A tensão entre Índia e Paquistão chegou a níveis críticos, com o governo paquistanês afirmando que uma ofensiva do país vizinho é iminente.
Isso começou com um ataque na região disputada do Himalaia de Jammu e Caxemira que matou 26 pessoas no dia 22 de abril.
Entenda abaixo os principais pontos de conflito entre Índia e Paquistão.
O que aconteceu entre Índia e Paquistão?
No dia 22 de abril, homens armados abriram fogo contra turistas em um popular destino de viagem na região montanhosa de Pahalgam, na Caxemira administrada pela Índia.
Pelo menos 25 cidadãos indianos e um nepalês foram mortos. A ofensiva ocorreu em um prado no Vale Baisaran – que só é acessível a pé ou a cavalo.
Testemunhas descreveram cenas de horror, afirmando que os terroristas abriram fogo a curta distância. Outros sobreviventes que falaram com a imprensa disseram que os atiradores acusaram as famílias de apoiarem o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, antes de atirar.
O grupo Resistência da Caxemira, também conhecido como The Resistance Front (A Frente de Resistência, em tradução livre), reivindicou a responsabilidade pelo ataque, expressando descontentamento com “forasteiros” que se estabeleceram na região e causaram uma “mudança demográfica”.
A CNN não pôde verificar independentemente essa alegação.
No dia 23, a Índia acusou o Paquistão de apoiar grupos terroristas na região, mas o governo paquistanês negou qualquer envolvimento no caso.
Quem é Resistência da Caxemira?
O Resistência da Caxemira, ou The Resistance Front, surgiu em 2019 e é considerado uma ramificação do Lashkar-e-Taiba, sediado no Paquistão, de acordo com o Portal do Terrorismo do Sul da Ásia, um think tank sediado em Delhi.
O Lashkar-e-Taiba, listado como organização terrorista estrangeira pelos Estados Unidos, é um grupo islâmico acusado de planejar ataques na Índia e no Ocidente, incluindo o ataque de três dias a Mumbai em novembro de 2008.
“Isso é basicamente uma fachada para o LeT. São grupos que foram criados nos últimos anos, principalmente quando o Paquistão estava sob pressão da Força-Tarefa de Ação Financeira e tentavam criar um padrão de negação de envolvimento em terrorismo em Jammu e Caxemira”, disse Ajai Sahni, chefe do Portal do Terrorismo do Sul da Ásia.
Em 2019, o Resistência da Caxemira reivindicou responsabilidade por um ataque com granada na maior cidade de Jammu e Caxemira, Srinagar, segundo pesquisa do think-tank Observer Research Foundation (ORF).
O surgimento do grupo é retratado como o “início de uma nova resistência indígena na Caxemira”, pontuou o ORF em 2021.
A Índia classificou o Resistência como uma “organização terrorista” e o vinculou ao Lashkar-e-Taiba
O Ministério do Interior da Índia informou ao Parlamento em 2023 que o grupo esteve envolvido no planejamento de assassinatos de integrantes das forças de segurança e civis em Jammu e Caxemira.
O grupo também coordenou o recrutamento de militantes e o contrabando de armas e narcóticos através da fronteira, ainda segundo a pasta.
Oficiais de inteligência disseram à Reuters que o grupo também vinha fazendo ameaças online contra grupos pró-Índia nos últimos dois anos.
O Paquistão negou que apoie e financie militantes na Caxemira, afirmando que oferece apenas apoio moral e diplomático.
Por que a Caxemira é importante para a Índia e o Paquistão?
A Caxemira é um dos pontos de conflito mais perigosos do mundo.
Reivindicada em sua totalidade tanto pela Índia quanto pelo Paquistão, a região montanhosa tem sido o epicentro de uma disputa territorial frequentemente violenta entre as duas potências nucleares por mais de 70 anos.
A questão provocou três guerras entre os países e uma fronteira chamada Linha de Controle divide a região entre Nova Délhi e Islamabad.
As tensões entre a Índia, de maioria hindu, e o Paquistão, de maioria muçulmana, sobre a região aumentaram nos últimos anos, depois que o governo liderado por Modi revogou sua autonomia constitucional em 2019, colocando-a sob controle direto de Nova Délhi.

Embora o governo indiano tenha afirmado que a militância diminuiu em meio à forte presença militar, os ataques continuam atormentando a região, provocando agitação e protestos.
Enquanto isso, tem havido forte censura da mídia e apagões nas comunicações.
Analistas afirmam que o massacre contra turistas destruiu a ilusão de calma que Modi projetou sobre a região e levanta questões sobre como tal falha de segurança poderia ter ocorrido em uma das zonas mais militarizadas do mundo.
Retaliações após ataque
Nos dias que se seguiram ao ataque em Pahalgam, as relações entre os dois países se deterioraram.
A Índia cancelou o visto de cidadãos paquistaneses, e o Paquistão respondeu com uma ação recíproca. Ambos os países instruíram diplomatas e cidadãos a retornarem para casa antes de 30 de abril.
Mas talvez a retaliação mais significativa foi a suspensão da participação da Índia no Tratado das Águas do Indo, um importante pacto de compartilhamento de água com o Paquistão em vigor desde 1960 e que é considerado uma rara história de sucesso diplomático entre os dois vizinhos.
O enorme sistema do Rio Indo, que sustenta meios de subsistência no Paquistão e no norte da Índia, tem origem no Tibete, fluindo através da China e da Caxemira controlada pela Índia antes de chegar ao Paquistão.
“A redução dos laços diplomáticos e a suspensão do Tratado das Águas do Indo não são bons sinais para a estabilidade na região”, alertou Fahd Humayun, Professor Assistente de Ciência Política da Universidade Tufts.
“A suspensão não apenas representa uma violação das obrigações do tratado internacional, mas o direito à água como país ribeirinho inferior é visto como uma questão de segurança nacional pelo Paquistão e sua suspensão será interpretada como uma ação beligerante”, acrescentou.
O Ministro de Energia do Paquistão, Awais Leghari, chamou a medida de “um ato de guerra”.
“Cada gota é nossa por direito, e nós a defenderemos com toda força — legal, política e globalmente”, afirmou Leghari.
Risco de escalada militar
Tanto Índia quanto Paquistão têm demonstrado seu poderio militar após o ataque.
O Paquistão abateu um drone indiano usado para “espionagem” na disputada região da Caxemira, disseram fontes de segurança paquistanesas à CNN.
Dois dias antes, a Marinha da Índia afirmou ter realizado ataques de teste com mísseis para “revalidar e demonstrar a prontidão de plataformas, sistemas e tripulação para ataques ofensivos de precisão de longo alcance”.
A tensão também tem aumentado ao longo da Linha de Controle, e tiros têm sido trocados ao longo da fronteira disputada por noites consecutivas.
Os Diretores Gerais de Operações Militares de ambos os países conversaram por uma linha direta na terça-feira (29), confirmaram a emissora estatal indiana e as Forças Armadas do Paquistão na quarta-feira – a primeira conversa entre as autoridades militares desde o ataque de Pahalgam.
Este conteúdo foi originalmente publicado em Entenda a tensão entre Índia e Paquistão que pode levar a nova guerra no site CNN Brasil.
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