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Dia da Terra: Brasil fica mais consciente sobre clima; no exterior, ceticismo sobre ações cresce

O Dia da Terra, celebrado nesta terça-feira, 22 de abril, busca conscientizar e mobilizar a população sobre a proteção dos recursos naturais. No entanto, apesar de ser um marco importante na luta pela preservação do meio ambiente, o cenário global mostra que ainda há muito trabalho a ser feito para transformar a conscientização em ação. A pesquisa “People and Climate Change”, realizada pela consultoria de mercado Ipsos, revela dados que apontam uma diferença entre as intenções das empresas e a percepção dos consumidores.

No Brasil, apenas 26% dos entrevistados confiam nas promessas ambientais feitas pelas marcas. Esse número está ligeiramente acima da média global, que é de 22%, mas ainda assim reflete uma desconfiança significativa. Tania Cerqueira, líder de ESG da Ipsos, aponta que esse ceticismo se deve em parte à falta de benefícios tangíveis e imediatos das ações sustentáveis.

Segundo ela, os co-benefícios — aqueles que são coletivos e de longo prazo, como o impacto positivo na biodiversidade ou a mitigação das emissões de carbono — não são atrativos para o consumidor, que geralmente busca resultados imediatos e individuais, como o sabor de um produto ou sua eficiência. “É importante lembrar que antes de ser sustentável, uma bebida precisa ser gostosa, e um produto de limpeza precisa ser eficiente,” explica Cerqueira.

Além disso, a falta de clareza nas ações das empresas também contribui para o ceticismo, pois muitas marcas não comunicam o que estão fazendo ou não oferecem informações concretas sobre suas práticas sustentáveis.

Crise da água

A conscientização climática no Brasil é alta, mas a conversão dessa preocupação em ação ainda enfrenta barreiras significativas. A pesquisa revela que mais de 70% dos brasileiros acreditam que os últimos dez anos foram os mais quentes já registrados, índice superior à média global de 61%.

No entanto, a experiência com o clima mais quente não se traduz necessariamente em ação climática, como observa Cerqueira. “Embora as pessoas estejam cientes do problema, fatores urgentes como inflação, violência e desemprego acabam ofuscando a crise climática,” explica ela.

Embora a percepção sobre a crise hídrica também seja preocupante, com 13% dos brasileiros acreditando que 70% da população mundial enfrentou escassez de água no último ano, a falta de um plano de ação claro também afeta a confiança nas políticas públicas.

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Tania Cerqueira observa que, apesar do aumento da preocupação com a crise, as ações do governo ainda são percebidas como insuficientes. “Eventos como a COP podem ser uma oportunidade para retomar a discussão sobre o tema e comunicar suas ações,” acrescenta a especialista, destacando que, apesar de 75% dos brasileiros acreditarem que o governo deveria fazer mais, a falta de iniciativas concretas e de comunicação clara ainda é um grande desafio.

O Brasil também enfrenta sérios desafios quando o assunto é a reciclagem do lixo eletrônico, com apenas 7% dos brasileiros acreditando que a maior parte desse lixo é tratado de forma sustentável. A percepção aponta para os desafios notáveis da infraestrutura de reciclagem, que ainda caminha no país. “A logística reversa ainda não está plenamente implementada em todo o país, e a falta de pontos de coleta é um problema, especialmente nas regiões menos urbanizadas,” afirma Cerqueira.

A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) já prevê a responsabilidade dos fabricantes, mas ainda há uma falta de clareza sobre as responsabilidades de cada ator no processo. A conscientização sobre o descarte adequado também é baixa, com muitos brasileiros ainda desconhecendo os danos ambientais e à saúde causados pelo lixo eletrônico.

Transparência na sustentabilidade

Embora os brasileiros esperem que as empresas (71%) e o governo (75%) desempenhem papéis cruciais na luta contra as mudanças climáticas, a falta de transparência nas ações empresariais e na comunicação sobre as políticas públicas mina essa confiança.

“As empresas precisam ser mais transparentes e educar os consumidores sobre o impacto de suas ações,” afirma Cerqueira, mencionando exemplos como a Natura, com seu pilar de regeneração, e a Vivo, que recentemente assumiu compromissos públicos com a sustentabilidade.

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Os recentes eventos climáticos extremos, como as inundações no Sul do Brasil e as ondas de calor, estão fazendo com que a população reconheça o impacto direto da mudança do clima. “Os efeitos estão cada vez mais tangíveis, e as pessoas estão começando a perceber que isso afeta diretamente suas vidas,” observa Cerqueira.

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