Uma polêmica envolvendo um simples bolo de cenoura sem glúten, levado por uma menina celíaca à escola em Araucária, no Paraná, expôs os desafios e a falta de compreensão enfrentados por pessoas com doença celíaca, uma condição autoimune que exige restrição total ao glúten para evitar sérios problemas de saúde.
Cerca de 2 milhões de pessoas no Brasil sofrem da doença, de acordo com a Federação Nacional das Associações de Celíacos do Brasil (Fenacelbra).
Tayrine Novak, mãe da menina, possui todos os laudos que comprovam o diagnóstico da filha com doença celíaca em grau grave. Ela enviou um bolo de cenoura sem glúten na lancheira da filha para evitar riscos de contaminação cruzada. A consequência desse gesto foi uma polêmica entre os pais de outros alunos e a Secretaria Municipal de Educação. Outra mãe reclamou que o bolo era diferente da merenda servida na escola, desencadeando um debate sobre direitos, segurança alimentar e inclusão.
A escola oferecia um cardápio específico para celíacos, mas ainda havia riscos de contaminação cruzada durante o preparo na cozinha coletiva, conforme comprovado pelos laudos médicos apresentados por Tayrine.
Após negociações mediadas pelo Ministério Público, foi aprovada uma lei municipal que garante que estudantes celíacos possam levar seus próprios alimentos para as escolas públicas e privadas de Araucária, com a preferência de que esses alimentos sejam semelhantes ao cardápio escolar.
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Sobre a doença
Segundo Andrea Bottoni, nutrólogo do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, a doença celíaca é uma condição autoimune crônica que provoca reações graves no intestino delgado quando o paciente ingere glúten, uma proteína presente no trigo, cevada, centeio e outros derivados.
“Não se trata de uma simples intolerância alimentar. Mesmo pequenas quantidades de glúten podem desencadear processos inflamatórios sérios e causar complicações como desnutrição, anemia, osteoporose, infertilidade e até câncer intestinal”, alerta o especialista.
Os sintomas da doença celíaca variam, incluindo dor abdominal, diarreia crônica e perda de peso, mas em alguns casos, a condição pode se manifestar de forma silenciosa. O diagnóstico é realizado por meio de exames de sangue para a detecção de anticorpos específicos, testes genéticos e, se necessário, biópsia do intestino delgado.
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“O tratamento consiste em uma dieta 100% livre de glúten, sem espaço para flexibilizações. ‘Manter essa dieta não é uma escolha; é uma necessidade vital. É por isso que informação, respeito e empatia são fundamentais’, reforça Bottoni.
O especialista destaca que também é essencial diferenciar a doença celíaca da sensibilidade ao glúten e da intolerância. No caso da doença celíaca, a restrição ao glúten deve ser total e vitalícia, enquanto na sensibilidade, os sintomas surgem sem a agressão autoimune clássica.
A dieta adequada para tratar a doença celíaca deve priorizar alimentos que não contenham glúten naturalmente, como frutas, legumes, carnes frescas, ovos e arroz.
“A alimentação do celíaco deve ser a mais natural possível. Escolher alimentos frescos, priorizar a simplicidade nas refeições e evitar produtos ultraprocessados são estratégias que ajudam a manter a saúde intestinal em equilíbrio”, completa o especialista.
Atualmente, é possível realizar testes genéticos para identificar a predisposição à doença celíaca, o que pode acelerar o diagnóstico em famílias com histórico da condição.
O caso da aluna de Araucária ilustra os desafios potenciais na garantia da segurança alimentar das crianças fora de casa, especialmente em ambientes coletivos como as escolas.
Apesar dos avanços legais, como cardápios especiais e a permissão para a inclusão de alimentos preparados em casa, muitas famílias ainda enfrentam resistência, burocracia e falta de compreensão por parte das instituições.
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Fonte: InfoMoney