A quinta rodada de conversações sobre o programa nuclear iraniano entre Irã e Estados Unidos terminou nesta sexta-feira (23) em Roma “com algum progresso, mas sem resultados conclusivos”, segundo o mediador de Omã. O impasse ocorre principalmente em torno da questão do enriquecimento de urânio.
As negociações, iniciadas em abril, representam o contato direto entre funcionários de alto escalão desde que os Estados Unidos abandonaram o acordo nuclear de 2015, durante o governo de Donald Trump.
Por volta das 15h GMT (12h em Brasília), Omã anunciou o fim das conversas após quase três horas entre o chefe da diplomacia iraniana, Abbas Araqchi, e o enviado dos EUA para o Oriente Médio, Steve Witkoff.
Progresso, divergências e expectativa
A mediação de Omã avaliou que a rodada teve “algum progresso, mas sem resultados conclusivos”. O ministro das Relações Exteriores de Omã, Badr al Busaidi, afirmou no X que espera esclarecer as questões pendentes nos próximos dias para avançar em direção a um acordo duradouro.
Araqchi destacou que “as negociações são mais complicadas do que podem ser resolvidas em duas ou três reuniões”.
Principais pontos de conflito
Desde a retomada da Casa Branca por Trump, a campanha de “pressão máxima” sobre o Irã continua, com advertências de possíveis ações militares caso a diplomacia fracasse. O Irã, por sua vez, busca flexibilizar sanções que afetam sua economia.
Na rodada anterior, em Mascate, houve divergências públicas sobre o enriquecimento de urânio. Witkoff declarou que Washington “não poderia autorizar nem sequer um por cento de capacidade de enriquecimento”, enquanto Teerã considera essa postura “inaceitável”, pois a atividade é compatível com fins civis.
Araqchi alertou que, se os EUA impedirem o Irã de enriquecer urânio, “não haverá acordo”.
Contexto do acordo nuclear de 2015 e atual cenário
O acordo de 2015 buscava impedir o desenvolvimento de armas nucleares pelo Irã em troca de alívio nas sanções internacionais. A saída unilateral dos EUA em 2018 fez o Irã intensificar suas atividades nucleares.
Atualmente, o Irã enriquece urânio a 60%, bem acima do limite de 3,67% estabelecido, mas abaixo dos 90% necessários para armas.
Fatores externos e tensões regionais
A indústria nuclear iraniana emprega cerca de 17.000 pessoas, número comparável a outros países que enriquecem urânio para fins civis, como Países Baixos, Bélgica, Coreia do Sul, Brasil e Japão, conforme o porta-voz Behruz Kamalvandi.
A rivalidade com Israel, aliado dos EUA, é uma constante nas negociações. Autoridades americanas relataram que Israel prepara ataques às instalações nucleares iranianas. Em resposta, Araqchi enviou carta ao secretário-geral da ONU, António Guterres, alertando que os EUA assumiriam responsabilidade legal por qualquer ataque israelense.
Possíveis consequências e próximos passos
A Casa Branca afirmou que Trump teve conversa produtiva sobre o Irã com o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu.
O acordo prevê reimposição de sanções pela ONU caso o Irã viole compromissos, medida que Reino Unido, França e Alemanha indicaram que poderiam ativar.
Araqchi afirmou que isso poderia significar “o fim do papel da Europa no acordo” e uma escalada de tensões “irreversível”.
Fonte: Exame