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Por que o Vaticano é a residência oficial dos papas?

Desde o século XIV, o Vaticano é reconhecido como a residência oficial dos papas, consolidando-se como o centro do poder espiritual e administrativo da Igreja Católica.

Localizado em Roma, o pequeno Estado soberano abriga não apenas o papa, mas também órgãos administrativos essenciais, como a Cúria Romana, além da icônica Basílica de São Pedro.

A escolha do Vaticano como sede do papado consolidou-se historicamente após o retorno dos papas da cidade francesa de Avignon. Antes disso, a residência pontifícia variava entre diversas cidades italianas. Estabelecer-se definitivamente no Vaticano simbolizou a centralização do comando e a afirmação da autoridade espiritual sobre a cristandade.

O local, além de estratégico, reúne arte, história e espiritualidade. Monumentos como a Capela Sistina, os Museus Vaticanos e a Praça de São Pedro reforçam a importância simbólica do território como coração da fé católica, visitado anualmente por milhões de peregrinos e turistas.

Tradicionalmente, os papas residem no Palácio Apostólico, um conjunto de edifícios dentro do Vaticano, que abriga apartamentos privados, capelas e áreas administrativas.

O papa Francisco, no entanto, optou por viver na Casa Santa Marta, uma residência menor e comunitária, situada também no Vaticano.

A decisão foi motivada por seu desejo de ter uma vida mais simples e menos isolada, já que, segundo ele próprio, morar sozinho no Palácio Apostólico não lhe faria bem. O papa definiu sua escolha como uma “decisão psiquiátrica”, reforçando sua busca constante por proximidade com outras pessoas e simplicidade no dia a dia.

Morte do Papa Francisco

Após o sepultamento do Papa Francisco realizado no sábado, 26, a Igreja Católica se prepara definir quem será o novo líder da instituição religiosa.

No momento, a igreja está em um de luto de nove dias. A votação para escolha do novo papa, chamada de Conclave, acontecerá apenas após esse período.

Durante o Conclave, os cardeais eleitores se reunirão a portas fechadas na Capela Sistina para definir o sucessor de Francisco.

Quais são os preparativos para o Conclave?

Os 135 cardeais eleitores – com menos de 80 anos – seguem para a residência de Santa Marta no Vaticano, onde permanecerão hospedados durante todo o Conclave.

Na manhã do primeiro dia, os purpurados participam de uma missa solene na basílica de São Pedro.

Durante a tarde, vestidos com o hábito coral, eles se reúnem na Capela Paulina do Palácio Apostólico e, em procissão para a Capela Sistina, pedem a ajuda do Espírito Santo.

Sob a abóbada pintada por Michelangelo, os cardeais prestam juramento com a mão sobre o Evangelho.

Segundo um ritual herdado da Idade Média, o mestre de cerimônia pronuncia a frase “extra omnes” (todos fora). As pessoas que não participam da eleição abandonam a sala e, em seguida, as portas são fechadas. O objetivo é que os cardeais evitem as influências externas.

Como vai funcionar a eleição do novo Papa? Quanto tempo deve durar?

Por sorteio, três cardeais são designados “escrutinadores”, outros três “infirmarii” (encarregados de recolher o voto dos purpurados doentes) e três mais como revisores para verificar a contagem.

Sentados juntos, os cardeais recebem cédulas retangulares com a frase “Eligo in Summum Pontificem” (“Elejo como Sumo Pontífice”) na parte superior, com um espaço em branco abaixo.

Os eleitores escrevem o nome de seu candidato à mão, “com caligrafia o mais irreconhecível possível”, e dobram a cédula. Em tese, é proibido votar no próprio nome.

Cada cardeal se dirige por turnos ao altar, segurando sua cédula no ar para que seja bem visível e pronuncia em voz alta o seguinte juramento em latim: “Ponho por testemunha a Cristo Senhor, que me julgará, de que dou meu voto a quem, na presença de Deus, acredito que deve ser eleito”.

Deposita sua cédula em um prato e a desliza na urna diante dos escrutinadores, faz uma reverência diante do altar e volta para sua cadeira.

Os cardeais cujo estado de saúde ou idade avançada os impede de se aproximar do altar entregam seu voto a um escrutinador, que o deposita na urna em seu lugar.

Uma vez recolhidas todas as cédulas, um escrutinador agita a urna para misturá-las, transfere as cédulas para um segundo recipiente e outro cardeal as conta.

Dois escrutinadores anotam os nomes, enquanto um terceiro os lê em voz alta e perfura as cédulas com uma agulha no ponto em que está a palavra “Eligo”. Os revisores comprovam em seguida que não foram cometidos erros.

Quantos votos são necessários para a escolha do novo papa?

Para ser eleito papa, o nome precisa ter dois terços dos votos, que são secretos e queimados após a contagem. Caso o próximo Conclave reúna 135 cardeias, serão necessários ao menos 90 votos.

Se nenhum cardeal conquistar dois terços dos votos, os eleitores procedem a uma nova votação. Exceto no primeiro dia, são previstas duas votações pela manhã e duas pela tarde até a proclamação de um papa.

