Uma possível mudança regulatória no setor de pagamentos voltou ao radar do mercado após o Banco Central anunciar, na quinta-feira (29), uma nova consulta pública para discutir o estabelecimento de um teto para as taxas de intercâmbio em transações com cartões de crédito. A medida, semelhante à que foi implementada para cartões de débito em 2018, pode alterar o equilíbrio competitivo entre bancos digitais, emissores de cartões e empresas adquirentes.
Segundo relatório divulgado pelo Bradesco BBI ao mercado, as empresas de adquirência, como PagSeguro (PAGS), Mercado Livre (MELI34) e Stone (STNE), tendem a ser as principais beneficiadas em caso de corte nessas taxas.
No caso do Mercado Livre, o Itaú BBA diz que a empresa seria afetada em três frentes: arrecadaria menos como emissora, pagaria menos como vendedora e reduziria custos como adquirente. Mesmo com perdas em uma das pontas, o banco avalia que o saldo tende a ser positivo, com projeção de até 5% de alta no lucro.
Com presença relevante na adquirência, movimentando cerca de US$ 56 bilhões por ano fora da própria plataforma, o Mercado Livre pode ganhar espaço se o parcelamento sem juros com cartões perder atratividade. A empresa já oferece crédito próprio, o que facilita sua adaptação. O Itaú BBA mantém recomendação positiva para as ações, com preço-alvo de US$ 3.133.
A análise do Bradesco BBI foi feita com base em uma eventual redução de até 30 pontos-base (bps) sobre a taxa média de intercâmbio de crédito, que atualmente está em 1,60%, considerando a média entre o segundo semestre de 2023 e o primeiro semestre de 2024.
Para cada 10 bps de queda, o BBI estima um aumento de 12% no lucro antes de impostos da PagSeguro e de 9% no da Stone neste ano. Num cenário de corte máximo de 30 bps, os ganhos estimados saltam para 59% e 46%, respectivamente. Esse alívio nos custos de transação, dizem os analistas, poderia ser parcialmente repassado aos clientes na forma de preços mais competitivos, mas os estrategistas do banco acreditam que ainda haveria margem para ganho imediato no curto prazo.
Por outro lado, emissores como Nubank (ROXO34) e Inter (INBR32) seriam penalizados. Essas instituições captam boa parte de suas receitas com base nas taxas de intercâmbio. Uma redução de 10 bps poderia levar a uma queda de aproximadamente 3% no lucro antes de impostos de ambas. Em um corte de 30 bps, essa perda pode chegar a 13% para o Nubank e 17% para o Inter.
E os bancos tradicionais?
A equipe de análise do BBI diz que os efeitos para os bancos tradicionais, como Itaú (ITUB4), Banco do Brasil (BBAS3) e Santander Brasil (SANB11), são mais difíceis de mensurar. Essas instituições operam tanto na emissão quanto na adquirência de cartões, o que cria um efeito cruzado entre ganhos e perdas. Por isso, a avaliação precisa ser feita caso a caso, conforme a estrutura de receitas e o peso de cada operação no negócio consolidado.
Embora a consulta pública ainda esteja em fase inicial, o movimento sugere que o Banco Central está reavaliando a estrutura de custos do setor de cartões de crédito, tema que tem sido alvo frequente de discussões sobre competitividade e inclusão financeira. A taxa de intercâmbio é paga pelo comerciante ao emissor do cartão em cada transação e, portanto, influencia diretamente os preços cobrados pelos estabelecimentos — e, indiretamente, o custo do crédito para o consumidor.
O BBI afirma que a dinâmica de ganhos para adquirentes pode abrir espaço para movimentos estratégicos no setor, como revisão de tarifas, ganho de participação de mercado ou até reforço de caixa em empresas que vinham sendo pressionadas por margens menores.
Para emissores, a possível mudança exige atenção à diversificação de fontes de receita e controle de custos operacionais, especialmente entre os bancos digitais que vêm ampliando a base de clientes, mas ainda dependem da escala para atingir maior rentabilidade.
O debate sobre o teto para o intercâmbio no crédito reacende preocupações entre investidores sobre a sustentabilidade do modelo atual de receitas no setor financeiro. Embora o histórico da regulação do débito aponte para uma redução ordenada e previsível, os analistas alertam que o crédito tem características distintas, com riscos maiores e uma estrutura de custos mais complexa. Por isso, o eventual ajuste regulatório tende a gerar assimetrias entre os participantes.
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Fonte: InfoMoney