Com a taxa de juros ainda em dois dígitos, brasileiros têm acessado cada vez mais o consórcio como uma saída mais barata e previsível para adquirir bens e serviços. O número de participantes ativos chegou a 11,4 milhões em março de 2025, o maior já registrado no país, segundo a Associação Brasileira de Administradoras de Consórcios (Abac).
Como funciona um consórcio?
A lógica do consórcio é simples: grupos de pessoas contribuem mensalmente para formar um fundo comum. A cada mês, um ou mais participantes são contemplados com o valor total da carta de crédito. A modalidade permite acesso a bens e serviços diversos — de imóveis e veículos até procedimentos médicos e viagens — com previsibilidade de custo final.
Além de consumidores individuais, o produto tem sido adotado por empresas e produtores rurais para financiar máquinas, equipamentos e expansão patrimonial.
A possibilidade de comprar com desconto à vista, com carta de crédito contemplada, também atrai quem deseja poder de barganha sem depender de empréstimos. Só no primeiro trimestre de 2025, o setor movimentou R$ 105 bilhões — alta de 36,4% em relação ao mesmo período de 2024.
Sicredi cresce acima da média com foco em empresas
Presente em todo o Brasil, o Sicredi administra R$ 50 bilhões em consórcios ativos e atende 392 mil cotistas. Em 2024, a operação da instituição cresceu 31,9%, superando o desempenho médio do mercado (19,6%).
Segundo Felipe Sessin, superintendente de Produtos do Sicredi, o crescimento se deve à oferta de soluções personalizadas. “Nosso compromisso é atender genuinamente às necessidades dos nossos associados, oferecendo produtos que fazem sentido para cada momento de sua vida.”
Nos últimos anos, a atuação junto a empresas se intensificou: a participação de pessoas jurídicas na carteira de consórcios subiu de 26,6% em 2021 para 34% em 2024, com destaque para os setores de construção civil, agropecuária e transporte.
Além de refletir o aumento da demanda por crédito mais acessível, o avanço do consórcio sinaliza uma mudança no comportamento financeiro dos brasileiros. “É uma forma de poupança programada, com objetivo definido e sem a incidência de juros”, explica Edison Neuwald, diretor de Negócios do Sicredi Central Sul/Sudeste.
Com parcelas iniciais até 40% mais baratas que as de financiamentos tradicionais e isenção de IOF (Imposto sobre Operações Financeiras), o produto tem se tornado uma opção viável para diferentes perfis de renda.
A educação financeira também tem impulsionado essa transformação. “O consumidor está mais consciente da importância de planejar suas finanças pessoais e, por isso, evita pagar juros”, complementa Sessin. Para ele, a maior compreensão sobre o impacto dos juros nos investimentos e no poder de compra faz com que o consórcio ganhe ainda mais destaque frente a outras modalidades de crédito.
Do planejamento ao sonho realizado
É o caso do associado Onofre Danilo Miranda Pereira, de Minas Gerais. Ele e a esposa, Pamella Vasconcelos, ambos policiais municipais, buscavam uma renda extra e planejavam investir na construção de quitinetes em uma cidade universitária, onde há forte demanda por aluguel. Com orçamento estimado em R$ 400 mil, procuraram alternativas de financiamento — mas foi com o consórcio do Sicredi que encontraram o caminho ideal.
Colaboradores da agência ajudaram no estudo de viabilidade do projeto e apresentaram comparativos com outras modalidades. Onofre estava decidido a iniciar a obra, mesmo que fosse apenas o primeiro piso, para começar a alugar. No entanto, foi contemplado já na primeira assembleia com um lance fixo de 20% da carta. Assim, não precisou descapitalizar o próprio recurso e conseguiu construir toda a estrutura de uma vez.
Casos como o de Pereira reforçam a expectativa de que, diante da taxa básica elevada e da inflação ainda instável, o consórcio continue ganhando espaço como uma ferramenta de planejamento financeiro de longo prazo para famílias, empreendedores e produtores rurais.
Fonte: Exame