*Por Ana Moreira
Marte, o quarto planeta do Sistema Solar, está localizado a uma distância de 227.943.824 km (1,5 unidades astronômicas) do Sol, com área superficial de 1,44 x 10⁸ km², consideravelmente menor que a Terra.
O planeta vermelho possui gravidade equivalente a 38% da terrestre (3,71 m/s²) e temperaturas extremas que variam de 23°C no período mais quente a -144°C nas fases mais frias das regiões equatoriais.
A atmosfera marciana apresenta-se extremamente rarefeita, com pressão atmosférica equivalente a apenas 1/200 da terrestre, composta predominantemente por dióxido de carbono (95%), hidrogênio (2%) e oxigênio (0,4%).
A escassez de água é notável – se toda água disponível fosse condensada, formaria apenas uma película de 0,1 mm sobre a superfície.
Apesar das diferenças significativas, Marte possui características que favorecem potenciais intervenções humanas: calotas polares, estações climáticas definidas, cânions e vulcões (inativos há longo período).
Explorações conduzidas pela NASA revelaram evidências de inundações antigas, sugerindo a existência prévia de água em estado líquido.
O rover Perseverance, operante desde 2021, identificou rochas com assinaturas químicas que podem indicar presença de vida microscópica, embora confirmações dependam da análise de amostras na Terra.
Terraformação: do conceito à implementação
O conceito de terraformação, popularizado cientificamente por Carl Sagan na década de 1960, envolve transformar Marte em um ambiente com características similares às terrestres.
Para isso, seriam necessários elementos fundamentais como água líquida, proteção contra radiação solar, elevação de temperatura (aproximadamente 60K acima da atual) e modificação da composição atmosférica.
O processo iniciaria pela criação de uma atmosfera mais densa para atingir pressão atmosférica compatível com água em estado líquido.
Uma atmosfera adequada permitiria a introdução de microrganismos como cianobactérias, que realizam fotossíntese e transformam dióxido de carbono em oxigênio.
Entre as estratégias propostas está o bombardeio controlado da superfície marciana com asteroides redirecionados, gerando calor suficiente para vaporizar o dióxido de carbono presente, criar gases de efeito estufa, aumentar a pressão atmosférica e elevar a temperatura.
Contudo, análises mais aprofundadas indicam que esta solução não seria sustentável, pois a quantidade necessária de CO₂ excederia a disponível no planeta.
Uma abordagem alternativa envolveria a importação de gases terrestres como metano (CH₄) e outros hidrocarbonetos, que reagiriam com a radiação ultravioleta solar produzindo dióxido de carbono e água: CH₄ + 4Fe₂O₃ → CO₂ + 2H₂O + 8FeO. A adição de hidrogênio seria crucial para formar uma hidrosfera.
Para proteção da nova atmosfera contra os ventos solares, pesquisadores propõem a criação de um campo magnético artificial ao redor de Marte, ionizando partículas da superfície de Fobos (maior lua marciana) e acelerando-as para formar um anel de plasma em órbita.
Entretanto, a energia necessária para este processo seria extraordinária – aproximadamente 10¹⁷ joules, superior à liberada em um terremoto de magnitude 8,5.
Biotecnologia e engenharia genética na adaptação marciana
A introdução de cianobactérias produtoras de oxigênio precisaria ser complementada por bactérias fixadoras de nitrogênio.
Espécies extremófilas como Rhizobium e Bradyrhizobium, capazes de sobreviver em condições adversas (altas temperaturas, pH extremo e alta radiação), transformariam nitrogênio gasoso em amônia, criando fertilizantes naturais para futuras plantas.
Pesquisas em andamento avaliam a resistência do musgo do deserto Syntrichia caninervis, que demonstrou notável capacidade de regeneração após exposição a temperaturas extremas (-80°C por 3-5 anos e -196°C por 15-30 dias) e radiação gama em níveis letais para outras plantas.
A técnica CRISPR (Clustered Regularly Interspaced Short Palindromic Repeats) permitiria extrair fragmentos genéticos com características favoráveis à sobrevivência em Marte e inseri-los em outros organismos, potencialmente desenvolvendo alimentos resistentes às condições marcianas e reduzindo a dependência de suprimentos terrestres.
Cultivo experimental e perspectivas futuras
Experimentos conduzidos pela Wageningen University & Research testaram o cultivo de ervilhas, cenouras e tomates em ambiente controlado, utilizando três tipos de substrato: solo convencional, areia e simulador de regolito marciano (MMS-1).
Os resultados indicaram melhor desempenho do tomate em monocultura, enquanto o cultivo consorciado no regolito marciano apresentou limitações devido à ausência de nodulação de rizóbios nas raízes, impossibilitando a fixação adequada de nitrogênio.
O baixo Rendimento Relativo Total (RYT) do regolito marciano foi atribuído principalmente à alta compressão e elevado pH, problemas que poderiam ser mitigados com ajustes como a seleção de grãos maiores para reduzir a compressão.
Quanto ao futuro da colonização, os avanços tecnológicos como o desenvolvimento do foguete Starship pela SpaceX representam passos significativos, mas os desafios permanecem imensos.
A exposição prolongada dos astronautas à radiação cósmica e o confinamento durante aproximadamente três anos (considerando ida, permanência e retorno) apresentam riscos significativos à saúde física e mental.
O artigo conclui ressaltando que, independentemente do progresso nas iniciativas de terraformação, a Terra deve permanecer como planeta principal da vida humana, evidenciando a necessidade contínua de medidas para preservação do nosso próprio planeta.
Fonte: Exame