O cardeal peruano Juan Luis Cipriani causou desconforto dentro e fora da Igreja Católica ao aparecer publicamente em frente ao caixão do papa Francisco trajando as vestes cardinalícias que o próprio pontífice o havia proibido de usar.
Fotos publicadas na imprensa o mostram de batina preta, faixa e solidéu vermelhos e com a cruz peitoral — símbolos que lhe haviam sido vetados pelo Vaticano após denúncias de abuso sexual.
Ex-arcebispo de Lima e primeiro cardeal da Opus Dei, Cipriani é uma figura controversa, conhecido por sua atuação no setor mais conservador do clero latino-americano. Ele foi acusado de abusar sexualmente de um adolescente há quatro décadas, o que nega. O caso veio à tona em 2018, quando a suposta vítima, hoje com 58 anos, relatou ao Vaticano que sofreu toques, carícias e beijos do cardeal quando tinha entre 16 e 17 anos.

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Diante da gravidade das denúncias, o papa Francisco o puniu em 2019 com medidas disciplinares incomuns: impôs o exílio do Peru, vetou declarações públicas, proibiu o uso de símbolos cardinalícios e o excluiu de atividades da Cúria, incluindo o conclave — embora, por ter 81 anos, ele já estivesse inelegível para votar.
Apesar disso, Cipriani foi visto na capela ardente na Basílica de São Pedro e no túmulo papal em Santa Maria Maior, sempre com os trajes de cardeal. A Rede de Sobreviventes do Peru divulgou nota criticando duramente sua presença. “Cipriani e os cardeais que permitam que ele faça isso revitimizam a vítima denunciante, o que é imperdoável”, diz o comunicado. “É uma mensagem preocupante que afeta a confiança nos critérios da eleição do próximo pontífice”, completa.
Embora o Vaticano tenha evitado comentar o caso, uma carta aberta de Cipriani afirma que, em 2020, o próprio Francisco teria lhe permitido “retomar suas tarefas pastorais”. O religioso diz nunca ter cometido abuso, nega ter sido formalmente ouvido pela Santa Sé e afirma que foi punido “sem processo”. As informações, no entanto, não foram confirmadas oficialmente.
Na reunião preparatória de segunda-feira (29), os cardeais presentes colocaram os casos de abuso sexual como um dos principais desafios para o próximo papa. Não está claro se Cipriani participou do encontro, mas sua presença, ainda que fora do conclave, já gerou reações duras entre grupos de vítimas e analistas do Vaticano.
O Peru ainda conta com dois outros cardeais: Pedro Barreto, também com 81 anos, e Carlos Castillo, progressista de 75 anos e único do país apto a votar no conclave que começa em 7 de maio.
Sob o peso da crise de credibilidade
O caso Cipriani amplia as tensões em torno do conclave que elegerá o sucessor de Francisco. Mesmo afastado do núcleo decisório, sua simples presença com trajes oficiais é vista como um desafio à autoridade do papa e às políticas de tolerância zero com abusos sexuais. O episódio soma-se a outros escândalos recentes, como o do cardeal italiano Angelo Becciu, que também foi afastado por irregularidades financeiras e desistiu de comparecer ao conclave após forte pressão.
O embate entre sanções internas e a ausência de processos judiciais formais lança dúvidas sobre a eficácia das reformas de Francisco, especialmente em contextos sensíveis como a responsabilização de membros da alta hierarquia. Com o novo papa sendo escolhido nas próximas semanas, o escândalo Cipriani pode marcar o início de um conclave ainda mais vigiado por dentro e por fora da Igreja.
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