As cédulas e as anotações feitas pelos cardeais são queimadas em um fogão a cada duas rodadas de votação. A chaminé, visível pelos fiéis na praça de São Pedro, expele fumaça preta se nenhum papa for eleito e fumaça branca em caso de eleição do novo pontífice.

Após três dias sem definir um pontífice, a votação é suspensa para um dia de oração.

Quando tempo pode durar o Conclave?

No histórico recente, nas eleições de Francisco, em 2013, e Bento XVI, em 2005, as votações foram resolvidas em apenas dois dias. 

Para o Conclave deste ano, o Vaticano prorrogou até 31 de maio as credenciais temporárias de jornalistas que cobrem a Santa Fé. O calendário de imprensa também indica como período de funeral e Conclave as datas entre 21 de abril e 11 de maio. 

Como será o anúncio do novo papa?

O cardeal eleito deverá responder a duas perguntas do decano: “Aceita sua eleição canônica para Sumo Pontífice?” e “Como deseja ser chamado?”. Caso responda sim à primeira, torna-se papa e bispo de Roma.

Um por um, os cardeais expressam um gesto de respeito e obediência ao novo papa, antes do anúncio aos fiéis.

Da varanda da basílica de São Pedro, o cardeal protodiácono anuncia “Habemus papam”. Em seguida, o novo pontífice aparece e pronuncia a bênção “urbi et orbi” (À cidade e ao mundo).

Quem serão os brasileiros no Conclave?

  • Sérgio da Rocha, Primaz do Brasil e arcebispo de Salvador, 65 anos.
  • Jaime Spengler, presidente da CNBB e arcebispo de Porto Alegre, 64 anos.
  • Odilo Scherer, arcebispo de São Paulo, 75 anos.
  • Orani Tempesta, arcebispo do Rio de Janeiro, 74 anos.
  • Paulo Cezar Costa, arcebispo de Brasília, 57 anos.
  • João Braz de Aviz, arcebispo emérito de Brasília, 77 anos.
  • Leonardo Ulrich Steiner, arcebispo de Manaus, 74 anos.

Quais são os locais chaves do Conclave

  • BASÍLICA DE SÃO PEDRO:

Sob as molduras douradas e os mármores preciosos desta basílica, os cardeais se reúnem para celebrar a missa que inicia o processo de eleição do papa. Após a cerimônia, os cardeais eleitores seguem em procissão até a Capela Sistina, cantando o “Veni Creator”.

Na Basílica de São Pedro também termina oficialmente o Conclave, com a proclamação do novo papa (“Habemus papam!”).

Esta é a maior igreja do mundo, com uma área de 2,3 hectares, obra de arquitetos como Bramante, Michelangelo e Bernini, construída entre 1506 e 1626.

  • CAPELA SISTINA:

Construída entre 1477 e 1480, a Capela Sistina fica à direita da Basílica de São Pedro, dentro do complexo do Palácio Apostólico. Foi erguida a pedido do papa Sisto IV e teria as mesmas medidas (40,5 metros de comprimento, 13,2 m de largura e 20,7 m de altura) que o lendário templo do rei Salomão.

O local é conhecido por seus afrescos, obras de Perugino, Botticelli e seus alunos, e, sobretudo, por sua abóbada, realizada por Michelangelo, que pintou também o célebre ‘Juízo Final’ na parede em frente à entrada, logo atrás do altar.

Durante o conclave, os cardeais se sentam em cadeiras de madeira de cerejeira com seu nome gravado, com mesas cobertas com toalhas bege e granate à frente. Ao fundo, fica a urna com a tampa adornada com duas figuras que representam cordeiros, na qual as cédulas com os votos são depositados.

No centro, há um púlpito com um Evangelho aberto, diante do qual os cardeais juram manter segredo sobre tudo que é falado no conclave.

A capela tem dois fogões conectados à mesma chaminé, de onde sai a única indicação do que ocorre em seu interior.

Em um fogão, o mais antigo, são queimadas as cédulas de votação e as anotações dos cardeais. O outro, mais moderno, serve para anunciar o resultado da votação. Deste último, com a ajuda de produtos químicos, sai fumaça preta (se os cardeais não chegam a um acordo) ou branca, quando um novo papa é eleito.

  • SALA DAS LÁGRIMAS:

No fundo da Capela Sistina há uma porta que dá acesso a um pequeno cômodo de nove metros quadrados, permanentemente fechado ao público. É a chamada “Sala das Lágrimas”, onde cada novo papa, após ser eleito, entra na companhia do cardeal camerlengo (responsável por administrar o Vaticano durante a transição entre dois papados) e do mestre de cerimônias litúrgicas para, segundo a tradição, chorar diante da magnitude da tarefa que o aguarda e vestir sua primeira batina branca, com a qual será apresentado ao mundo.

  • CAPELA PAULINA:

Após ser eleito, e antes de entrar na ‘loggia’ de São Pedro para sua primeira aparição pública, o novo papa reza uma breve oração, pessoal e em silêncio, diante do Santo Sacramento. Construída em 1537 pelo arquiteto Antonio da Sangallo, o Jovem, a pedido do papa Paulo III, esta capela fica próxima da Capela Sistina e da Basílica de São Pedro.

