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Emprego estável e renda em alta. Por que dados positivos carregam riscos à economia?

Emprego estável e renda em alta. Por que dados positivos carregam riscos à economia?

Os números de emprego e renda do Brasil mostram que há mais pessoas com atividades remuneradas e que a renda média atingiu o recorde de R$ 3.057 em 2024. Porém, ao comentar os dados, os economistas costumam alertar para o impacto negativo desses indicadores para o Brasil. Afinal, por que ter mais pessoas trabalhando e mais dinheiro no bolso não é “bom” para a economia? 

A resposta está na inflação – e, como sempre, nos detalhes. 

Os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua, do IBGE, apontam que o Brasil fechou o primeiro trimestre de 2025 com taxa de desocupação de 7%, o menor patamar para os meses de janeiro a março em toda a série histórica. 

Ao mesmo tempo, o Brasil registrou saldo de 654,5 mil novas vagas de emprego no mesmo período, de acordo com o Novo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Novo Caged). Isso significa que mais pessoas estão trabalhando e que há mais vagas de carteira assinada.

Além disso, a renda do trabalho está em alta. Os dados do IBGE também mostram que, em 2024, a massa de rendimento mensal per capita do brasileiro atingiu o maior valor desde 2012, um aumento de 5,4% em relação ao ano anterior e de 15% em relação a 2019, ano anterior à pandemia de Covid-19.

Considerando o rendimento de todas as fontes (que inclui aposentadoria, aluguéis, entre outros), a renda média ficou em R$ 3.057. 

Mais dinheiro, maior demanda por serviços

Cláudio Hamilton Matos dos Santos, técnico de planejamento e pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), diz que uma conjunção de fatores está levando ao aumento de salários do país, como o aumento do salário mínimo, atualmente em R$ 1.518 (7,5% a mais que em 2024), e a expansão dos programas sociais do governo. 

“Isso faz com que as pessoas consigam negociar salários melhores, porque não precisam desesperadamente trabalhar por qualquer salário. Além disso, a transferência de renda para a população mais pobre gera demanda por serviços intensivos em mão de obra”, explica Santos. 

Os números da PNAD Contínua mostram esse aquecimento no setor de serviços – ele foi o setor que mais contratou, com 52,4 mil novas vagas só em março. 

“As pessoas vão colocar o filho no inglês, em aulas de esportes, vão buscar salões de beleza, academias de ginástica. Tudo isso impulsiona os dados de emprego, porque o setor emprega muita gente. Mas não tem ganho de produtividade”, explica. 

Pegando o caso da escola de inglês, por exemplo, será difícil que um professor ganhe produtividade e atenda mais alunos com a mesma qualidade, explica Santos. “A tendência é que a escola contrate mais professores, com salários mais altos porque o mercado está aquecido. Isso pode elevar os custos de produção, mas não a produtividade. O ideal é que, quando estes dados de renda e emprego crescem, eles cresçam atrelados à produtividade”, explica. Sem isso, o resultado é inflação. 

Inflação

Salários altos e mercado de trabalho aquecido não são necessariamente ruins para a economia, afirma Fernando de Holanda Barbosa Filho, pesquisador do Centro de Crescimento Econômico do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (CCE/ IBRE-FGV). “O problema começa quando o aquecimento do mercado de trabalho se espalha pela economia. Você tem um choque [na demanda]”, avalia.

Esse choque se reverte na pressão sobre serviços, setor responsável por 30% da composição da inflação, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor (IPCA), explica Santos. E, se a inflação acelera, depois é difícil ela cair. 

Por isso, o Banco Central usa a taxa básica de juros para controlar a demanda e segurar os preços do país, mantendo o índice em patamares elevados. Na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), a Selic ficou definida em 14,75%. Este índice reflete em outros custos de crédito, tanto para empresas quanto para pessoas físicas. 

A ideia é que o dinheiro fique mais caro para controlar as compras e segurar os preços. Entretanto, o impacto dos juros altos é amenizado por outras estratégias do governo de estímulo à economia, como liberação de empréstimo consignado tendo o FGTS como garantia, a concessão de benefícios, a inclusão de uma nova faixa no programa Minha Casa, Minha Vida, entre outras ações.

Em meio a pressões econômicas sobre inflação e preços, a projeção do mercado é que a economia já está dando sinais de desaceleração e, com isso, a Selic deve encerrar o ano em torno de 14,75% para, depois, começar a cair. 

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Fonte: InfoMoney

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