Menos de 24 horas depois de ser preso sob acusação de matar dois funcionários da Embaixada de Israel em Washington, Elias Rodriguez compareceu a um tribunal da capital americana, onde foi formalmente acusado de homicídio qualificado, dentre outros crimes. O ataque chocou a comunidade judaica e provocou uma onda de reações no meio político nos EUA e no exterior, que incluíram trocas duras de palavras entre Israel e alguns de seus aliados ocidentais.
Elias Rodriguez, de 30 anos, foi formalmente acusado pelos crimes de homicídio qualificado, homicídio de um integrante de um governo estrangeiro, causar uma morte com uma arma de fogo — que pode levar à pena de morte — e disparar uma arma de fogo de forma criminosa.
— Foi um crime horrível, e esses crimes não serão tolerados por mim e por este escritório — disse, em entrevista coletiva, a procuradora interina do governo americano em Washington, Jeanine Pirro. — Continuaremos investigando isso como um crime de ódio e um crime de terrorismo, e adicionaremos acusações adicionais conforme as evidências justificarem.
Suspeito publicou manifesto e tinha histórico de apoio aos palestinos
Rodriguez não teve envolvimento com a polícia antes da noite do ataque, mas no dia do crime foi publicado um manifesto contra a guerra e contra os governos dos EUA e Israel em uma conta associada a ele no X.
O texto não apresentava qualquer referência de que planejava o ataque naquela noite, mas declarava que “uma ação armada não é necessariamente uma ação militar. Geralmente não é.” — a mensagem está sendo analisada pelos investigadores. A publicação foi feita cerca de uma hora após o crime, e não está claro se Rodriguez a programou ou se outra pessoa fez a postagem.
O homem trabalhava em uma associação de médicos osteopatas em Chicago, onde vivia, e em suas redes sociais havia imagens dele em uma manifestação contra a guerra na Faixa de Gaza, além de publicações em apoio aos palestinos.
Busca e apreensão na residência do suspeito em Chicago
Na manhã desta quinta-feira, agentes entraram em seu apartamento no bairro de Albany Park, um dos mais diversos de Chicago. Não foi informado se os policiais encontraram algo no local, mas nas janelas havia duas imagens com referência à Palestina.
Uma delas lembrava o assassinato de um menino palestino de 6 anos em Chicago, dias depois do ataque do Hamas contra Israel, em outubro de 2023, e do início da guerra em Gaza. O assassino, Joseph Czuba, foi condenado a 53 anos de prisão, e expressava visões contra muçulmanos.
Além da operação de busca na casa de Rodriguez, a polícia de Chicago anunciou, na rede social X, que “está conduzindo atividades policiais autorizadas pelo tribunal na área de Chicago em conexão com o trágico tiroteio noturno em Washington”. O FBI disse que o caso está sendo tratado com a máxima prioridade.
Detalhes do ataque e reação da comunidade judaica
Na noite de quarta-feira, quando acontecia um evento para jovens profissionais no Museu Judaico de Washington, um homem armado se aproximou de um grupo do lado de fora do museu e abriu fogo, matando Yaron Lischinsky e Sarah Milgrim, dois funcionários da Embaixada de Israel nos EUA.
Segundo a polícia da capital americana, Rodriguez foi visto circulando nos arredores do museu antes de efetuar os disparos. O relato de um agente do FBI diz que “assim que as vítimas caíram no chão”, o suspeito foi “capturado em vídeo avançando em direção aos dois, inclinando-se sobre eles com o braço estendido e atirando várias outras vezes” — Milgrim chegou a tentar se levantar antes de ser novamente baleada.
Após o ataque, testemunhas dizem que ele entrou no prédio e se misturou com os participantes do evento antes de se entregar: aos policiais, disse que “havia feito isso por Gaza” e repetiu algumas vezes “Palestina livre”.
Lischinsky atuava como assistente investigativo para Assuntos do Oriente Médio e Norte da África no Departamento Político da Embaixada desde setembro de 2022, após servir três anos nas Forças Armadas de Israel. Milgrim trabalhava no Departamento de Diplomacia Pública da Embaixada desde novembro de 2023. O embaixador israelense nos EUA, Yechiel Leiter, revelou que eles estavam prestes a se casar.
Reações políticas e crescimento do antissemitismo
O assassinato provocou ondas de choque dentro da comunidade judaica e do meio político nos EUA, em Israel e em outros países.
“Esses horríveis assassinatos em Washington, D.C., obviamente baseados em antissemitismo, precisam acabar, AGORA! Ódio e radicalismo não têm lugar nos EUA. Condolências às famílias das vítimas”, escreveu o presidente dos EUA, Donald Trump, em sua rede social, o Truth Social.
Trump conversou com o premier Benjamin Netanyahu, reafirmando seu compromisso contra o antissemitismo nos campi universitários americanos, enquanto o governo americano pressiona universidades com ameaças de corte de verbas para conter discursos considerados antissemitas, incluindo protestos pró-Palestina.
Netanyahu, por sua vez, criticou líderes da França, Reino Unido e Canadá, acusando-os de “obsessão anti-Israel” e de desejar que Israel desista da guerra em Gaza.
O chanceler israelense, Gideon Saar, afirmou que líderes europeus estariam “incitando o antissemitismo”, comentário refutado por Paris, que declarou condenar todos os atos antissemitas.
Especialistas apontam que o número de ataques antissemitas disparou desde outubro de 2023, incluindo ataques a organizações judaicas, representações diplomáticas israelenses e indivíduos.
Lideranças judaicas temem que comunidades possam ser próximas vítimas desses ataques. O rabino Menachem Margolin, fundador da Associação Judaica Europeia, declarou que ataques como o de Washington devem se repetir, incluindo na Europa.
Fonte: Exame