A queda recente da curva de juros futuros no Brasil não é um fenômeno isolado e tampouco pode ser explicada apenas por fatores domésticos. A afirmação é do JPMorgan em análise enviada ao mercado nesta quarta-feira (30). Embora investidores locais associem o movimento a declarações do Banco Central ou à divulgação de dados internos, o fechamento das taxas foi registrado em praticamente todos os mercados emergentes nas últimas semanas — com exceção da China.
Em relatório, os analistas do banco afirmam que a valorização de ações mais sensíveis ao custo do crédito, como papéis do setor de educação, construção e consumo, tem sido alavancada por um movimento mais amplo. A redução das taxas também foi observada em países como Polônia, África do Sul, México e Chile, graças a um ambiente internacional mais favorável a moedas emergentes diante da perda de força do dólar e do avanço de negociações comerciais.
A curva de juros brasileira, segundo o banco, continua projetando taxas mais altas do que as estimativas da própria instituição. Pelas projeções atuais, o mercado ainda aposta que a Selic retorne ao patamar de 14,25% até março de 2026. Para o JPMorgan, essa previsão está acima do que os fundamentos indicam neste momento.
Apesar da surpresa com o comportamento recente do Ibovespa — que alcançou nesta semana os 135 mil pontos projetados pelo banco para o fim do ano — analistas veem espaço para que ações ligadas à economia doméstica continuem em alta, caso o Banco Central encerre o ciclo de aperto na reunião da próxima semana e inicie cortes ainda este ano. A possibilidade de uma Selic em um dígito em 2026 reacende o interesse por ativos que dependem de crédito e juros mais baixos.
Entre as ações com melhor desempenho no mês, aponta o banco, estão Localiza (RENT3), Azzas 2154(AZZA3), Yduqs (YDUQ3), Cogna (COGN3) e Rumo (RAIL3). No acumulado do ano, empresas como Cyrela (CYRE3), Magazine Luiza (MGLU3) e as ligadas ao setor educacional estão entre os maiores ganhos. O banco lembra que, no final do ano passado, o mercado chegou a precificar juros a 17% ao ano, em meio ao estresse fiscal e incertezas sobre a política monetária.
Comportamento positivo
Um fator considerado atípico pelos analistas é o comportamento positivo do Ibovespa durante o atual ciclo de alta de juros. Caso o índice continue subindo até a próxima reunião do Copom, será a primeira vez desde 2004 que isso ocorre. Naquele período, o Brasil registrava superávits fiscais e começava a se beneficiar da alta das commodities.
Levantamento do JPMorgan com base em ciclos anteriores mostra que o mercado costuma demorar a reagir aos sinais de afrouxamento. Desde 2003, o intervalo médio entre o fim de uma alta de juros e o início da queda é de quase sete meses. Considerando apenas o período pós-crise de 2008, esse prazo sobe para 7,5 meses. Se esse padrão se repetir, os primeiros cortes podem ocorrer entre novembro e dezembro.
O comportamento dos ativos no passado também sugere cautela. Nos primeiros 30 dias após o último aumento, o desempenho do mercado de ações costuma ser negativo, inclusive entre os setores mais ligados aos juros. Três meses depois, alguns segmentos começam a se recuperar, mas a resposta não é imediata.
Mesmo assim, a precificação atual indica que os investidores já começaram a apostar em um ciclo de flexibilização. A dúvida, segundo o banco, é quando — e em que ritmo — ele vai começar.
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