A Moody’s cortou a nota de crédito dos Estados Unidos de AAA para AA1 na última sexta-feira, 16.
A mudança acontece depois de mais de cem anos com a melhor classificação, em um momento de maior preocupação sobre as finanças do país.
A dívida federal já atinge US$ 36 trilhões, enquanto o déficit anual está perto de US$ 2 trilhões — ou cerca de 6% do Produto Interno Bruto (PIB) dos EUA.
De acordo com a Moody’s, “as administrações dos EUA e o Congresso não mudaram os grandes déficits fiscais anuais e o aumento dos custos com juros”.
A agência mudou a perspectiva de “negativa” para “estável”. Mas avisou que as propostas no Congresso não devem causar uma redução duradoura nos déficits públicos.
Risco fiscal prolongado
Para a Genial Investimentos, o rebaixamento já era esperado desde que a Moody’s alterou o outlook em 2023. Segundo a avaliação da casa, o principal fator por trás da decisão é o descontrole fiscal estrutural dos EUA.
O presidente Donald Trump ainda defende a extensão dos cortes de impostos de seu primeiro mandato.
Ele também pressiona o Federal Reserve para baixar os juros. Isso acontece mesmo com dados recentes mostrando que a inflação está desacelerando.
A Genial acredita que, até o fim da trégua tarifária com a China e a União Europeia, o Fed deve manter a taxa básica, o que deve se manter mesmo com as pressões políticas da Casa Branca.
Wall Street: cautela e realização de lucros
A reação do mercado ao corte da Moody’s foi imediata e cercada de cautela por parte de analistas.
Para alguns, o rebaixamento não foi uma surpresa, mas acende alertas sobre o momento delicado da economia americana e global.
Segundo a Bloomberg, Eric Beiley, da Steward Partners, afirmou que o corte é “um sinal de alerta.” Ele acredita que pode marcar o pico do atual ciclo de valorização das ações.
Michael O’Rourke, da JonesTrading, afirmou que espera “uma rodada de realização de lucros após a forte recuperação recente”.
Já para outros especialistas, o impacto vai além das ações e pode alcançar a estrutura da curva de juros americana.
Max Gokhman, da Franklin Templeton, disse que investidores institucionais podem trocar o tesouros por ativos mais seguros. Isso pode levar a um aumento perigoso nos juros longos (bear steepener).
Essa mudança no comportamento dos investidores também levanta preocupações sobre os reflexos globais do corte na nota. Para Ivan Feinseth, da Tigress Financial, a perda do selo triple A dos EUA gera efeitos em cadeia. “Os tesouros são a referência para outros países. Quando os EUA perdem essa nota, o impacto pode ser global”, afirmou.
Na mesma linha, Thomas Thornton, da Hedge Fund Telemetry, comparou a situação ao rebaixamento feito pela S&P em 2011. Mas ele ressalta que, desta vez, os mercados estão mais frágeis.
Comunicado da Moody’s: dívida deve atingir 134% do PIB até 2035
A Moody’s avisou que as propostas fiscais no Congresso, como os cortes de impostos de 2017, provavelmente não vão reduzir o déficit de forma duradoura.
A agência estima que a dívida federal dos EUA pode atingir 134% do PIB até 2035, contra 98% em 2024.
A reação política também foi intensa. O economista Stephen Moore, que foi assessor de Trump, chamou o corte de “ultrajante”.
O governo Trump também atacou o economista-chefe da Moody’s Analytics, Mark Zandi, alegando que ele tem um viés político. A Moody’s é independente da agência de classificação.
Impacto nos mercados
O impacto imediato da decisão da Moody’s foi visível nos mercados financeiros. Confira o desempenho das bolsas mundiais na manhã desta segunda-feira, 19:
Hang Seng (Hong Kong): leve recuo, próximo da estabilidade.
CSI 300 (China continental): perdas mais acentuadas.
Nikkei 225 e Topix (Japão): em queda.
Kospi e Kosdaq (Coreia do Sul): no vermelho.
S&P/ASX 200 (Austrália): em baixa.
- Futuros do Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq caem mais de 0,7%.
Fonte: Exame