “deu uma leve encurtada” na duration do portfólio.
Já uma das soluções para acrescentar rentabilidade ao portfólio em tempos de spreads amassados está nos FIDCs (Fundos de Investimento em Direitos Creditórios). Christ destaca que eles têm “prêmios atrativos, ótimo histórico de rentabilidade e baixa inadimplência”.
Ações
Analistas seguem classificando a Bolsa brasileira como atrativa, mas, ao mesmo tempo, esperam que o valor potencial das ações siga travado nos próximos meses. Isto porque, além do patamar restritivo dos juros, temas como risco fiscal, guerras envolvendo Israel e Rússia e impacto da política tarifária dos Estados Unidos ainda adicionam risco e volatilidade aos papéis de empresas brasileiras.
Diante do cenário de incertezas, empresas posicionadas em setores considerados defensivos, como bancos, seguradoras e utilidades públicas – principalmente energia e saneamento – são as mais recomendadas. Régis Chinchila, analista da Terra Investimentos cita a Klabin (KLBN11) como uma boa opção negociada com “múltiplos atrativos” atualmente. Ele também recomenda o investimento na Eletrobras (ELET6), assim como Beto Saadia, diretor de investimentos da Nomos, que ainda inclui em sua lista de pagadoras de dividendos Petrobras (PETR4), Itaú (ITUB4) e Copel (CPLE6).
Fundos Imobiliários
Juros altos têm impacto direto e negativo sobre o preço das cotas dos fundos imobiliários. Mas, segundo Eliane Teixeira, economista na Cy Capital, não se trata apenas da taxa Selic atual – as expectativas em relação às taxas futuras também pesam.
“Tanto a Selic quanto o vértice de dois anos da curva de juros futuros prefixados têm forte correlação com a precificação. Isso sinaliza que o investidor de FIIs hoje não deve olhar apenas a decisão atual do Copom, mas também se antecipar às próximas, ajustando sua percepção de risco e retorno com base nas expectativas futuras”, disse.
Apesar do impacto dos juros, ela afirma que os FIIs seguem sendo uma boa opção, especialmente para quem busca montar uma carteira focada no longo prazo. Os fundos de papel, segundo ela, costumam entregar bons retornos em períodos de aperto monetário, enquanto os fundos de tijolo são mais cíclicos, se beneficiando de momentos de maior aquecimento da economia. “Por isso, uma carteira diversificada, que combine ambos os tipos, tende a oferecer uma performance mais consistente ao longo do tempo”, afirmou.
Internacional
Mesmo com a renda fixa brasileira oferecendo retornos mais atrativos e previsíveis, o investimento no exterior continua sendo recomendado como uma estratégia estrutural para proteção e diversificação da carteira. Segundo Diego Correia, líder executivo da área de investimentos internacionais da XP, a decisão de alocar parte do patrimônio fora do país não deve depender apenas das condições momentâneas do mercado.
“Reforçamos que é importante a alocação no exterior como um instrumento de proteção do portfólio e complemento da carteira, sem anular a estratégia de investimento no Brasil”, afirmou.
Correia destacou ainda que investir lá fora permite acessar um mercado mais amplo, com exposição a temáticas e produtos menos disponíveis no Brasil – incluindo alternativas conservadoras de renda fixa. Ele também ressaltou que essa diversificação traz benefícios importantes ao portfólio, como a descorrelação com os ativos locais
Fundos de investimento
Para Eduardo Amorim, especialista de investimentos da Manchester, o raciocínio permanece o mesmo: os fundos de investimento, especialmente os pós-fixados, continuam oferecendo uma rentabilidade real muito atrativa, já que o patamar de juros segue elevado. “Com a inflação acumulada em 12 meses em 5,32%, o investidor conservador tem hoje a oportunidade de obter um retorno de até 9% acima da inflação em produtos considerados de baixo risco”, afirma.
Para ele, a recomendação é manter a exposição a esses fundos pós-fixados, priorizando uma carteira diversificada — tanto em tipos de fundos quanto nos prazos de resgate. “Fundos com prazos mais longos, em geral, tendem a entregar retornos maiores, principalmente entre os de renda fixa”, diz.
Mas, apesar do cenário positivo, Ângelo Belitardo, diretor de Gestão da Hike Capital, afirma que a estratégia continua exigindo prudência, diversificação e foco na qualidade do risco assumido.
A recomendação de Belitardo é manter uma parcela relevante em fundos de renda fixa de alta liquidez e crédito bem estruturado. “Para os multimercados, o momento favorece gestores com viés mais direcional em juros e câmbio, que possam capturar os movimentos de política monetária e volatilidade macroeconômica. Já nos fundos de ações, o foco deve estar em estratégias com viés de valor e empresas com balanços sólidos e que estejam resilientes mesmo em cenário de juros altos, capazes de atravessar um ciclo de juros altos”, afirma.
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Fonte: InfoMoney