Embora pareça fazer sentido, a ideia de que o tempo “está voando” não tem, naturalmente, nenhuma lógica se olharmos para o relógio. Mas, e se olharmos para dentro de nós, onde um marcapasso interno, funcionando como um relógio biológico, estabelece pulsos regulares para medir a passagem do tempo, da mesma forma que o coração regula os batimentos cardíacos?
Em um artigo publicado recentemente no The Conversation, duas neurocientistas defendem a ideia de que a diferença entre o tempo “real”, medido por relógios e calendários, e a nossa própria noção individual de tempo “ocorre porque, de muitas maneiras, somos os arquitetos da nossa noção de tempo”.
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Isso significa que, de certa forma, formamos uma memória subjetiva do tempo, um banco de dados pessoal de como “é” um minuto, uma hora ou um dia. Isso explicaria um fenômeno psicológico conhecido que afeta praticamente todas as pessoas idosas: a sensação de que os dias da infância pareciam eternos, enquanto os tempos atuais voam rapidamente.
Algumas teorias da percepção do tempo

Além de causas fisiológicas e psicológicas, as autoras citam um componente neurológico: quando somos jovens, nossos cérebros recebem e processam imagens mais rapidamente, um fenômeno que desacelera com a degradação das vias neurais. Com isso, as pessoas tendem a perceber que o tempo passa mais rápido à medida que envelhecem.
Há também a teoria do “tempo logarítimico”, criada pelo filósofo francês Paul Janet em 1897: à medida que envelhecemos, um ano se torna uma fração menor de nossas vidas até aquele ponto. Assim, para uma criança de cinco anos, um ano representa 20% de toda sua existência, enquanto para um adulto de 50 anos, o mesmo período representa apenas 2% de sua vida.
A qualidade emocional de um evento também influencia o modo como percebemos o tempo. Quando estamos ocupados, com a atenção dividida entre várias tarefas, o tempo parece passar mais rápido. Experiências negativas, como tristeza ou medo, desaceleram essa percepção, enquanto as alegres e divertidas parecem durar apenas um breve instante.
Finalmente, uma sensação conhecida dos millennials, a de estar sempre ocupado, afeta nossa percepção do tempo em qualquer idade, mas se intensifica na vida adulta, quando acumulamos responsabilidades. Essa “pressão temporal” tende a estabilizar na meia-idade, quando a carreira e a vida familiar atingem um pico, com uma possível desaceleração após os 50 anos.
Como desacelerar a sensação de que o “tempo voa”?

Para as autoras, Muireann Irish da Universidade de Sydney e Claire O’Callaghan da Universidade de Cambridge, nossa percepção temporal está intimamente conectada à qualidade de vida. A relação revela que não somos meros espectadores da aceleração temporal, mas agentes ativos da nossa experiência subjetiva de tempo.
Há estratégias eficazes para desacelerar a sensação de que o “tempo voa”, como buscar novas experiências, aprender habilidades diferentes, visitar lugares desconhecidos e quebrar rotinas estabelecidas. Ao expandir nossa percepção subjetiva temporal, essas práticas conscientes fazem com que períodos pareçam mais longos e ricos em retrospectiva.
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Compreender esse fenômeno pode ser o começo de uma vida mais plena. Reconhecer a maleabilidade da percepção temporal nos capacita a escolher melhor nossas experiências. “Embora não possamos parar o relógio biológico, podemos influenciar como experimentamos sua passagem”, concluem as autoras. Afinal, anos voados podem se transformar em satisfação duradoura.
Que tal desacelerar o ritmo da sua vida para não cair na armadilha do tempo? Compartilhe esta matéria com seus amigos que pensam que estão sempre ocupados. Para saber mais de tempo, entenda por que ele não “anda para a frente” segundo a física moderna.
Fonte: TecMundo