Em 3 de julho de 2006, Warren Buffett foi até a agência do U.S. Bank no centro de Omaha, desceu até o cofre e abriu sua caixa de segurança. Retirou um certificado de 121.737 ações da Berkshire Hathaway, avaliado em cerca de US$ 11 bilhões. A venda dessas ações — uma pequena parte de sua participação na empresa — seria a primeira etapa de seu plano de doar praticamente toda a sua fortuna.
Essa visita ao banco representou um marco simbólico na vida de Buffett, talvez tão emblemática quanto outra, quase 70 anos antes, na mesma agência — então chamada Omaha National. Na ocasião, ele tinha apenas 6 anos, e seu pai abriu uma conta poupança para ele, depositando US$ 20.
Entre essas duas visitas, Buffett criou a Berkshire Hathaway, transformou-a no maior conglomerado dos EUA e tornou-se um dos investidores mais renomados do mundo. Em 3 de maio deste ano, anunciou o fim dessa trajetória extraordinária: vai passar o comando da empresa para seu braço direito, Greg Abel, ao final de 2024.
Buffett sai com um desempenho praticamente inigualável. De 1965 a 2024, gerou um retorno médio anual de 19,9% para os acionistas da Berkshire — cerca de 5,5 milhões por cento no acumulado. Nos anos 2020, sua fortuna ultrapassaria US$ 200 bilhões, caso não tivesse doado a maior parte de suas ações.
Isso leva às perguntas que intrigarão investidores por muito tempo: como ele transformou US$ 20 em mais de US$ 200 bilhões? Por que só ele conseguiu? Qual era o segredo?
Busca incessante
É tentador buscar a resposta nas máximas que ele repetia: “Seja medroso quando os outros forem gananciosos e ganancioso quando os outros forem medrosos.” Ou: “É muito melhor comprar uma empresa excelente a um preço justo do que uma empresa justa a um preço excelente.” Mas, embora tenha acreditado intensamente nelas, essas frases não são o verdadeiro segredo.
O segredo é que Buffett nunca parou de procurar o segredo. Quando questionado sobre seu sucesso, dizia simplesmente: “Sou racional.” Parece simples — mas ser racional significa mudar de ideia quando a realidade exige. E isso é extremamente difícil para a maioria das pessoas.
Buffett conseguia. Suas máximas parecem esculpidas em pedra, mas ele as aprendeu — e muitas vezes, da forma mais difícil. Quando adolescente, testou análise técnica, gráficos e sinais de tendência. Não funcionou. Tentou “fazer timing de mercado”. Também não deu certo.
Cometeu erros emocionais. Aos 11 anos, comprou suas primeiras ações: três papéis da Cities Service, para ele e três para sua irmã. Quando o preço caiu, e depois voltou ao valor original, vendeu. Mas a ação continuou subindo — multiplicou-se por cinco. Ele nunca esqueceu: o preço pago não importa, o que conta é o futuro da empresa.
Mais tarde, já como gestor consagrado, mudou novamente sua filosofia. No início da carreira, foi discípulo fiel de Benjamin Graham, defensor da compra de ações extremamente baratas. Mas seu sócio Charlie Munger o convenceu de que valia a pena pagar mais por empresas de alta qualidade. Em 1972, Buffett comprou a See’s Candies por três vezes seu valor contábil — algo impensável para os grahamitas. E não se arrependeu.
Ele continuou desafiando suas próprias convicções. Nos anos 1990, criticou abertamente a bolha da internet. Recusava-se a investir em empresas de tecnologia por considerá-las impossíveis de avaliar. Foi chamado de ultrapassado.
Mas, anos depois, encontrou sua resposta: em 2016, passou a comprar ações da Apple — e elas se tornaram a maior posição da Berkshire. Mesmo com alertas de que o papel estava caro, Buffett reconheceu ali um negócio excepcional, com alta rentabilidade e vantagem competitiva duradoura. Em 2023, disse aos acionistas: “A Apple é simplesmente melhor que qualquer outro negócio que possuímos.” (A Berkshire vendeu grande parte dessas ações em 2024, mas elas continuavam como seu maior investimento em ações no fim do ano.)
Na assembleia mais recente, brincou: “É até um pouco constrangedor admitir que Tim Cook fez mais dinheiro para a Berkshire do que eu.”
Buffett também evoluiu em sua forma de doar. Planejava doar sua fortuna após a morte, por meio de sua própria fundação. Mas, em 2006, aos 75 anos, mudou de ideia. Decidiu doar em vida — majoritariamente para a Fundação Bill & Melinda Gates, além de fundações de seus três filhos.
O motivo? Como sempre, uma avaliação racional. Os Gates eram amigos e administravam uma fundação preparada para receber somas gigantescas. Além disso, eram bem mais jovens. Como explicou à Fortune: “O que poderia ser mais lógico do que encontrar alguém mais capacitado do que você para fazer o que precisa ser feito?”
Foi isso que o levou sozinho ao cofre em Omaha, para retirar um papel de US$ 11 bilhões — que logo seria enviado à fundação. Ninguém sabe o que sentiu ao se despedir de parte tão significativa de sua vida. Mas é difícil imaginar que tenha hesitado. Provavelmente, saiu sorrindo.
Três grandes viradas de Warren Buffett
1- Adeus aos cigarros acesos
Começou seguindo Benjamin Graham, comprando ações baratíssimas. Mas aceitou o argumento de Munger: boas empresas, mesmo caras, valem o investimento. Foi assim que encontrou alguns de seus maiores sucessos.
2- Do ceticismo à tecnologia
Evitou empresas de tecnologia por décadas, mas reconheceu que a Apple era um negócio tradicionalmente excepcional. A aposta virou uma das mais lucrativas da história da Berkshire.
3- Doação em vida
Planejava doar após a morte, mas mudou de ideia ao ver a eficácia da Fundação Gates. Já destinou cerca de US$ 40 bilhões. Como explicou: “O mais lógico é entregar a tarefa a quem está mais preparado que você.”
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Fonte: InfoMoney