Pedro Gonzaga, sócio e analista da Mantaro Capital, participou recentemente do programa Stock Pickers, com os apresentadores Lucas Collazo, especialista institucional da XP, e Matheus Guimarães, analista de financials. O executivo abriu a conversa com uma autocrítica: ele admite ter superestimado o potencial das fintechs no passado. “Acho que eu também exagerei no quanto as fintechs lá atrás iam abocanhar de mercado”, afirmou. Na época, diz, o mercado pagava múltiplos muito altos por empresas do setor, o que, na prática, fornecia um “orçamento quase infinito” para atacar os grandes bancos.
Mas o cenário virou. “As fintechs tiveram uma queda muito grande de valor. O equity ficou mais caro, vender ações ficou mais difícil, e o custo da dívida também aumentou muito”, explicou Gonzaga. Ao mesmo tempo, os bancos incumbentes reagiram com mais disposição competitiva, o que reforçou a posição dos tradicionais.
Ainda assim, ele ressalta que o desfecho não era inevitável: “Se o mercado continuasse por mais tempo pagando aqueles múltiplos, talvez a história fosse ainda pior hoje para os incumbentes. Mas muita coisa aconteceu ao mesmo tempo”.
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Fila dos grandes bancos
O cenário macro, com juros altos no Brasil, contribuiu para a mudança de humor com as fintechs. Collazo comparou com emergentes como México, Chile e Colômbia, onde taxas entre 4% e 5% são historicamente consideradas normais. Já no Brasil, “a gente pisa no acelerador fiscal e no freio na política monetária”.
Questionado se uma normalização dos juros poderia reacender o apetite por ações de crescimento, Gonzaga respondeu: “Dependendo da magnitude, sim. Vai depender de como as empresas vão alocar esse capital mais barato. Parte do problema é que os entrantes não alocaram bem o capital”.
Na visão dele, há uma fila de bancos incumbentes que podem sofrer com a disrupção. “O senso comum é que o Itaú (ITUB4) é o último a cair. Mas tem outros muito mais atrasados. A Caixa, por exemplo, dá a impressão de estar ainda mais atrasada. O Bradesco (BBDC4) reconheceu o problema e está correndo atrás”, analisou.
Ao comentar o futuro do Itaú, Guimarães usou uma metáfora que arrancou risos: “É igual aquela piada do cara que encontra um leão na savana e começa a calçar o tênis de corrida. O amigo pergunta: ‘Você acha que vai correr mais que o leão?’ E ele responde: ‘Não, só preciso correr mais que você’. Acho que o Itaú botou o tênis dele e só precisa correr mais que os outros.”
A conversa então se voltou ao Nubank (NU). Collazo relembrou uma história sobre quando o CEO do Nubank pediu um empréstimo de R$ 100 milhões e teve o pedido negado por parecer arriscado. O host retomou o contexto: o SoftBank, investidor do Nubank, tinha uma tese clara: crescer primeiro, lucrar depois. “A CEO do SoftBank dizia que o mais difícil era adquirir cliente; depois disso, a monetização seria mais fácil”, contou.
Segundo ele, o modelo deu certo no banking. “O Nubank faz um trabalho espetacular. Metade da população brasileira é correntista, é surreal esse número”, elogiou Collazo.
Sinais de alerta
Diante da pergunta direta — “Você gosta do Nubank?” — Pedro Gonzaga respondeu com clareza: “Hoje a gente não tem nenhuma posição, nem long nem short”. Apesar disso, ele reconhece o feito da fintech: “É realmente incrível o que eles conquistaram em tão pouco tempo”.
Gonzaga destacou o sucesso do cartão de crédito do Nubank, que já responde por quase 20% do volume transacional. “É muito impressionante. A rentabilidade sobre patrimônio líquido no Brasil passa de 50%, um dos negócios mais rentáveis do setor”, afirmou.
Mas há sinais de alerta. “A qualidade da carteira e a inadimplência vinham piorando. E, nos últimos trimestres, a receita média por carteira de crédito caiu. Isso acende uma luz amarela”, explicou. Segundo ele, quando as métricas estão estáveis ou crescentes, o analista se sente mais seguro para projetar. Quando começam a cair, surge a dúvida: “Onde é o piso?”
Para Gonzaga, o desafio do Nubank agora é manter o equilíbrio entre expansão geográfica — como no México — e boa alocação de capital. “Admiramos muito a história, mas, neste momento, preferimos acompanhar de fora”, concluiu.
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Fonte: InfoMoney