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Análise: No primeiro ato, Trump entregou exatamente o que prometeu

Em julho de 2024, Donald Trump era conclamado, de forma uníssona, na convenção republicana. EXAME estava lá, observando a energia catalisadora do agora presidente e a devoção de todo o evento à sua personalidade. Dias antes, ele havia sido vítima de um atentado que, por milímetros, não tirou sua vida. Isso tornava a convenção ainda mais pessoalista — em certos momentos, messiânica.

No palco, Trump e seus correligionários prometiam, entre muitas outras coisas, acabar com a política de imigração dos democratas, recuperar empregos e acabar com a agenda identitária Woke no país. Gritos de “Drill, baby, Drill!” (“Perfure”, em referência a incentivar a indústria de óleo e gás) eram sempre acompanhados de uma saraivada de palmas. E, quase sempre, os discursos terminavam com a frase mote do movimento Make America Great Again (MAGA): “Fight! Fight! (Lute! Lute!)”

Os primeiros 100 dias de Trump podem ser considerados o primeiro movimento de um jogo de quatro anos. Nele, a luta foi o símbolo das iniciativas.

As muitas frentes de batalha de Trump

O republicano abriu diversas frentes de batalha, na busca de entregar justamente — e exatamente — o que prometeu.

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Na economia, ele redesenha o cenário de comércio global instaurado desde os anos 1940 por meio da política tarifária — as consequências disso ainda são incertas. Na frente da imigração, demonstrou toda a força que prometeu, com batidas diárias das autoridades de imigração que já levaram a 150 mil deportações, segundo a Casa Branca.


PARA TER CONTEXTO:


Na reestruturação do governo federal, feito pelo DOGE, departamento liderado pelo bilionário Elon Musk, Trump demitiu milhares de servidores. A iniciativa, porém, já reduziu as estimativas de economias de US$ 1 trilhão para US$ 150 bilhões– e tudo indica que seu resultado final será um corte de US$ 30 a US$ 50 bilhões.

Na frente da “guerra cultural”, pilar essencial à existência de seu movimento, a gestão de Trump avançou sobre universidades, políticas de diversidade e até escritórios de advocacia. O quiproquó entre o Executivo e Judiciário americanos está contratado, com ordens desafiadas e diversos casos em andamento.

Em outras áreas, como nas guerras em curso no planeta, ele não conseguiu acabar com os conflitos, como prometido. Mas tomou medidas, à sua maneira, para mitigá-los. Apesar disso, os combates em Gaza e na Ucrânia seguem em andamento, com mortes diárias e sem perspectivas claras de resolução à vista.

Isso deixa patente que tudo que o republicano entregou estava citado em suas promessas de campanha. Seus comunicados de imprensa sempre salientam a frase “promessas feitas, promessas cumpridas”. Pode-se acusá-lo de muitas coisas. Estelionato eleitoral não é uma delas. Concorde-se ou não com os métodos.

O segundo ato

Se esses primeiros 100 dias podem ser resumidos em um primeiro ato, inicia-se agora uma nova fase, de reação. Das instituições norte-americanas, das pessoas, das empresas, de outros países — e, quem sabe, até do Congresso, que pouco o desafiou nesse período.

Até aqui, Trump agiu unilateralmente. As empresas e os mercados já sentiram o efeito de suas medidas — e mostraram um limite: o mercado de títulos da dívida pública dos EUA. Mas a população e a vida mundana ainda não foram invadidas pelo choque de oferta que as tarifas trumpianas vão gerar. Empresas, como supermercados, estão lançando mão de seus estoques para tentar manter os preços estáveis. Em algum momento, os novos produtos vindouros ficarão mais caros, um custo que será repassado parcial ou totalmente para o americano médio.

De outra ponta, a economia americana dá sinais de redução de ritmo, e o cenário de estagflação (inflação e estagnação econômica) ganha força entre analistas econômicos.

O primeiro movimento de Trump já lhe custou 7 pontos de aprovação, segundo o instituto de pesquisa Pew Research Center. Ele segue firme entre seus apoiadores: mais de 70% dos republicanos apoiam suas medidas. Mas, como lembrou o professor Mauricio Moura à EXAME, os mais afetados caso esse cenário econômico se concretize serão os seus eleitores — mais pobres e com menor nível de escolaridade —, o que indica um risco futuro à sua popularidade com a própria base.

Até isso acontecer — se acontecer—, ele pode mudar de ideia, voltar atrás, culpar o “sistema” e dizer que o plano era outro o tempo todo. Mas terá a seu favor ter entregue tudo o que prometeu ao se apresentar como candidato ao povo americano. Como na Convenção Republicana, o lema “lute!” parece mais vivo do que nunca.

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