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Tsunami no Brasil? Entenda a remota possibilidade

O vulcão Cumbre Vieja, localizado na ilha de La Palma, na Espanha, entrou em erupção pela última vez em 2021. A explosão liberou grandes quantidades de lava, além de nuvens de fumaça.

Apesar de ficar a noroeste da África, próximo da costa do Marrocos e do Saara Ocidental, este vulcão poderia ameaçar também o Brasil. Isso porque, dependendo da força da explosão, ela teria o potencial de provocar um tsunami na costa brasileiraTsunami no Brasil? Entenda a remota possibilidade29 de abril de 2025 - 13:36⁣, mas essa hipótese é muito, muito distante. E, cientificamente, um tanto rejeitada.

Por exemplo: um estudo do pesquisador estadunidense George Parara-Carayannis, presidente da Tsunami Society International, apontou que um colapso dessa magnitude é “extremamente raro e nunca ocorreu na história registrada“.

Parara-Carayannis ainda disse que as pesquisas mais recentes que preveem tsunamis originados por uma erupção do Cumbre Vieja têm base em suposições equivocadas.

“[Uma] atenção e publicidade inapropriadas da mídia a tais resultados probabilísticos têm criado ansiedade desnecessária de que megatsunamis poderiam ser iminentes e devastar populações costeiras em localidades distantes da origem – nos oceanos Atlântico e Pacífico”, continuou.

29 de abril de 2025 - 13:36
Vulcão Cumbre Vieja entrou em erupção pela última vez em 2021 (Imagem: Oscar Garcia-Dils/Shutterstock)

Possibilidade é considerada bastante remota

  • As projeções indicam que, em um cenário longínquo e catastrófico, ondas gigantes poderiam atingir toda a costa brasileira, de norte a sul.
  • Outros países banhados pelo Oceano Atlântico também seriam afetados.
  • Mas, calma, não é preciso entrar em pânico.
  • Pesquisadores explicam que seria necessário um colapso sem precedentes na história do nosso planeta para que o pior acontecesse.
  • Ou seja, esta é uma possibilidade considerada bastante remota.
  • As informações são da Agência Brasil.

Como mostrou reportagem da VEJA, uma série de pesquisas mostra que a chance de um megatsunami é quase impossível e não se sustenta em evidências científicas. A matéria cita a avaliação do Serviço Geológico dos Estados Unidos de que é “altamente improvável” um cenário do tipo. Provavelmente, levaria centenas de milhares de anos para um deslizamento de terra tão grande.

Apesar de o vulcão ter passado por erupções, nenhuma delas desencadeou um deslizamento de terra massivo — muito menos dessa magnitude. Na pior das hipóteses, uma erupção comum causaria ondas de 2 metros, semelhantes às de uma tempestade.

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Falta informação sobre como se proteger de tsunamis, alerta pesquisador brasileiro

Apesar de um tsunami no Brasil ser algo muito distante, alguns especialistas destacam que a população brasileira deveria ser conscientizada. É o que defende o geólogo Mauro Gustavo Reese Filho, da Universidade Federal do Paraná.

O pesquisador brasileiro aponta a falta de cuidados preventivos na costa do nosso país. E afirma que deveriam existir sistemas de alarme que possibilitassem a evacuação de áreas atingidas por ondas gigantes ou outros desastres relacionados.

Segundo ele, a simples possibilidade de ocorrência deste evento, mesmo que remota, deveria mobilizar as autoridades. Ele conclui destacando que a falta de informação é a principal causadora deste problema, uma vez que muitas pessoas sequer imaginam que um fenômeno dessa magnitude possa acontecer.

“Estudos mais recentes dizem que as chances de ocorrência são remotas e longínquas, no entanto, o estabelecimento de sistemas de alarme que possibilitam a evacuação de áreas é justificável quando se trata de vidas humanas”, afirmou, em estudo.

A possibilidade de ocorrência deste evento por si só deveria ser razão para a prevenção de todos os tipos de danos na costa brasileira, porém até o momento nada foi feito. A falta de informação é a principal causadora deste problema, pois inclusive no meio geológico muitas pessoas não sabem sobre tal fato.

Mauro Gustavo Reese Filho, geólogo da Universidade Federal do Paraná

O Brasil já passou por um tsunami?

Apesar de os pesquisadores apontarem que a chance de esse fenômeno chegar ao Brasil é remota, isso já aconteceu por aqui. Uma pesquisa de 2020, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), liderada pelo professor Francisco Dourado, do Centro de Pesquisas e Estudos sobre Desastres (Cepedes), diz que, em 1755, o país enfrentou um tsunami.

Só que esse não foi um fenômeno “comum”: ele teria sido causado por um forte terremoto que assolou Lisboa (Portugal) no mesmo ano. Vale lembrar que os países estão separados por um Oceano Atlântico.

