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Turista brasileiro fica preso em tempestade e anda 24 km até resgate na Patagônia

Ele viajava sozinho, cruzando a Patagônia de norte a sul, quando seu GPS o desviou da rota principal para uma estrada secundária que o levaria a uma das experiências mais extremas de sua vida. Thiago Crevelloni saiu de Curitiba, Brasil, rumo à aventura. No meio dela, quando seu carro atolou na neve, decidiu seguir caminho a pé com medo de ficar preso. O que ele não sabia na época era que o caminho indicado pelo equipamento era um dos menos percorridos em Santa Cruz.

— Foi uma experiência extrema que deixou marcas em mim e, felizmente, teve um final feliz — disse ele ao jornal La Nación, em El Calafate, sobre a odisseia que enfrentou neste fim de semana, depois de caminhar mais de 24 quilômetros à noite, sob temperaturas extremas, até ser resgatado por uma patrulha policial.

Carro atolado e frio extremo

Um vídeo divulgado pela Polícia de Santa Cruz mostra o momento em que os agentes localizam Crevelloni, que já caminhara cinco horas pela neve à procura de ajuda.

Crevelloni deixou a cidade de Perito Moreno, no Norte de Santa Cruz, na manhã de sábado, com a intenção de percorrer os quase 800 quilômetros que o separavam de El Calafate, seu próximo destino. A Rota Nacional 40 estava com neve, mas era transitável. O turista dirigiu com cuidado, guiado pelos rastros deixados pelos caminhões e auxiliado pelas máquinas que limpavam a estrada. Porém, poucos quilômetros antes de chegar a Gobernador Gregores, o GPS indicou um atalho pela Rota 29 — na verdade, um antigo trajeto da Rota Nacional 40, que hoje quase ninguém usa.

A estrada de cascalho parecia em boas condições, mas logo a neve começou a aumentar.

— Depois de 20 quilômetros, começou a nevar forte. Parei para colocar as correntes. Continuei, mas ventava muito, e a neve estava ficando mais densa. Em uma curva, o carro bateu em uma duna de neve que não dava para distinguir claramente por causa do vento branco. Tudo estava branco, não dava para distinguir o que era estrada e o que não era. Fiquei completamente preso, com as rodas dianteiras para cima, e não consegui mover o carro — contou ele ao La Nación.

Decisão desesperada e caminhada solitária

Preso e sem condições de manobrar, ele tentou soltar o veículo com pedras, mas o frio e o cansaço o prejudicaram.

— O frio era insuportável. Estava a -2 graus, mas a sensação térmica era de -10 graus ou pior. Meu rosto e minhas mãos estavam congelados. Fiquei encharcado na neve tentando tirar o carro — disse ele.

Nesse momento, Crevelloni diz ter percebido “que estava sozinho, que já havia percorrido cerca de 50 quilômetros da estrada principal e que teria que caminhar pelo menos mais 30 quilômetros”, conta o homem, que é programador e trabalha remotamente, o que lhe permite trabalhar e viajar pelo mundo ao mesmo tempo.

— Entrei em pânico, pensei que poderia morrer congelado ali mesmo. Fiquei com medo de que a neve cobrisse o carro completamente — lembra ele.

Desorientação, alucinações e resgate

Sem meios de comunicação e com medo de ficar soterrado pela neve, ele destacou ter tomado “a decisão desesperada de caminhar pela tempestade em busca de ajuda”. Isso, apesar de já serem 17h no horário local e restar apenas mais uma hora de luz do dia.

— Peguei uma mochila com água e comecei a caminhar. Ainda estava claro, mas o frio estava piorando. Como não estava me alimentando bem, me senti fraco e logo o cansaço começou a tomar conta. Andei sem enxergar nada e comecei a me sentir pior — explica ele agora, após se recuperar do que, segundo ele, foram “os 24 quilômetros mais longos de sua vida”.

Com a noite veio a desorientação. Ele caminhou sem nenhuma referência visual, sem saber se estava indo na direção certa.

— Eu estava delirando, vi luzes se movendo no céu e percebi que minha mente não estava mais funcionando direito — lembrou Crevelloni, que afirmou ter “desabado na neve” por exaustão, após cinco horas de caminhada. — Fiquei ali por alguns minutos, tentando recuperar as energias. Consegui me levantar e continuei, embora não soubesse mais quanto tempo ainda me restava.

Viatura, abrigo e alívio

Foi naquele momento, olhando para trás, ao longo da linha reta sem fim, que ele viu uma luz se movendo.

— No começo, pensei que fosse uma alucinação, mas foi se aproximando. Era uma viatura policial, com as luzes acesas. Naquele momento, senti um alívio que não consigo descrever — diz ele, que ligou a lanterna do celular para ser visto pelos agentes.

A patrulha de resgate da polícia de Gobernador Gregores saiu para procurá-lo depois que María, uma amiga de Thiago que o esperava em El Calafate, preocupada com a falta de notícias, contatou o comissário Marcos Vega e o subcomissário Juan Manuel, de Tres Lagos. Graças a essa ação, a operação de resgate foi iniciada.

— Eles me deram água e comida, me mantiveram aquecido, falaram comigo com um calor que me tocou profundamente. Me levaram ao hospital para um check-up porque minhas pernas estavam dormentes, mas eu estava bem. E então me deram uma cama quentinha em um hotel — ele contou.

No dia seguinte, um caminhão de reboque conseguiu recuperar o veículo encalhado na neve.

— Foi uma experiência extrema. Poderia ter terminado de forma muito diferente. Foi graças à minha amiga María, à polícia e a todos que agiram rapidamente que posso contar esta história hoje — destacou Crevelloni, já em El Calafate.

Fonte: Exame

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