Cerca de 2,1 milhões de pessoas podem ter assistido ao show de Lady Gaga no Rio de Janeiro, segundo estimativas da prefeitura da capital fluminense. Mas a projeção tem sido alvo de questionamentos por parte de especialistas e pesquisadores, que apontam inconsistências nos cálculos.
Um dos principais fatores levantados é a própria extensão da praia de Copacabana, que tem cerca de 4,5 km, mas não se trata de um espaço livre de barreiras ou completamente plano. A presença de construções, a instalação de estruturas para o evento e a densidade populacional tornam improvável a acomodação de um público tão grande.
De acordo com um estudo do Datafolha, a capacidade máxima da praia seria de aproximadamente 1,2 milhão de pessoas. A estimativa leva em conta uma densidade segura de pessoas por metro quadrado, além dos espaços ocupados por palcos, equipamentos e áreas interditadas.
Com base em uma densidade média de duas pessoas por metro quadrado, o público presente estaria mais próximo dos 800 mil.
A discrepância não é nova. Estimativas infladas são comuns em eventos ao ar livre. Durante as festas de Réveillon em Copacabana, os números divulgados chegaram a indicar um público equivalente à metade da população da cidade, mesmo com as limitações físicas do local, como lembrou uma pesquisadora da Universidade de São Paulo (USP) em entrevista à revista Veja.
Além disso, comparações ajudam a ilustrar o exagero: o Estádio do Maracanã, com capacidade para cerca de 78.800 pessoas, comportaria 1,6 milhão de pessoas somente se fosse multiplicado por 20. A lotação máxima da praia, de 2,7 milhões, só poderia ser atingida em um cenário ideal, com área completamente livre — o que claramente não é o caso.
Imagens de drones captadas durante o show reforçam a hipótese de superestimação. Vista do alto, a multidão ocupa apenas parte do espaço disponível, indicando um público mais próximo da metade da estimativa oficial.
Maior, mais caro e mais lucrativo
Se o show de Madonna custou R$ 60 milhões com três cotas de patrocínio privado, a apresentação de Lady Gaga seria 53,3% mais cara, de R$ 92 milhões, segundo O Globo, com seis cotas vendidas, além dos apoios.
O show da Rainha do Pop em 2024 contou com R$ 20 milhões divididos igualmente entre o Governo do Estado do Rio de Janeiro e da prefeitura da capital fluminense, somados a valores pagos pelo Itaú, Heineken e Nivea. A Deezer entrou como player oficial do evento. O cachê de Madonna, revelou O Globo na época, foi de R$ 17 milhões.
A apresentação foi histórica: mais de 1,6 milhão de pessoas nas areias de Copacabana no que se tornou o maior show já feito por Madonna em toda a sua carreira. O evento movimentou incríveis R$ 300 milhões na economia do Rio, acima da projeção da prefeitura.
A Bonus Track, produtora do show de Gaga, diversificou as cotas de patrocínio e recebeu mais investimento dos órgãos públicos. O Governo do Estado do Rio de Janeiro e a prefeitura do Rio de Janeiro investiram, cada um, R$ 15 milhões (R$ 30 milhões, no total). Os patrocinadores privados são Corona, Santander, LATAM, Zé Delivery, Guaraná Antarctica e a marca de bebidas prontas Beats. Também apoiam C&A, TRESemmé, 99, Eventim e Kefler. A Deezer, como da outra vez, é o player oficial do evento.
O cachê da cantora não foi anunciado, mas as projeções superam US$ 1 milhão, levando em consideração os valores recebidos nos festivais anteriores, em pesquisa feita pelo The Guardian.
Fonte: Exame