Como visto na publicação acima, a Rede Sismográfica Brasileira tratou do tema no X, na qual há um vídeo do professor aposentado do Instituto de Geociências e ex-chefe do Observatório Sismológico da UnB, José Alberto Vivas Veloso, falando sobre o assunto.

As informações do estudo dão conta de que o terremoto de 1755 foi o maior que a Europa já viu, atingindo 8,7 graus na escala Richter. Lisboa foi destruída, bem como grande parte do sul de Espanha e Marrocos. Foi por conta dele que um tsunami atingiu Irlanda e Caribe.

Poucos são os registros, mas estima-se que entre 20 mil e 30 mil pessoas faleceram; contudo, outros dados dão conta de que as mortes chegaram a 100 mil. Como diz a BBC, O ocorrido deu início à era moderna nos estudos sismológicos.

O trabalho de Dourado e sua equipe baseou-se em levantamento histórico do professor Alberto Veloso, que escreveu o livro “Tremeu a Europa e o Brasil também“. Foram estudados 270 quilômetros e 22 praias localizadas entre Rio Grande do Norte e o sul de Pernambuco.

Veloso diz: “No início da tarde de 1º de novembro de 1755, um tsunami atingiu o litoral do Nordeste. Ele penetrou terra adentro, destruiu habitações modestas e desapareceu com duas pessoas. Isso é desconhecido da maioria dos brasileiros.”

Além disso, foram deixadas quatro cartas da época que relatam o fenômeno, escritas pelo arcebispo da Bahia, pelos governadores de Pernambuco e da Parayba e por um militar. Elas estão sob a guarda do Arquivo Histórico Ultramarino de Lisboa.

Onda grande reproduzida em ilustração com o sol da tarde ao fundo
Ocorrência de tsunami no Brasil dependeria de erupção de grande magnitude (Imagem: Willyam Bradberry/Shutterstock)

Uma carta de 10 de maio de 1756 retrata o acontecimento, registrado em 1 de novembro de 1755. “As águas transcenderam os seus limites e fizeram fugir os habitantes das praias.”

Outra que também aparece no estudo e foi escrita em 4 de março de 1756, diz que, “em Lucena e Tamandaré, a enchente do terremoto entrou pela terra adentro coisa de uma légua (4 a 5 km) terra adentro e levou algumas casas de palhoça e falta um rapaz e uma mulher”.

Os pesquisadores documentaram evidências de que o tsunami provocado pelo terremoto de Lisboa chegou às costas brasileiras. Análises revelaram microorganismos e elementos químicos em praias brasileiras que só poderiam ter sido transportados por grandes ondas. O estudo começou com simulações matemáticas do possível trajeto do tsunami antes de prosseguir com investigações de campo.

Na praia de Pontinhas (PB), pesquisadores identificaram camada de areia grossa contendo vestígios do fenômeno. Segundo a pesquisa da UERJ, as ondas que atingiram a praia de Lucena (PB) alcançaram entre 1,7 e 1,8 metro de altura, enquanto em Tamandaré (PE), as ondas chegaram a 1,8-1,9 metro, com volume substancial de água.

Estas ondas penetraram significativamente no continente: até quatro quilômetros em áreas próximas a rios e na região da Ilha de Itamaracá (PE), 800 metros em Tamandaré e 300 metros em Lucena.

Em publicação na Revista da USP (2018), o professor Veloso examina a classificação de ondas gigantes registradas no Brasil como possíveis “tsunamis”. Ele observa que tsunamis são raros, mas podem ocorrer em qualquer oceano ou mar, variando em tamanho e impacto.

O artigo questiona: “Já ocorreu, ou poderá acontecer, um tsunami no Brasil?” A resposta não é simples. A explicação tradicional para a ausência de tsunamis no Brasil é a raridade de terremotos submarinos de grande magnitude na região. Contudo, Veloso adverte que a falta de registros históricos não exclui a possibilidade futura, mesmo que remota, de um tsunami significativo.

“O desconhecimento de abalos significativos no passado e o não registro de sismos fortes na atualidade não asseguram situação similar para o futuro.” Veloso analisa cinco casos de “manifestações marinhas incomuns” no litoral brasileiro:

  • São Vicente (SP), em 1541;
  • Salvador, em 1666;
  • Cananeia (SP), em 1789;
  • Baía de Todos os Santos (BA), em 1919;
  • Arquipélago de São Pedro e São Paulo (PE), em 2006.

A maioria destes eventos não foi precedida por atividade sísmica ou vulcânica, descaracterizando-os como tsunamis genuínos. Os incidentes em Cananeia e na Baía de Todos os Santos tiveram origem em terremotos de baixa magnitude.

O estudo identificou um tremor que gerou ondas semelhantes a um pequeno tsunami. Embora modesto, este caso é significativo por representar a validação de um “minitsunami” brasileiro.

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