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A árvore mais velha do mundo resiste ao clima extremo — e a uma estrada no Chile

Conhecida como “Gran Abuelo”, a árvore mais antiga do mundo tem 5.400 anos de idade e testemunhou o surgimento e a queda de civilizações. Em solo chileno, agora enfrenta uma nova ameaça: um projeto rodoviário que poderia comprometer seu habitat e o de milhares de da mesma espécie no Parque Nacional Alerce Costero, no sul do país.

“Esta floresta guarda memórias que vão muito além da nossa existência humana”, disse ao portal DW, Jonathan Barichivich, cientista ambiental chileno radicado na França e cujo avô descobriu a árvore em 1972 enquanto trabalhava como guarda florestal.

“Cresci nesta floresta, aprendi os nomes das plantas antes mesmo de saber ler. São essas memórias que alimentam minha dedicação científica”, destacou.

Uma enciclopédia viva das mudanças climáticas

A “Fitzroya cupressoides”, conhecida localmente como alerce ou cipreste da Patagônia, não é apenas notável por sua longevidade extraordinária.

Estas árvores funcionam como verdadeiros registros históricos das variações climáticas ao longo de milênios.

“São como enciclopédias”, definiu ao DW Rocio Urrutia, cientista chilena que dedica décadas ao estudo dessas coníferas. Sua pesquisa permitiu reconstruir registros de temperatura terrestre que remontam a quase 5.700 anos atrás.

Segundo a pesquisadora, a estrutura dos anéis de crescimento dessas árvores revela informações cruciais sobre a capacidade das florestas de absorver carbono, o que ajuda a comunidade científica a entender como os ecossistemas florestais respondem às mudanças climáticas e seu potencial de combater o aquecimento global. 

Projeto rodoviário e incêndios ameaçam o ecossistema

Desde 2008, o governo chileno discute a reabertura de uma antiga estrada madeireira que cortaria o parque nacional. Autoridades regionais defendem que a via conectaria municípios e impulsionaria o turismo local, mas críticos e ambientalistas contestam.

O Movimento pela Defesa do Alerce Costero alerta que o projeto resultaria na “morte imediata de 850 Lahual (Alerces) de diferentes idades e a deterioração do habitat de outros 4.308”.

Há também suspeitas de que a verdadeira finalidade seria facilitar o transporte de lítio da Argentina para portos no Pacífico.

Outro risco significativo é o aumento de incêndios. Na região, mais de 90% das queimadas começam próximas a estradas – um padrão também observado globalmente.

Na Amazônia, por exemplo, cerca de 75% iniciam a menos de cinco quilômetros de uma via, e nos Estados Unidos, 96% começam a menos de 800 metros.

“O alerce é uma espécie ameaçada de extinção“, complementou Urrutia. “Cada árvore individual conta. Um grande incêndio poderia eliminar as últimas populações.”

A luta para salvar a árvore milenar

Para alertar sobre o perigo, os pesquisadores publicaram uma carta sintetizando os anos de pesquisa e trabalho de campo. A iniciativa repercutiu na comunidade científica internacional e, combinada com a pressão dos moradores locais, conseguiu fazer o governo recuar temporariamente do projeto.

Segundo os pesquisadores, a batalha pela preservação do Gran Abuelo e seu ecossistema representa mais que a proteção de uma única árvore – é a luta pela conservação de um patrimônio natural que guarda segredos ainda não revelados sobre nosso passado climático e possíveis soluções para o futuro.

Fonte: Exame

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