Após fechar na casa dos 140 mil pontos na terça-feira (20), o Ibovespa registrou uma forte queda na véspera (de -1,59%) e voltou para abaixo deste patamar, a despeito das projeções de mais altas para a Bolsa brasileira e ingresso de estrangeiros no mercado doméstico.
Desta vez, o motivo para forte aversão a risco ocorre por conta da cautela fiscal não só no Brasil (que é apontada por um dos fatores de risco para o Ibovespa mesmo entre os estrategistas mais otimistas) quanto também nos Estados Unidos.
“Como o Ibovespa subiu forte recentemente e começou o processo de realização de lucros ontem, pode ser que continue. Os juros futuros estão avançando o que é fonte de pressão para baixo na Bolsa”, avalia Kevin Oliveira, sócio e advisor da Blue3. No curto prazo, os riscos fiscais podem afetar o desempenho da Bolsa brasileira; contudo, analistas ainda seguem otimistas com a renda variável por aqui.
Por volta de 12h15 (horário de Brasília), o Ibovespa, referência do mercado acionário brasileiro, tinha variação positiva de 0,07%, a 137.984 pontos. Na máxima até o momento, marcou 138.294,01 pontos. Na mínima, 137.341,82 pontos.
De acordo com o analista técnico Gilberto Coelho, da XP, o Ibovespa interrompeu a renovação de máximas, abrindo espaço para correções na direção das médias de 21 e 200 dias em 136.000 ou 129.200 respectivamente. “O sinal de alta seria retomado acima dos 140.250 com projeções nos 145.000 ou 150.000 por Fibonacci”, afirmou em relatório a clientes.

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Nesta manhã, a maioria dos índices das bolsas norte-americanas cai de forma moderada. Persistem os receios com a situação financeira dos EUA, ainda mais em meio a uma vitória do presidente do país, Donald Trump. Isso porque hoje cedo a Câmara do país aprovou a ampla proposta tributária e de gastos do republicano.
Na Europa as bolsas cedem com mais intensidade, acima de 1,00%, refletindo ainda PMIs fracos da região. Nos EUA, o PMI preliminar subiu a 52,1 em maio, de 50,6 em abril, conforme a S&P.
De acordo com economistas, o projeto de Trump pode acrescentar de US$ 3 trilhões a US$ 5 trilhões à dívida dos EUA, de US$ 36,2 trilhões, ao longo da próxima década. “E isso é mais inflação, o que pode impedir corte dos juros americanos em junho, julho, ficando uma queda somente para setembro”, acrescenta Oliveira, da Blue3.
“Apesar do otimismo com o cenário doméstico, o mercado ainda está de olho no que acontece lá fora. Além da redução da nota de crédito dos EUA pela agência de classificação de risco Moodys na semana passada, uma das maiores preocupações no momento é com o aumento do déficit fiscal dos Estados Unidos”, reforçou Luise Coutinho, head de produtos e alocação da HCI Advisors.
O presidente executivo do JPMorgan Chase, Jamie Dimon, disse nesta quinta que o projeto de lei sobre impostos e gastos pode ajudar a trazer estabilidade, mas não é propício para a redução do déficit.
“Acho que eles deveriam fazer a lei tributária. Acho que isso estabilizará um pouco as coisas, mas provavelmente aumentará o déficit”, disse Dimon na Cúpula Global da China do JPMorgan em Xangai.
Para o Brasil, o avanço do pacote fiscal nos Estados Unidos impõe um cenário de maior atenção, já que a elevação dos juros americanos tende a pressionar a curva de juros local. Na quarta-feira, reagindo ao leilão de títulos longos americanos, os juros pagos por títulos locais voltaram a subir, com o prefixado de longo prazo retornando ao patamar acima de 14% ao ano. Nos indexados à inflação, nova subida para além dos 7% ao ano de juro real.
Em relação ao mercado doméstico, o foco é o Relatório Bimestral de Avaliação de Receitas e Despesas Primárias, previsto para ser divulgado às 14h30, seguido de entrevista dos ministros Fernando Haddad (Fazenda) e Simone Tebet (Planejamento).
O detalhamento dos dados será acompanhado com afinco pelo mercado, em meio a sinais de que o governo cogita reforçar as medidas sociais.
O relatório, conforme a mediana encontrada no levantamento feito pelo Projeções Broadcast, deve trazer um congelamento de R$ 10,0 bilhões no Orçamento, o que representaria um déficit de 0,26% do Produto Interno Bruto (PIB). Já para cumprimento total da meta fiscal de zero, os cálculos indicam a necessidade de R$ 40,0 bilhões entre bloqueios e contingenciamentos.
“Se o governo fizer um corte relevante acima de R$ 10 bilhões e sinalizar uma política mais austera esse ano, o mercado pode ter uma reação mais positiva. Mas vai ser importante olhar no detalhe se de fato o governo está incorporando as novas informações mais próximo da realidade”, comentou Tiago Sbardelotto, economista da XP, no Morning Call da XP.
Segundo o economista, o governo, diante da execução das despesas desse ano e também de todas as medidas tomadas recentemente relativas à receita, deveria fazer um contingenciamento de despesas de R$ 15 bilhões e um bloqueio, devido ao aumento da despesa obrigatória, de R$ 10 bilhões, totalizando R$ 25 bilhões.
“Esse é o montante que nós achamos que seria necessário para colocar em linha a execução orçamentária com o limite de despesas e a meta de resultado primário”, comentou. “Mas o governo não deve fazer isso”, acrescentou.
Mas o economista acha que há instrumentos para trazer as projeções do Orçamento para o campo mais otimistas. “Ele pode fazer novas medidas de receita ou reestimar parâmetros que acabam ajudando na arrecadação”, afirmou.
Segundo notícia da Folha de S. Paulo, o governo ofertará excedente da União em áreas do pré-sal e pode arrecadar R$30 bilhões, dinheiro que seria suficiente para cumprir a meta fiscal sem necessidade de contingenciar / bloquear valores expressivos. “Cumprir a meta com receita extraordinária é sinal ruim, mas totalmente previsível”, aponta José Raymundo Faria Junior, diretor da Wagner Investimentos.
(com Reuters e Estadão Conteúdo)
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Fonte: InfoMoney