  • RESIDÊNCIA DE SANTA MARTA:

Os cardeais eleitores se hospedam na residência de Santa Marta, construída durante o pontificado de João Paulo II, logo atrás da basílica. Antes, os cardeais ficavam em quartos improvisados e desconfortáveis do Palácio Apostólico. Nesta residência, que também inclui uma capela, cada cardeal possui um quarto e serviços próprios de um estabelecimento hoteleiro (refeições e lavanderia).

A cada manhã, os cardeais deixam a residência e seguem a pé ou de micro-ônibus até a Capela Sistina, a 500 metros de distância.

Em geral, os dormitórios possuem uma cama individual com um crucifixo acima da cabeceira. Muitos são suítes com um quarto anexo, equipado com uma escrivaninha e um telefone conectado apenas à rede interna. Nem todos os quartos possuem o mesmo nível de conforto e são distribuídos por sorteio.

Qual é a principal regra do Conclave?

Uma regra permanece imutável durante o Conclave: a partir do momento em que começa, os cardeais juram manter tudo o que ocorre em segredo, sob pena de excomunhão. Qualquer contato com o exterior, seja por meio de telefones, internet ou jornais, é estritamente proibido, exceto em casos muito excepcionais.

Todos os locais onde os cardeais vivem e trabalham estão cobertos por dispositivos de interferência que impedem o uso de telefones e tablets. Além disso, enquanto os cardeais caminham da residência de Santa Marta até a Capela Sistina, o tráfego de veículos e pedestres é interrompido para evitar qualquer contato.

Todos os funcionários que trabalham em áreas do Conclave, como motoristas, cozinheiros, recepcionistas, faxineiros, enfermeiros ou médicos, também prometem guardar silêncio, em uma cerimônia solene.

O que faz um Papa?

A palavra “papa” vem do grego “pappas”, que significa “pai, patriarca”, e é por isso que os fiéis o chamam de “Santo Padre”.

Considerado o sucessor de São Pedro, a quem Cristo confiou a liderança da Igreja, o papa é o guia espiritual de mais de 1,4 bilhão de católicos no mundo todo.

Seu papel é preservar e ensinar a fé cristã, interpretar o Evangelho e garantir a unidade da Igreja.

Chefe de Estado

O papa tem status de chefe de Estado e governa a Cidade do Vaticano, um Estado independente localizado em Roma e que também é o menor país do mundo, com 44 hectares.

Como chefe de Estado, exerce poderes absolutos (Executivo, Legislativo, Judiciário).

Também recebe chefes de Estado e de governo no Vaticano. Nessas reuniões a portas fechadas, conhecidas como “audiências privadas”, são discutidas questões atuais ou são informadas as posições da Santa Sé, uma entidade soberana perante o direito internacional.

Doutrina e ensino

O papa elabora documentos (encíclicas, exortações apostólicas, motu proprio, etc.) sobre questões doutrinárias e morais para orientar os fiéis, direcioná-los ou informar sobre reformas.

Em seus doze anos como pontífice, o papa Francisco abriu caminho para a bênção de casais do mesmo sexo, restringiu o uso de missas em latim e tomou medidas contra agressões sexuais…

Também tem uma missão de ensino, através de seus discursos. Além de suas homilias nas missas, nas manhãs de todas as quartas-feiras fazem uma catequese pública aos fiéis no Vaticano durante a audiência geral semanal.

Nomeações

O papa aprova a nomeação de bispos, que ficam à frente de dioceses de todo o mundo (atualmente, são cerca de 3.000).

Também nomeia cardeais. Destes, os menores de 80 anos são chamados a eleger seu sucessor.

Ele também tem a palavra final na elevação de figuras de destaque da Igreja Católica à categoria de “beatos” ou “santos”, após um “processo” baseado em milagres e virtudes.

Também tem o poder de convocar sínodos (reunião mundial entre laicos e religiosos) para discutir questões específicas.

Viajar

O papa viaja para se conectar com fiéis de todo o mundo. Respondendo a convites de chefes de Estado, faz visitas oficiais, chamadas “apostólicas”.

O papa que mais viajou foi João Paulo II, com 104 visitas ao exterior em seus 26 anos de pontificado, seguido por Francisco, com 47 viagens.

Esses deslocamentos dão a oportunidade de renovar seus apelos pela paz, pelo diálogo inter-religioso, pelo respeito aos direitos humanos e pela justiça social; declarações que servem como uma posição moral e são amplamente disseminadas pelo mundo.

Bispo de Roma

Como bispo de Roma, o papa deve administrar sua diocese. Entretanto, devido a outras obrigações, essa tarefa cabe geralmente a um vigário geral.

No entanto, o papa participa da vida da Igreja local, visitando paróquias na capital italiana para celebrações ou outros locais simbólicos na cidade a cada ano, como a Via Sacra no Coliseu na Sexta-feira Santa ou a Solenidade da Imaculada Conceição perto da Praça da Espanha em 8 de dezembro.

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