O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) decidiu na terça-feira, por unanimidade, punir com aposentadoria compulsória o juiz federal Marcelo Bretas, que conduzia os processos da Operação Lava-Jato no Rio.
O CNJ analisou três processos administrativos disciplinares (PADs) instaurados contra Bretas, que está afastado do cargo desde 2023. Ele atuava na 7ª Vara Federal do Rio. Entre os desvios apontados estão conduta abusiva e parcial.
Em seu voto, o relator José Rotondano considerou as acusações parcialmente procedentes e defendeu a aposentadoria compulsória — pena máxima que pode ser aplicada. Ele foi acompanhado por 13 conselheiros — um integrante se declarou impedido. O CNJ considerou ter havido excessos na atuação de Bretas.

Janja pode explicar perda de 1 milhão de seguidores de Lula, diz consultoria
Escândalos do INSS, alta do IOF e críticas à primeira-dama alimentaram rejeição online, mostra levantamento

Eduardo Bolsonaro nega ser “lambe-botas” de Trump e diz estar “seguro” nos EUA
Após críticas do presidente Lula, parlamentar afirma que atua em defesa do Brasil contra o ativismo judicial e mantém negociações para sanções contra ministro do STF
— Estou propondo à corte que se julgue parcialmente procedente as imputações trazidas contra o magistrado e aplicar-lhe a pena de aposentadoria compulsória — afirmou Rotondano.
Ao apresentar um voto único para os três PADs, Rotondano disse que o conjunto das provas contra Bretas nos processos foi suficientemente conclusivo “no sentido de que foram perpetradas condutas extremamente gravosas que precisam ser repreendidas por este conselho”.
— O que se viu na presente análise foi um conjunto de práticas inquisitivas e um conjunto de práticas de um autoritarismo estatal que subvertem a lógica do processo penal — afirmou.
Para ele, Bretas agiu “por vaidade, autopromoção e anseio por protagonismo no Sistema de Justiça”. Não cabe recurso ao CNJ, somente um mandado de segurança no Supremo Tribunal Federal (STF).
No início do julgamento, o subprocurador-geral da República José Adonis Callou de Araújo Sá disse que Bretas “tomou conhecimento” da atuação do advogado Nythalmar Ferreira Dias, suspeito de usar a proximidade com o magistrado para se beneficiar:
— O juiz tomou conhecimento dessa atuação de um advogado, que era chamado de “vendedor de sonhos”, e não adotou providências.
Adonis defendeu a aplicação da pena de disponibilidade (afastamento) de 150 dias em razão de parte das acusações, mas criticou o uso de processos disciplinares por antigos delatores e acusados da Lava-Jato.
— Quando acontecem esses casos, todos querem punição, mas depois as narrativas vão sendo modificadas e réus confessos, colaboradores confessos, que pagam, que restituem dinheiro ao erário, terminam como vítimas, vítimas de suposta pressão — disse.
Advogada de Bretas, Ana Luiza Vogado de Oliveira pediu a absolvição do magistrado e disse que a imposição da pena de aposentadoria compulsória significaria “julgar contra a prova dos autos”.
Um dos PADs partiu de uma reclamação da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e cita fatos relacionados a três acordos de colaboração premiada celebrados pela Procuradoria-Geral da República (PGR) e homologados nas Cortes superiores — Superior Tribunal de Justiça (STJ) e Supremo Tribunal Federal. Os documentos, de acordo com a acusação, mostram que o magistrado negociaria penas, orientaria advogados e combinaria estratégias com o Ministério Público.
Interferência na eleição
Bretas também é alvo de uma reclamação por parte do prefeito do Rio, Eduardo Paes (PSD), que pediu seu afastamento “por conduta incompatível com a imparcialidade que precisa nortear a atuação dos magistrados”.
Os advogados de Paes alegam influência do juiz, inclusive, para prejudicá-lo no pleito eleitoral para o governo do estado, em 2018 — ele teria agido para favorecer o então candidato e ex-juiz federal Wilson Witzel, que acabou eleito.
A terceira reclamação foi instaurada pelo antigo corregedor nacional de Justiça, ministro Luís Felipe Salomão, a partir de uma correição extraordinária na 7ª Vara Federal, na qual foram coletados dados dos computadores do magistrado e dos servidores que trabalham com ele e relatos sobre sua atuação.
The post ‘Autoritarismo estatal’: entenda decisão que afastou Marcelo Bretas da magistratura appeared first on InfoMoney.
Fonte: InfoMoney