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África, de eterna promessa a bons números na economia

Navegando nas incertezas de um cenário global com tarifas do presidente dos EUA, Donald Trump, uma região com pouco destaque no noticiário começa a apresentar bons números de crescimento e a atenção de especialistas e investidores: a África.

Segundo dados do relatório Perspectiva Econômica Global, do Fundo Monetário Internacional (FMI), a África subsariana (a parte do continente situada ao sul do Deserto do Saara) cresceu 4% em 2024. O PIB mundial subiu 3,3% no mesmo período. Já o Oriente Médio e Norte da África tiveram números mais modestos, crescendo 1,8%. Para se ter uma ideia, a economia brasileira avançou 3,4% no ano passado.

Alguns países africanos devem continuar trilhando um caminho de forte crescimento neste ano. As projeções do FMI apontam que Senegal, Etiópia, Costa do Marfim, Ruanda e Guiné são nações que terão crescimento de, no mínimo, 6%.

Para Carlos Lopes, professor na Nelson Mandela School of Public Governance, da Universidade Cape Town, na África do Sul, o que estamos vendo hoje é mais do que um ciclo passageiro de crescimento: é o sinal de uma transformação estrutural em andamento, embora ainda desigual.

Senegal, Etiópia e Costa do Marfim são exemplos claros: apostaram pesado em infraestrutura, modernizaram seus ambientes de negócios e conseguiram diversificar suas economias”, diz o professor.

Papel da China

A participação da China nesse boom tem um peso importante. De acordo com dados da UN Comtrade, o comércio entre a China e os países africanos totalizou 250 bilhões de dólares em 2022 (último ano completo com dados disponíveis). A China importou principalmente matérias-primas como petróleo e minérios, e exportou principalmente  industrializados.

Em setembro do ano passado, na cúpula do Fórum de Cooperação China-África, Pequim anunciou que quase 51 bilhões de dólares foram alocados para empréstimos e investimentos na África. Mais da metade desse valor, 29,5 bilhões de dólares, é uma linha de crédito.

A China também está incentivando mais empresas do país a se associarem a companhias e governos africanos por meio de modelos de financiamento de parcerias público-privada

Esse modelo construiu a Via Expressa de Nairóbi, com 27 km de extensão, em 2022, financiada e construída pela estatal China Road and Bridge Corporation. A empresa chinesa vai operar a via por 30 anos. Modelos de financiamento semelhantes foram utilizados também em Uganda, Nigéria e Zâmbia.

Vantagens e desvantagens

Para o professor da Universidade Cape Town, alguns aspectos jogam a favor da África.

Na demografia, enquanto países do hemisfério norte enfrentam envelhecimento populacional e retração na força de trabalho, a África será responsável por mais de 50% do crescimento populacional global até o fim do século, segundo dados da ONU

No clima, apesar das crises (que acontecem no planeta inteiro), o continente também apresenta vantagens. A África possui 60% do potencial global de energia solar, segundo a Agência Internacional de Energia, e vastos estoques de minerais críticos para a transição energética. “Sem acesso a esses recursos africanos, a agenda global de descarbonização simplesmente não se materializa. O continente deixou de ser apenas vítima das mudanças climáticas para se tornar parte da solução”, diz o professor da Universidade Cape Town.

Claro que existem obstáculos para esse caminho de crescimento. Conflitos armados, como no Sudão e no Sudão do Sul, instabilidades em partes do Sahel e disputas políticas seguem sendo barreiras para a atração de investimentos de longo prazo. “A inflação de alimentos e energia, apesar de alguma desaceleração prevista, continuará comprimindo o poder de compra e testando a resiliência social, especialmente em grandes economias como Nigéria, África do Sul e Angola”, diz Carlos Lopes.

Também não podemos esquecemos da guerra tarifária impulsionada pelo governo Trump. “Embora o continente não esteja no centro das tarifas, o impacto indireto via queda no comércio global afetará as economias mais conectadas às exportações, como Marrocos, África do Sul e Etiópia. Os países africanos só terão chance real de mitigar esses choques se acelerarem a integração regional, diversificarem seus mercados e apostarem na industrialização verde”, explica o professor.

Fonte: Exame

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